Iniciação Científica é a porta de entrada para drogas mais pesadas (a imagem de capa é de autoria própria, admirem um belo ELISA de dopamina).
Toda vez que encontro alguém, seja aluno, colega de profissão ou até mesmo pessoas da academia, sempre uso essa frase. Tal qual a escolinha de futebol para muitos jovens que nasceram de onde eu vim, como cursinhos pré-vestibulares para quem se prepara para a entrar na universidade, a iniciação científica é um programa preparatório.
Oficialmente, segundo o site da Santa Casa de São Paulo, iniciação científica é “um programa oferecido por muitas instituições de ensino, tanto pública quanto privada, para que os alunos possam aprofundar seus conhecimentos em uma determinada área do seu curso.” Trocando em miúdos, a iniciação científica é um processo de construção de alunos de graduação para uma carreira acadêmica.
De forma geral, programas de iniciação científica acontecem tanto em instituições públicas quanto em privadas, tendo como base um professor ou investigador principal que possui uma linha de pesquisa, coordenados pela Pró-Reitoria de Pesquisa. Essas linhas de pesquisa variam conforme o local onde os professores são concursados, por exemplo, dentro do setor de um fictício Departamento de Hematologia, existem professores que trabalharão com hemácias, leucócitos, plaquetas etc. Isso é importante frisar por conta do processo que farei menção em seguida.
O objetivo final de uma iniciação é focar na formação acadêmica do graduando, construindo as ferramentas investigacionais para uma fixação de como se usa o método científico. Uma das partes mais importantes de uma iniciação é reiterar que não pode existir pressão para resultados positivos nessa etapa, pois o método é o mais importante.
A pesquisa de iniciação científica majoritariamente é prática, ou seja, o aluno realmente coloca a mão na massa. Se a linha de pesquisa do professor for com células, por exemplo, o aluno aprenderá a trabalhar com elas. Fazer relatórios e tratamento de dados é parte integral desses projetos, mas sempre com apoio e suporte do professor e muitas vezes do corpo de mestrando e doutorandos que habitam os laboratórios de pesquisa.
Entretanto, uma das questões que eu particularmente acho muito interessante na iniciação científica é o fato de ela ser um ponto de partida para a vida acadêmica. Para quem já conhecia o processo acadêmico e buscava esse tipo de caminho, a iniciação é uma oportunidade perfeita para construir experiência e currículo, pois geralmente no final das iniciações emerge um artigo científico que vai para publicação.
Porém, tão legal quanto formar um futuro cientista, é o detalhe que, para quem ainda não sabe muito bem o que quer seguir como carreira, a iniciação permite que muitas pessoas possam “colocar o pé na água” da pesquisa sem precisar se jogar de forma completa, como por exemplo em um mestrado ou doutorado.
Se você gostar, excelente! Bem vindo! Se não gostar, melhor ainda! Esses compromissos de mestrado ou doutorado são bem sérios, então para desistir no meio geralmente é um processo bem chatinho, mas é possível. Para evitar esse tipo de coisa, a iniciação vai te dar um ótimo panorama de como funciona o braço de Pesquisa de uma universidade.
Para conseguir uma iniciação científica, o processo varia consideravelmente entre instituições. Cada local tem seu programa de ingresso, mas o primeiro passo é encontrar um orientador que trabalhe com uma linha de pesquisa que você goste. Se você gosta de microbiologia, por exemplo, procure em instituições (principalmente públicas) departamentos que trabalham com micro-organismos. Como havia dito, normalmente as linhas de pesquisas são bem específicas, ou seja, se eu gostar de microbiologia, não vou conseguir encontrar um pesquisador que trabalhe com “bactéria” de forma generalista, mas sim algum micro-organismo específico dentro de uma pesquisa específica, algo como “Escherichia coli e sua interação com células NK”.
Depois dessa etapa, entra-se em contato com o orientador e apresenta-se o interesse em fazer uma iniciação científica. Daí pra frente, cada instituição dá um seguimento diferente. Um dos pontos importantes que deve sempre ser destacado é que muitos orientadores exigem dedicação exclusiva, então sempre verifique esse detalhe caso você possua outro compromisso, sempre deixe claro para o orientador para que os interesses fiquem alinhados.
Quanto à remuneração, que é um tópico muito importante tendo em vista a exigência ocasional de dedicação exclusiva de alguns orientadores, é baseada no sistema de bolsa. Temos duas agências de fomento federais importantíssimas, a CAPES e o CNPq. Dos dados que encontrei, segundo o próprio governo, gira em torno de R$700.
Além dessas agências federais, aqui no estado de São Paulo temos uma agência estadual extremamente respeitada e muito cobiçada que é a FAPESP. Em geral a FAPESP paga um valor maior que as federais (segundo site próprio, uma bolsa de iniciação científica gira em torno de R$853,80), entretanto, costuma ser mais exigente em muitos aspectos.
Falando especialmente da minha experiência, fui muito feliz no meu projeto de iniciação. Fiz a minha iniciação no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), no Departamento de Farmacologia. O meu orientador foi o Prof. Dr. Stephen Fernandes de Paula Rodrigues, que foi um orientador fantástico que me mostrou os caminhos da pesquisa e me fez aumentar mais ainda meu desejo de ser cientista como ele.
Fui bolsista FAPESP, desenvolvendo uma pesquisa dentro da área de nanofarmacologia aplicada. A pesquisa que eu estava inserido estava dentro do arcabouço da pesquisa básica, onde trabalhei com modelos animais. Tive a sorte de encontrar um orientador espetacular com muita paciência, uma estrutura primorosa do ICB I, além de ter obtido resultados positivos e publicado dois artigos que nasceram desse projeto, com uma patente associada também. Só posso agradecer por tudo o que aprendi nesse período, do qual colho frutos até hoje.
Referências:
https://fcmsantacasasp.edu.br/blog/o-que-e-e-por-que-fazer-iniciacao-cientifica/
https://fapesp.br/valores/bolsasnopais
https://jnanobiotechnology.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12951-021-00796-6