Muitas coisas mudaram com as novas dinâmicas na cadeia de suprimentos. A forma antiga de realizar processos não é mais capaz de explicar o complexo mundo novo em que vivemos. Com a cadeia de produtos alimentícios não poderia ser diferente.
Alianças, parcerias e joint-ventures (forte candidato a uma redação) passaram a fazer parte do cotidiano de quem trabalha com Supply Chain no segmento alimentício. No texto de hoje, iremos abordar uma das maiores mudanças no cenário destes produtos. Refiro-me a estratégia de coopetição, capaz de transformar competidores ferrenhos em aliados de objetivos organizacionais.
Mas será que competidores conseguem mesmo trabalhar com objetivos em comum? Quais os ganhos que poderão sair desta relação? Isto tudo iremos ver neste texto!
Para entendermos o conceito da estratégia coopetitiva, antes devemos deixar bem explicado dois outros conceitos: colaboração e cooperação. Apesar de similaridades, existem diferenças que serão importantes de serem analisadas.
A cooperação acontece quando duas ou mais empresas, órgãos governamentais, ONG’s, associações etc., resolvem atuar conjuntamente para obtenção de benefícios mútuos [1]. Ela pode ser realizada de maneira formal ou informal, quebrando barreiras quanto às fronteiras organizacionais, como no caso da criação de alianças.
Algumas alianças são tão fortes que fazem parte da estratégia e do marketing interorganizacional. É o caso de empresas de bebidas ou brinquedos que estarão em combos especiais de produtos vendidos em fast food conhecidos [2]. Mesmo a cooperação informal (geralmente entre empresas regionalmente próximas) pode se tornar fonte de benefícios tangíveis e intangíveis para as organizações.
A colaboração distingue-se da cooperação por, pelo menos em um momento, só trazer benefícios tangíveis a um dos associados [1]. Não significa necessariamente que uma das organizações sairá prejudicada, nem mesmo que nenhum benefício poderá ser colhido no futuro. Uma relação colaborativa pode ser dada na forma de auxílio, melhorando a qualidade das relações diretas e indiretas entre associados. Esta situação é ideal à sobrevivência em mercados competitivos.
No contexto empresarial, é comum encontrarmos um mix de estratégias cooperativas e colaborativas entre participantes da cadeia de suprimentos. Membros diferentes movimentam táticas para que assim possam ser mais competitivas, ou seja, possam alcançar fatias de mercado cada vez maiores, ultrapassando concorrentes diretos.
Mas o que aconteceria se quiséssemos estabelecer uma cooperação ou colaboração entre empresas do mesmo segmento? Será que seria possível alguma aliança ou contrato por meio de pessoas que concorrem o mesmo cliente final? Algumas experiências demonstram que esta ligação é possível, inclusive no ramo alimentício.
Quando este fenômeno acontece, dizemos haver uma estratégia de coopetição. Coopetir é o conceito da cooperação competitiva entre empresas que disputam a mesma fatia de mercado. Acontece quando concorrentes competem para atingir determinados objetivos e na divisão de ganhos depois de uma união colaborativa ou cooperativa.
Trata-se de uma estratégia multidimensional e multifacetada [4]. Geralmente a coopetição pode ocorrer em interações dentro de atividades, porém é impossível duas ou mais empresas competirem e colaborarem na mesma atividade. Desta forma, pode-se definir a coopetição em graus de dominância de competição, equilibrado ou dominância de cooperação. Tudo depende das interações entre empresas.
Um ótimo estudo de caso pode ser encontrado na indústria de cachaça de alambique em Minas Gerais [6]. Comportamentos coopetitivos são observados na etapa de mercado, em que o “acesso a novos mercados” e “desenvolvimento de recursos humanos” são mais facilmente conquistados quando duas ou mais empresas do ramo alocam capital e recursos conjuntamente.
O mesmo estudo demonstra a importância das associações para facilitar a troca de informações e contatos. Minas Gerais é um estado pioneiro em associativismo, sendo um importante local de estudo sobre novas abordagens. Por meio desta estratégia, a cachaça artesanal passou a ser exportada para fora do estado e, em alguns casos, até para fora do país.
Outra área que apostou nesta estratégia foi o enoturismo de zona rural em Portugal. Por meio da coopetição informal, valores estão sendo formados entre produtores de uva e as regiões que exploram o turismo do vinho [7]. Desta forma, garante-se a “especialização inteligente” destas zonas rurais, aproveitamento sustentável de recursos e ainda catalisam o desenvolvimento rural da região vinícola.
Com o desenvolvimento de mercados cada vez mais dinâmicos e flexíveis, espera-se que estratégias como a coopetição ganhem terreno e possam oferecer serviços e atividades nunca antes imaginados. Conhece algum caso de coopetição? Não deixe de comentar sua experiência e até a próxima!