Já pensou no impacto ambiental que tem a produção de papel? Provavelmente, você nunca pensou nisso. Eu também nunca havia pensado até que chegar no Uruguai e ser apresentada a esta questão, que vem acompanhada de questões sociais e econômicas.
O Uruguai tem como bioma predominante o Pastizal e está no Rio da Prata. E por aqui as áreas rurais são muito importantes, logo, a preservação delas também deveria ser. Vale uma nota de que aqui a legislação é bem diferente do Brasil e que não há Ministério do Meio Ambiente; está tudo junto num ministério que é responsável pelo meio ambiente, planejamento territorial e habitação.
As áreas de Pastizales da região do Rio da Prata se converteram num polo de produção de madeira e pasta de celulose, polo este que vem se expandindo pelo Cone Sul (Uruguai, Argentina e Chile). Este avanço causa a substituição de campo por plantações de árvores para fins de produção de pasta de celulose e tem efeitos sobre o ciclo da água, aumentando o consumo de água subterrânea, além de reduzir o rendimento da produção na área. A substituição dos campos também torna os solos mais ácidos, aumenta a concentração de sais e altera a redistribuição de nutrientes, aumentando o sequestro de carbono.
Todas estas alterações têm impacto na biodiversidade. A expansão das plantações de árvores para produção de pasta de celulose diminui e fragmenta os Pastizales, o que , por sua vez, altera a fauna, diminuindo a quantidade de espécies e número de indivíduos por perda ou degradação de seus habitats.
A conservação das espécies nestas regiões é um desafio, uma vez que estas desaparecem da paisagem com o avanço das plantações. Algumas delas já são consideradas ameaçadas ou vulneráveis, por exemplo: a Ratonera Aperdizada (Cistothorus platensis), catalogada como Vulnerável (VU) no pais; a Lechucita de Campo (Athene cunicularia), catalogada como quase Ameaçada (NT) no Uruguai; e o Capuchino Boina Gris (Sporophila cinnamomea), Vulnerável (VU) a nível nacional e global.
Dentre as medidas de conservação e proteção poderíamos incluir os bens e serviços ambientais, que além do benefício em si podem ser precificados de acordo com valor individual ou coletivo que apresentam. Valores estes que podem ser turístico, paisagístico, contribuição para o fornecimento de água e alimentos ou mesmo a recuperação de uma área degradada, por exemplo.
O custo social também deve ser considerado, pois estão ligados à degradação e ao valor dado para o bioma, até porque nem sempre a população afetada é a que se beneficia das alterações. Os proprietários podem alterar suas áreas e reduzir a biodiversidade e talvez estejam dispostos a receber pelos serviços ambientais fornecidos por suas áreas mantendo a biodiversidade e os benefícios associados.
Dentre os custos sociais podemos considerar a perda de cultura, aqui de povos tradicionais, que por aqui seriam as culturas criolla, gaucha e del paisano. O modo de vida e a identidade destas populações estão intrinsecamente ligados ao campo, a paisagem, a flora e a fauna, sendo uma tradição e uma forma de sustento para elas. Estas populações são caracterizadas por viver no campo, realizar trabalhos ligados à pecuária e agricultura, tendo costumes muito diferentes da população urbana.
A instalação da planta para produção de celulose poderá ter impactos no custo da terra e os trabalhadores rurais podem ser prejudicados, já que os empregos na área diminuirão e o emprego na cadeia produtiva da produção da pasta de celulose é especializada e sazonal.
As alterações ambientais também aumentam os gastos do Estado (Incêndios florestais e alterações no fornecimento de água, somados às secas e inundações). Mostram os conflitos no Estado entre os ministérios e os interesses econômicos, oque por vezes gera conflitos na politica ambiental, principalmente as voltadas para preservação ambiental.