“A arte da guerra é como a medicina: vive causando vítimas”. (VOLTAIRE)

Salve, salve gente amiga das Ciências!

Diferenças religiosas tornaram o século XVI uma grande panela de pressão sem válvula. No século XVII, o inevitável aconteceu: uma guerra que envolveu quase todas as principais nações da Europa, a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).

Essa que é considerada uma das mais trágicas passagens da história europeia começou como uma pantomima, quando nobres protestantes da Boêmia jogaram por uma janela, sobre um monte de esterco, dois funcionários acusados de violar os direitos dos protestantes. O problema é que tais funcionários agiam em nome do Sacro Império Romano (que de “Sacro”, de “Império” e de “Romano” não tinha nada) e da Igreja Católica. O episódio ficou conhecido como a “Defenestração da Praga”.

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No início, a guerra se restringiu ao que viria a ser a Tchecoslováquia católica e à Boêmia protestante. Entretanto, passados 12 anos, um novo exército entrou no conflito vindo do norte. Palco montado e formado para a…

 

BATALHA DE BREITENFELD (setembro de 1631)

Deflagrada por questões religiosas, a Guerra dos Trinta Anos transformou-se numa luta pelo poder político e por vantagens estratégicas. Com o tempo, tornou-se um sangrento laboratório de vida ou morte, no qual foi aos poucos criada uma nova arte da guerra. Isso ficou evidente em Breitenfeld, onde em 1631 as forças suecas ofereceram ao mundo uma amostra do que estava por vir.

Deflagrada por questões religiosas, a Guerra dos Trinta Anos transformou-se numa luta pelo poder político e por vantagens estratégicas. Com o tempo, tornou-se um sangrento laboratório de vida ou morte, no qual foi aos poucos criada uma nova arte da guerra. Isso ficou evidente em Breitenfeld, onde em 1631 as forças suecas ofereceram ao mundo uma amostra do que estava por vir.

Em 1630, a vantagem em uma guerra que já se estendia por mais de uma década parecia pender para as potências católicas. A entrada do rei sueco Gustavo Adolfo no lado protestante despertava pouca preocupação, pois Albrecht Wallenstein, duque de Friedland, se mostrava imbatível a serviço de Fernando II, o sacro imperador romano germânico. No entanto, o próprio imperador, alarmado com o poder crescente de Wallenstein, o substituiu por outro grande comandante: o conde de Tilly, conhecido como o Monge em Armadura”.

Não, não era este Monge de Ferro…  :)  #hq

Gustavo desembarcou na Pomerânia com um exército que aprendera muito com os combates anteriores. Sua infantaria estava organizada em brigadas, de 1200 a 1500 combatentes, que aliavam forte coesão com flexibilidade tática. Poderosos defensivamente, os infantes poderiam distribuir-se com rapidez em linhas de seis fileiras de profundidade para maximizar o impacto dos mosquetes.

As grandes e profundas formações de infantaria dos inimigos de Gustavo tornavam violento o assalto às forças adversárias, mas ofereciam poucas opções táticas a um comandante, operando como “fortalezas” isoladas no campo de batalha.

Borguinhota alemã Este elmo era leve, apesar do interior reforçado. A coroa em crista desviava golpes inimigos

Borguinhota alemã
Este elmo era leve, apesar do interior reforçado. A coroa em crista desviava golpes inimigos.

Em contraste, as brigadas de Gustavo podiam ser divididas em “esquadrões” de 400 a 500 homens, capazes de fazer melhor uso de seus mosquetes em unidades com apenas seis fileiras de fundo. Isso sem sacrificar a capacidade de se reagruparem em brigadas completas de piques eriçados, que podiam oferecer uma defesa tão forte quanto a de seus adversários. Acima de tudo, as brigadas se distribuíam com menor densidade: elas podiam conter a frente inimiga com apenas uma fração de suas unidades, deixando brigadas adicionais para formar uma segunda e uma terceira linhas no campo de batalha. Foi essa flexibilidade tática que deu a Gustavo a vitória contra Tilly, uma vitória que estava longe de ser assegurada no início dos combates.

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Tilly avançou pela Saxônia, onde Gustavo havia se unido ao exército do soberano da região. As forças opostas encontraram-se em terreno aberto em Breitenfeld (nos arredores de Leipzig, Alemanha). A carga inicial das tropas de Tilly arrasou os corpos do exército saxão do lado esquerdo e ameaçou envolver os suecos pelo flanco. A rapidez, perícia e determinação com que a segunda linha manobrou para expulsar as forças católicas transformaram um desastre aparentemente inevitável numa vitória esmagadora. O exército de Tilly resistiu com bravura, mas a máquina de guerra de Gustavo não podia ser detida.

Vale a pena lembrar: a espinha dorsal de um exército durante a Guerra dos Trinta Anos era um bloco compacto de mosqueteiros e piqueiros. Os piqueiros usavam compridas lanças para manter o inimigo a uma distância segura, enquanto os mosqueteiros os fuzilavam. Para romper um bloqueio da Infantaria, esquadrões de cavaleiros em armaduras de aço avançavam disparando com garruchas contra os infantes, e depois faziam meia-volta e se afastavam trotando para recarregar as armas. Esses assaltos tediosos eram repetidos diversas vezes, geralmente sem causar grande impacto. Na época, a artilharia era constituída de peças grandes e difíceis de manejar, e as guarnições dos canhões podiam ainda estar chegando ao campo de batalha e aprestando suas armas quando o combate já terminara. Gustavo Adolfo mudou tudo isso. Ele reduziu o tamanho dos canhões de campanha e tornou-os leves o bastante para serem transportados com maior rapidez na batalha, e romper os grandes e compactos blocos de Infantaria. Também treinou sua cavalaria a atacar a galope com lanças e sabres; estendeu sua Infantaria em uma linha, em vez de um bloco compacto, tornando-a menos vulnerável ao bombardeio de canhões, além de usar os piqueiros de forma ofensiva. A Batalha de Breitenfeld foi a primeira vitória dessas novas formações táticas, que dominariam o campo de batalha pelos dois séculos seguintes.

Decisive Battles: Where King Charles Lost His Crown. Original artwork from Look and Learn no. 756 (10 July 1976).

Sugestão de leitura:

  • MAGNOLI, Demetrio (org). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2011.

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  • WHITE, Mattew. O Grande Livro das Coisas Horríveis: a crônica definitiva das 100 piores atrocidades. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.

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