Confraternizações da firma, amigo secreto, festas de família, até que ele chega: o réveillon! O ano novo é um momento de simbolismo para muitas pessoas, que aproveitam a mudança do calendário para impulsionar suas vidas, sonhos e todos aqueles planos que ficaram guardados durante o ano anterior.

Mas esse também pode ser um momento de muita angústia, principalmente para pessoas que não são (ou não se sentem) acolhidas nos ambientes que participam, e no final de ano são compelidas a festejarem e compartilharem mensagens positivas entre si. Imaginem estar em um ambiente onde não se sente amado e acolhido, com pessoas que você não gosta e tentando mostrar que está tudo bem, quando na verdade sua única vontade é sair correndo… Meio sufocante, não é?

No meio desse clima de encerramento de ciclos, festas e tentativas (muitas vezes frustradas) de socialização, a gente ainda ouve a música da Simone perguntando “E o que você fez? ” Aí bate aquele desespero/tristeza por ver tudo que você deixou de fazer, principalmente quando olha ao redor e todo mundo parece tão bem sucedido…

Que bad vibes, não é? Parece sempre que a grama do vizinho é mais verde, certo? Errado! E a campanha do Janeiro Branco vem justamente para nos mostrar que todo mundo tem seus sofrimentos, dramas e problemas, mas é de fundamental importância cuidar da Saúde Mental

A iniciativa surgiu em 2014, por iniciativa do psicólogo Leonardo Abrahão, inspirado na campanha do Outubro Rosa. De acordo com ele, a ideia de incentivar uma cultura da Saúde Mental foi facilitada pelo simbolismo do ano novo, chamando a atenção da sociedade para o cuidado com a saúde mental e seus desdobramentos (saúde emocional, relacional, existencial, etc).

A cor branca foi escolhida por representar a possibilidade de qualquer cor existir, como um papel em branco abre espaço para qualquer criação. De acordo com Leonardo Abrahão,

“O Branco possibilita inícios e (re)inícios, partidas e convites à criatividade. Além disso, a cor branca é a somatória de todas as outras cores, ou, como podemos imaginar, a somatória de todos os projetos e todas as experiências a partir das quais todo sujeito pode partir para escrever a sua própria história.”

De acordo com a OMS, a saúde é entendida para além da ausência de doenças. De modo parecido, precisamos entender que a saúde mental não é a ausência de transtornos mentais, mas sim a capacidade de sair de angústias paralisantes e enfrentarmos outras angústias. Como assim, ser saudável é sofrer? Mais ou menos. Ser saudável mentalmente é entender que o sofrimento existe, nem sempre é evitável, mas é contornável.

Existem 2 indicadores contextuais importantíssimos para se falar em Saúde Mental: a crise e o estresse. A crise é entendida como uma reação a uma situação específica e envolve dificuldade em enfrentá-la por vias tradicionais; por exemplo: alguém perdeu um ente querido muito próximo e reage gargalhando, inclusive no enterro, demonstrando quase uma impossibilidade em ficar triste. Por ser uma reação, a crise é de caráter TRANSITÓRIO, ou seja, ela passa e seus efeitos podem ser amenizados através de acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Já o estresse é o fator potencial para consequências futuras. Seu grau de influência vai depender do contexto, do poder do estressor e da vulnerabilidade do sujeito. Duas pessoas diferentes vão reagir de maneira diferente à mesma situação, por exemplo: um período de grande pressão no trabalho gera mais impacto em alguém que está com o casamento em crise ou com os filhos muito doentes, do que em outra pessoa que não esteja passando por isso.

No meio desse monte de conceitos, existe um que é fundamental: Psicoeducação! Basicamente é você aprender sobre Saúde Mental, sobre transtornos mentais, formas de tratamento e prevenção. É isso que o Janeiro Branco se propõe, a partir de 5 objetivos (retirados do site da campanha):

“1 – Fazer do mês de Janeiro o marco temporal estratégico para que todas as pessoas e instituições sociais do mundo reflitam, debatam, conheçam, planejem e efetivem ações em prol da Saúde Mental e do combate ao adoecimento emocional dos indivíduos e das próprias instituições;

2 – Chamar a atenção de todo o mundo para os temas da Saúde Mental e da Saúde Emocional nas vidas das pessoas;

3 – Aproveitar a simbologia do início de todo ano para incentivar as pessoas a pensarem a respeito das suas vidas, dos seus relacionamentos e do que andam fazendo para investirem e garantirem Saúde Mental e Saúde Emocional em suas vidas e nas vidas de todos ao seu redor;

4 – Chamar a atenção das mídias e das instituições sociais, públicas e privadas, para a importância da promoção da Saúde Mental e do combate ao adoecimento emocional dos indivíduos;

5 – Contribuir, decisivamente, para a construção, o fortalecimento e a disseminação de uma “cultura da Saúde Mental” que favoreça, estimule e garanta a efetiva elaboração de políticas públicas em benefício da Saúde Mental dos indivíduos e das instituições. ”

Há quem pense que os meses coloridos (Janeiro branco, setembro amarelo, outubro rosa, novembro azul, dezembro vermelho) são desperdício de tempo, ou apenas forma de alguém chamar atenção e ter mais seguidores em redes sociais (na verdade, esses dois últimos são mais comentados em relação ao setembro amarelo). Mas essas mobilizações são necessárias para chamar nossa atenção.

