Salve, salve gente amiga das Ciências!
O mordaz Stars and Stripes, periódico publicado pelos G.I. americanos da linha de frente durante a Segunda Grande Guerra, em uma de suas edições de abril de 1945, dava mostras do que significaria, para a História do Brasil, a participação da Força Expedicionária Brasileira – FEB – na maior das conflagrações: “assim como o combate transformou a FEB, a FEB provocou grandes mudanças no Brasil”.
Vale ressaltar que o Stars and Stripes surgiu no contexto da Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-65) como um simples panfleto informativo para as tropas da União, e que, ao longo do século XX, tornou-se o principal periódico nos fronts militares americanos ao redor do planeta.
Voltando os olhos para o nosso lado do Atlântico, em meados de 1945, o presidente Vargas abolira a censura interna, restaurara muitos direitos democráticos e anunciara a primeira eleição presidencial livre desde 1930 (não por livre e espontânea vontade, evidentemente).
O jornal, alheio à “boa vizinhança política”, destacava ainda que os brasileiros “achavam estranho que a FEB lutasse pela democracia fora, quando não existia uma democracia no país”. E ainda vaticinava: “o ‘pracinha’ encolhido em fox holes nas montanhas da Itália pode bem ter conseguido a sua maior vitória no Brasil”.
A partida da FEB para o Teatro de Operações na Itália fez a temperatura política subir em solo pátrio. Os oposicionistas ao Estado Novo procuravam utilizar a imagem da “luta pela liberdade” em prol de suas críticas, escancarando a contradição.
Quando o “caminho para a vitória” já estava delineado, as pressões para o fim do regime ditatorial tornaram-se insustentáveis. O retorno da FEB foi “o canto do cisne” da Era Vargas (ao menos de seu primeiro ciclo).
Todavia, o tratamento dispensado aos verdadeiros protagonistas do drama da guerra – os pracinhas brasileiros –, tanto por parte de getulistas como de oposicionistas, rapidamente transmutou-se em total desvalorização – contrariando as projeções políticas hemisféricas dos EUA, que pretendiam tornar a FEB uma unidade modelo para instrução e reorganização do Exército Brasileiro.
Em pouquíssimo tempo, a dedicação ao serviço da Pátria, para muitos com o sacrifício da própria vida, foi providencialmente “esquecida”.
Nos dizeres do professor Francisco Ferraz, “se a participação brasileira no conflito é caracterizada pelo esquecimento generalizado, o que aconteceu com os expedicionários, depois que retornaram ao país, sempre foi, com raríssimas exceções, completamente ignorado”.
Vale a pena lembrar: A FEB, à semelhança dos demais Exércitos aliados que lutaram na Itália, dispusera também dos seus jornais próprios. Um deles era o Zé Carioca, um pequeno boletim mimeografado em Florença e que trazia, muito resumidamente, as notícias do mundo apanhadas pelo rádio. Sua edição número 1 foi publicada em 24 de outubro de 1944, e seu redator-chefe era o cabo José Cesar de Andrade Borba, do QG da Artilharia Divisionária. Editado e publicado duas vezes por semana, esses boletins corriam toda a frente da FEB.
Sugestão de leitura:
COELHO, Marcos M. R. [org.]. Jornal “Zé Carioca”: a FEB na II Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2022.
FERRAZ, Francisco C. A. A guerra que não acabou: a reintegração social dos veteranos da Força Expedicionária Brasileira (1945-2000). Londrina: Eduel, 2012.
MAXIMIANO, César C. Onde estão nossos heróis? São Paulo: Ed. do Autor, 1995.
MOTTA, Arilcides de M. [org.] História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001. t. 5.
ROSTY, Claudio S. As vitórias da FEB: do vale do rio Serchio ao vale do rio Pó. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2022.
STAR AND STRIPES, 1942-1945. Disponível em https://archive.org/details/pub_stars-and-stripes
ZUMWALT, Ken. The Star and Stripes: World War II and the Early Years. Eakin Press, 1989.