Em meio a pandemia do coronavírus que estamos vivendo (e nesse momento acabo de “datar” o texto), muitos estão lembrando das aulas de história (ou vendo no Youtube mesmo) onde os professores nos ensinaram sobre outra pandemia que afligiu a humanidade durante a baixa Idade Média, a peste negra ou peste bubônica. E com esse tema em voga novamente, acabei jogando um game lançado no começo de 2019 e que dialoga muito com o que estamos vivendo, A Plague Tale: Innocence.
Se passando na França do século XIV, no auge da Guerra dos Cem Anos e da Peste Negra, a desenvolvedora Asobo Studio nos apresenta a emocionante história de dois irmãos que lutam para sobreviver em meio a pandemia enquanto são caçados pela Santa Inquisição. O game se utiliza muito bem dos acontecimentos da época e nos mostra uma Europa desolada e sem esperança de melhoria, mas ainda sim adicionando mudanças para trazer impacto ao gameplay, como as gigantescas ondas de ratos dos quais temos que fugir. Mas já estou me adiando muito, então antes de tudo, pegue uma tocha e sua atiradeira e vamos juntos enfrentar os ratos e os cavaleiros da Santa Inquisição, pois hoje o tema é a peste negra em A Plague Tale: Innocence.
A Plague Tale é um game linear com pitadas de stealth que quer contar uma história pesada se passando em um dos momentos mais negros da humanidade. A Asobo Studio deixou bem claro desde o começo que se inspirou na experiência narrativa de games como The Last of Us e Brothers: A Tale of Two Sons, e isso fica evidente quando vemos o tema do game, família e como os relacionamentos dos personagens são afetados por circunstâncias adversas.
Controlamos a jovem Amicia de Rune, de família nobre e que precisa fugir com seu irmão mais novo Hugo, quando o local onde moram é invadido pelo exército britânico. Em meio a fuga, o objetivo dos irmãos se torna encontrar uma cura para um mal que aflige Hugo e nessa jornada eles encontram vários outros companheiros que acabam os ajudando. No caminho eles enfrentam vários inimigos, entres eles, ondas enormes de ratos que são os principais disseminadores da peste bubônica que assola o universo do game. Esses ratos além da espalharem a peste também agem como feras que devoram qualquer ser vivo que esteja no caminho.
Os ratos só podem ser afastados através do uso de fogo ou alguma fonte de luz, isso gera diversas situações onde Amicia precisa atravessar um mar de ratos apenas com uma tocha na mão, são momentos bem tensos que conseguem passar uma sensação de desconforto ao jogador. Mas é aqui que encontramos a primeira diferença entre a peste no game e a peste no mundo real. Mas antes de tudo, o que foi a peste negra?
A peste negra é uma doença causada por um bacilo, que desencadeou uma pandemia no continente europeu e que matou cerca de um terço de toda a população desse continente. Teve sua origem no continente asiático e se espalhou pela Europa através das caravanas que vinham da Ásia pelo Mar Mediterrâneo e aportavam em cidades costeiras europeias. Sua propagação inicialmente se deu por meio de ratos, mais precisamente pelas pulgas infectadas pelo bacilo que os transmitiam através da picada. Porém em estágios mais avançados a doença se propagava através do ar, por meio de espirros e gotículas. Já no game a doença é transmitida pela mordida dos ratos.
Seus sintomas são manchas negras (daí o nome peste negra) localizadas principalmente em regiões do corpo com grande concentração de gânglios do sistema linfático como as axilas e virilhas.
Devido as precárias condições de higiene e habitação que as vilas e cidades possuíam na época, a propagação da doença foi ainda mais potencializada, contribuindo para aumentar as infestações de ratos e pulgas.
No game vimos gigantescos bandos de ratos, e isso realmente não era algo raro de se ver, a diferença é que no game esses ratos atacam as pessoas devorando-as vivas, já na realidade isso não acontecia, porém devido ao alto número de mortos, corpos eram jogados nas ruas das cidades e acabam servindo como grandes banquetes para os ratos.
Outro ponto também em comum entre o game e realidade era a pouca compreensão que se tinha sobre a causa da peste. Devido ao baixo conhecimento cientifico da época e a grande influência da igreja católica, a peste era vista como uma punição divina. Isso fomentou ainda mais a Santa Inquisição que perseguia aqueles que eram contra os dogmas da igreja. Muitos foram mortos acusados de bruxaria por tentarem encontrar formas de acabar com a peste através de estudos científicos. Isso é bem mostrado no game, onde Amicia e sua mãe são vistas como bruxas por praticarem alquimia. Aproveitando, se quiser saber mais sobre alquímica nos games deixo recomendado esse Games no Lab, tem vários pontos que podemos fazer um paralelo com A Plague Tale.
A perseguição a Hugo, que todos acreditam ser um dos causadores da peste, também tem seus paralelos com a realidade, onde milhares de estrangeiros, principalmente os judeus, foram mortos acusados de serem a causa da doença.
A peste só teve fim quando começaram a surgir pessoas imunes a doença, pessoas que sobreviveram e passaram a imunidade aos seus descendentes. Porém ao longo da história tivemos outros surtos tão terríveis quando esse da Idade Média. A doença só foi erradicada mesmo quando surgiram os antibióticos e uma vacina para a mesma.
Que bom que com o desenvolvimento da ciência aprendemos com o nosso passado e hoje temos uma visão diferente quanto à causa e tratamento de doenças, não é mesmo?…
E por hoje é só pessoal. Chegamos ao fim de mais um texto. A Plague Tale é um excelente game com uma história emocionante, que nos leva a refletir sobre um dos momentos mais tristes da humanidade e como isso pode nos ajudar a sermos melhores. O game saiu para várias plataformas e é facilmente encontrado por preços bem acessíveis.
Fico no aguardo dos comentários, reclamações, dicas ou como foi sua experiência com o game. Fora isso, se possível, se isolem, lavem as mãos e até a próxima.
Fontes: Wikipedia, Tecnoblog, Canaltech, História do Mundo e Mundo Educação