Muitas vezes, na correria da rotina, esquecemos de cuidar de nós mesmos, ou você lembra qual foi a última vez que tomou remédio “de verme”? Ou que fez aquela limpa no guarda roupa e tirou tudo que não usa? Ou então a última vez que tomou um café com aquele amigo querido e esqueceu do tempo? São coisas simples, mas ótimas para garantir nosso bem estar.

Quais os fatores de risco para minha saúde mental?

Eles são divididos em 2 tipos: fatores sociais e fatores individuais. No primeiro grupo, estão condições de trabalho precárias, discriminação e exclusão social, violência e violação dos direitos humanos. Já os individuais estão ligados principalmente a questões genéticas, uso de álcool e outras drogas, sedentarismo, privação de sono e doenças incapacitantes.

No entanto esses fatores não são garantia de que você vá ter sua saúde mental afetada, mas sim que eles representam um risco do que pode ocorrer caso não seja dada a devida atenção a esses aspectos.

Preciso de ajuda?

É considerado alguém em sofrimento psíquico toda pessoa que apresente sintomas específicos de alguma psicopatologia descritos nos manuais (CID ou DSM), que gerem perda de sua liberdade e autonomia, além de trazer algum tipo de prejuízo (social, no trabalho, familiar, amoroso, etc).

Mas atenção, nem todas as alterações do comportamento humano são patológicas. Muitas vezes o exagero ou diminuição de um hábito aparece como resposta a algum fator estressor da vida, sendo proporcional as suas causas e ficando circunscritas a esse evento. Como você perder o sono preocupado com aquele boleto que está para vencer.

Caso você esteja apresentando algum sintoma que te incomode, esteja sofrendo por alguma questão e não saiba como lidar com isso sozinho, você pode procurar ajuda de algumas formas:

– Através das Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde você pode solicitar atendimento psicológico por meio do seu Agente Comunitário de Saúde (ACS). O procedimento pode ser diferente de acordo com o município, tendo a possibilidade de você ser atendido por um profissional do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), por um centro de especialidades médicas ou ainda ser encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Todas as modalidades são gratuitas.

– Através de clínicas escola: todos os cursos de graduação em Psicologia são obrigados a possuir um serviço de clínica escola que funcione em caráter gratuito ou a preço simbólico, destinado ao atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade e/ou que habitem a região circunvizinha ao campus. Geralmente funciona por meio de uma lista de espera, cuja posição é definida de acordo com triagem realizada previamente. Para maiores informações, entre em contato com as instituições de ensino.

– Através de associações e ONG’s: existem instituições como a APAE, Pestallozi, CAVIDA, ABRATA, que oferecem acompanhamento multiprofissional gratuito a pacientes e seus familiares em casos específicos relacionados à saúde mental e reabilitação psicológica. Você pode pesquisar essas instituições e entrar em contato para maiores informações sobre suas especificidades.

– Através de clínicas particulares: alguns psicólogos atendem em clínicas particulares por meio de convênios e planos de saúde ou ainda destinam algumas vagas ao que chamam de atendimento social, que são sessões de terapia com valores mais baixos para pessoas que não possuem condições de arcar com o tratamento.

– Em caso de crise, se você precisar de uma escuta emergencial, entre em contato com seu terapeuta. Se você não tiver sendo acompanhado por um, existe o serviço do Centro de Valorização à Vida (CVV), destinado a prevenir tentativas de suicídio. Você pode entrar em contato via telefone pelo disque 188 ou através do site https://www.cvv.org.br

Finalizo esse texto com as palavras do site oficial da campanha, salientando novamente a importância do Janeiro Branco:

“Porque há sofrimentos que podem ser prevenidos. Dores que podem ser evitadas. Violências que podem ser impedidas, cuidadas ou reparadas. Exemplos que podem ser partilhados. Ensinamentos que podem ser difundidos em nome de povos mais saudáveis e mais bem resolvidos em termos emocionais. ”

Cuide da pessoa mais importante de sua vida: VOCÊ!