Recentemente, lançamos um Scicast sobre Construção Civil, falando de diversas frentes, inclusive de planejamento e projetos. Mas quão difícil é controlar obras pequenas e médias? Como fazer para levantar dados?
Uma das características muito típicas de construtoras de pequeno e médio porte é uma coleta precária de dados. No máximo fazem alguns controles de qualidade do concreto e talvez alguma noção de produtividade para programar quando cada laje será terminada. Muito fica a critério de “achismos” e também da experiência do mestre de obras.
Tenho vivido essa realidade e, admito, me frustrado em algumas tentativas de mudar a forma de fazer tudo isso. Construtoras maiores já tem a cultura de coleta de informações e controles, assim como uma maior cultura de segurança do trabalho.
Depois de quase 3 anos, tentando melhorar e batendo cabeça, finalmente comecei a ver alguns frutos. E quero trazer para vocês.
O que uma grande construtora faz de diferente das menores para conseguir coletar e analisar dados com mais eficiência? Como elas lidam com os acontecimentos do dia a dia? É possível reduzir a escala para viabilizar isso em obras menores?
Essas são as três perguntas que irei comentar, uma vez que não é uma resposta definitiva ainda, mas, talvez, uma pequena luz no final do túnel. Vamos lá:
1- Coleta e análise de dados.
A coleta de dados deve ser entendida como uma das prioridades da empresa. É muito importante, como engenheiros, passar para a diretoria a importância e relevância deles, pedindo que sejam exigidos em contrato dos empreiteiros e também dos líderes de equipes.
Algo que ajuda muito é trazer para perto esses líderes. Me ajudou muito quando me dei conta que, assim como eu, eles também precisam fazer medições para seus patrões. Por exemplo, um encarregado de alvenaria precisa todos os meses ver quantos m² de parede foram levantados e por quem, para que o empreiteiro possa pagar corretamente os seus funcionários.
Sentando com esse líder, questionei algumas coisas como a maneira de fazer essas medições, a frequência como eram feitas e, principalmente, o formato. Sem fazer alardes, pedi para fazer algumas mudanças nesses levantamentos, todas simples de implementar, e mostrei como isso iria ajudar ele a fazer as suas medições enquanto eu mesmo conseguia um pequeno banco de dados, dando em troca um arquivo digital para ele das anotações (feitas, em geral, em cadernos). Em pouco tempo, ele percebeu um ganho de agilidade e ficou feliz.
Passados dois meses, fiz outra proposta, de montar um check-list para ele preencher na medição. Imprimiria para ele os meses, reduzindo a quantidade escrita e já aproveitando para anexar alguns gráficos dos meses anteriores. Foi uma alegria sem fim para ele e eu dei mais um passo em direção à aumentar a qualidade dos dados que recebia. Essa mesma ideia foi implementada com sucesso nos times de armação e também de carpintaria, em menor ou maior escala. Começando a plantar a sementinha do que realmente faz diferença nas construtoras maiores, o uso rígido de PROCEDIMENTOS!
E o que fazer com esses dados? São poucos, não? Claro que são, mas aí que entra a segunda importante lição que aprendi. Um gráfico de 3 pontos é infinitamente melhor que gráfico nenhum! Com 3 pontos, já consigo ter uma ideia de o que esperar do quarto ponto no mês seguinte e assim por diante. Fora que, mesmo sendo poucos, os custos também são informações reais e atualizadas (afinal pagamos os empreiteiros mês a mês), podendo virar informações úteis para a diretoria e para o financeiro da empresa.
Enviar para os donos um painel, por mais simples que seja, com alguns indicadores é exatamente a porta de entrada que precisamos para pedir, eventualmente. um estagiário ou técnico que auxilie nas coletas de dados, iniciando um ciclo virtuoso de coleta de informações!
2- Acontecimentos do dia a dia
Essa é bem fácil de resolver. Sempre que acontece algo diferente, seja um incidente ou a criação de uma boa alternativa de procedimento, grande ou pequeno, as empresas maiores REGISTRAM. Assim evitam de perder uma boa ideia ou de repetir uma falha, na mesma ou numa obra diferente.
Esse compilado muitas vezes é chamado de “Lições aprendidas” e, ao ser alimentado, pode virar um poderosíssimo compilado de informações para ser analisado.
Sua implantação é simples. Por lei, somos obrigados a manter um diário de obras, com tudo que foi feito naquele dia, inclusive colocando as coisas que deveriam ser entendidas como lições aprendidas. Não custa nada, em tempo ou dinheiro, ao se fazer esse registro, colocar algumas tags que ajudem a filtrar tudo depois. Tags de exemplo: Não Repetir, Acidente, Ideia, Motivação de Equipe, Economia de Material, etc…
Ou, por que não, já colocar uma sessão separada para isso no próprio diário? Em um mês, já terão nas mãos 30 entradas para ver a quantidade de lições aprendidas, boas e ruins, para apresentar.
3- Reduzindo a escala
Acredito que, após as considerações dos dois pontos anteriores, fique óbvia a possibilidade de implantar em escalas reduzidas, procedimentos, coletas e análises de dados!
Além disso, basta sempre mostrar o valor dessas informações e deixar claro que estão longe de ser “dedos duros” do andamento das atividades diárias na obra. Principalmente se forem associados com reconhecimentos de esforços e de ideias, mesmo sem ser em dinheiro, comprar um bolo para a equipe ou até um pack de cerveja numa sexta-feira já mostrará que não estamos ali para, apenas, criticar, mas também perceber tudo que está sendo feito de bom!
E vocês, nos seus ambientes de trabalho, como coletam informações e como utilizam esses dados?
Nota da Editora:
Aproveito para lembrar a todos da #desafioredatoresdeviante, pelo twitter ou pelo e-mail [email protected], para enviar perguntas para os redatores do Portal responderem!