Joseph Polchinski, físico teórico americano, faleceu no dia 02 de fevereiro de 2018 vítima de um tumor cerebral. A carta oficial pode ser lida aqui. Nesse breve texto gostaria de falar um pouco sobre sua importância como cientista.
Polchinski trabalhou em diversos problemas diferentes da física: do grupo de renormalização, no começo da sua carreira (e talvez seu primeiro grande resultado), até o paradoxo de perda de informação em buracos negros. Nesse último problema, Polchinski e colaboradores propuseram que, no horizonte de buracos negros, o princípio da equivalência de Einstein seria quebrado, veja referência 2 abaixo. Muitos físicos (eu inclusive) acham que essa solução não está correta, mas, mesmo nesse caso, essa proposta mostra a sua criatividade e coragem como cientista.
Sua maior contribuição veio em 1995, quando ele explicou como D-branas são fundamentais para a teoria de cordas. Em resumo, as equações de movimento que descrevem cordas abertas permitem que suas pontas estejam presas em algumas superfícies chamadas branas (uma brincadeira com a palavra membrana, que seria uma brana em duas dimensões). Branas, por outro lado, eram injustificadas e não naturais dentro da teoria, até que em 1995 Polchinski explicou como esses objetos poderiam ser entendidos de modo consistente do ponto de vista físico.
Os insights do Polchinski nessa área ajudaram a pavimentar o trabalho de 1998 do Juan Maldacena: The Large N limit of superconformal field theories and supergravity que é, essencialmente, o artigo que fundou uma das área mais ativas hoje na física: A correspondência AdS/CFT, veja referencia 3 abaixo para uma explicação pelo próprio Maldacena. Falei brevemente sobre isso nesse texto. O paper do Maldacena é o artigo da física mais citado de todos os tempos (Nessa lista de 2014, o artigo do Maldacena aparece em segundo lugar, atrás apenas de um”manual”: O Review of Particle Physics).
Ele é um dos meus heróis intelectuais, e quase tudo que aprendi sobre teoria de cordas foi com o “Joe’s Big Book of Strings”, cujo título chato (como o mesmo disse) oficial é: “String Theory”. Esse é um livro em dois volumes e, em essência, é o livro básico para qualquer físico que começou a trabalhar com esses assuntos depois dos anos 2000. As críticas desse livro na Amazon são em geral positivas, e, em particular, eu gosto do seguinte comentário do David McMahon (que também tem um livro elementar sobre o assunto):
“This is an exceptionally well written book of the highest quality. In many ways, it definitely accomplishes what it sets out to do – give graduate level students and professional physicists an advanced string theory book that can prepare them for research. This book is not one that is going to hold your hand. Nonetheless, it is very well written and has a clear and well organized exposition.”
Tive o privilégio de assistir algumas aulas suas em Dezembro de 2010, no antigo prédio do IFT-UNESP, mas na época estava no primeiro ano de mestrado e não entendi bulhufas.
Em 2012 quando comecei a estudar o assunto mais seriamente segui o Joe’s Big Book of Strings, e, desde então, esse é o meu livro favorito e o mais importante na minha estante.
Em agosto de 2017, Joe submeteu ao arXiv suas memórias, em que ele escreveu (O título dessa seção é: “Well, that sucks”):
I was found to have brain cancer. After many months of surgery, treatment, and recovery, I can write, as you see, but I still do not know whether I will be able to do physics again.
Infelizmente ele não fez física novamente. Joe Polchinski, um grande físico e um grande professor. Toda uma geração de físicos foi, e está sendo, educada com seus dois livrinhos.
Referências