Resident Evil é a franquia mais vendida da Capcom, ficando à frente até mesmo de Street Fighter. Com seu primeiro título tendo sido lançado em 1996, a série começou como um survivor horror com câmera fixa e zumbis como os principais inimigos. No quarto título tivemos uma grande mudança, com a câmera se posicionando acima/atrás do ombro do protagonista e o game se voltando mais para a ação, além dos inimigos serem humanos infectados por parasitas (inclusive temos um texto sobre isso que você pode ler aqui). Então, depois de Resident Evil 5 e 6 abraçarem de vez a ação desenfreada, a Capcom ouviu os fãs e apresentou Resident Evil 7: Biohazard.
Anunciado e revelado na E3 de 2016, um ano 1 depois que a Capcom havia apresentado uma demo técnica chamada KI7CHEN (com um 7 no lugar do T, mesmo), vimos que a jogabilidade priorizava o terror e a exploração sobre a ação, porém os fãs foram surpreendidos com mais uma mudança na série, pela primeira vez um game principal utilizava câmera em primeira pessoa (Lá nos anos 2000, o spin-off Resident Evil: Survivor até utilizava esse tipo de câmera, mas quanto menos falarmos sobre ele, melhor…). As recepções foram mistas, mas depois do lançamento isso se provou uma mudança acertada. O game foi um sucesso de vendas e trouxe folego novo para a série, além de introduzir a nova RE Engine, engine que entrega gráficos extremamente realista.
Mas não foi só isso que o game trouxe de novo, sem os clássicos zumbis, novo inimigos foram introduzidos, a família Baker e os “mofados”. Inimigos tomados por uma espécie de mofo, com alto poder de renegação e sendo controlados pela menina Eveline. Mas o que é esse mofo? Como ele pode ser controlado? Existe alguma coisa parecida com isso na vida real? Para saber essas e outras respostas, prepare-se para suar frio, pois hoje aprenderemos mais sobre o Reino Fungi enfrentando os Baker’s e os mofados em Resident Evil 7: Biohazard.
Antes de tudo, um pequeno aviso. O texto contém alguns leves spoilers sobre a trama. Aviso dado, seguimos em frente.
No game, controlamos Ethan Winters que. depois de 3 anos do desaparecimento de sua esposa Mia, recebe uma mensagem dela dizendo que foi sequestrada e está presa em uma plantação abandonada na Louisiana. Ethan parte para o local e depois de adentrar uma casa aparentemente abandonada, encontra Mia presa no porão, porém ao libertá-la, ela sofre uma transformação e ataca Ethan, forçando-o a matá-la. Mia, no entanto, “ressuscita” e o nocauteia.
O protagonista acorda sentado em uma mesa de jantar grotesca ao lado da família Baker (uma família canibal inspirada na família do filme “O Massacre da Serra Elétrica”). Desse ponto em diante começamos uma fuga desesperada ao mesmo tempo que enfrentamos cada uns dos Baker’s e estranhas criaturas cobertas por algum tipo de mofo. Mas o que é isso, no game?
Dessa vez não é a Corporação Umbrella que está por trás eventos do game e sim os The Connections, um sindicato do crime envolvido com tráfico de armas e drogas, assassinatos, lavagem de dinheiro e pesquisas bioquímicas.
O objetivo do sindicato, depois de descobrir um “superfungo”, era criar humanos geneticamente modificados que poderiam controlar as mentes de outros humanos, transformando inimigos em aliados e eliminando os custos de abrigar prisioneiros de guerra.
O superfungo descoberto e depois modificado geneticamente foi chamado de “Mold”, que na tradução para o português ficou como “Mofo”. Através da inserção do genoma do Mofo em embriões humanos, foi criada a primeira arma biológica E-001 ou Eveline. Essa criança envelhecida artificialmente para se parecer com uma menina de 10 anos, podia controlar “mentalmente” qualquer humano que tivesse sido contaminado pelo Mofo. Voltando para o mundo real, vamos conhecer um pouco mais sobre mofos, bolores e afins.
O Reino Fungi é constituído de fungos, organismos multi ou unicelulares heterotróficos que antigamente eram considerados plantas primitivas. Dentro dele se encontram os mofos, bolores, leveduras e cogumelos. A grande diferença entre fungos e plantas, é que estas produzem seu próprio alimento (clorofila), já os fungos são organismos incapazes de sintetizar seu próprio alimento, eles geralmente liberam enzimas sobre o alimento e depois absorvem os nutrientes que necessitam.
Na maioria das vezes se reproduzem por meio da geração de esporos, que lançados ao ar podem chegar até algum local apropriado e germinarem, gerando um novo fungo.
Fungos são de suma importância para o meio ambiente e para os seres humanos. Na natureza atuam como decompositores de matéria orgânica, garantindo a ciclagem do meio, além de realizarem relações simbióticas com algumas espécies de plantas.
Já para os humanos, eles são utilizados como matéria prima na produção de medicamentos (o antibiótico penicilina e a ciclosporina utilizada para combater a rejeição de órgãos transplantados são alguns exemplos) e como alimentos, seja no processo de fermentação ou o consumo sem processamento como o champignon. Mas também podem causar doenças como a candidíase, alguns tipos de pneumonia, micoses, entre outras.
Como já dissemos, o Mofo em Resident Evil foi criado a partir da junção de um superfungo e o genoma humano, assim nasceu Eveline. Ela acaba agindo como a fonte de toda a contaminação, gerando esporos que quando ingeridos ou inalados, começam a consumir as células do indivíduo, assumindo seu lugar no organismo.
A infecção ocorre em 3 estágios. No estágio inicial, não há uma mudança física no indivíduo, apenas efeitos colaterais como habilidades regenerativas notáveis. Essa regeneração pode ocorrer em menor ou maior grau dependendo da pessoa. Ainda segundo alguns arquivos no game, essa regeneração se deve à secreção, pelo fundo, de uma enzima parecida com a telomerase. A telomerase realmente existe e é ela a responsável pela replicação das células, agindo diretamente nos cromossomos, adicionando sequências específicas e repetidas de DNA. Na natureza existem fungos que podem crescer até alguns metros por dia, o que já é incrível, mas está longe de algo como a regeneração completa de um braço ou perna como vemos com o patriarca da família Barker.
Entrando no estágio intermediário, uma vez que o mofo atinge o cérebro, uma conexão mental é feita com o E-001, desse modo o indivíduo fica à mercê de ordens vindas de Eveline, perdendo aos poucos sua individualidade, seu senso de ego. Alucinações com imagens e sons também ocorrem frequentemente.
Certos tipos de cogumelos podem ser alucinógenos, tudo graças à psilocibina, uma substância psicoativa que é convertida no nosso organismo em psilocina e age diretamente no cérebro em áreas que controlam os sonhos. O Mofo no game, poderia ter perfeitamente essa substância, o que explicaria as alucinações. Já sobre o controle “mental” de Eveline sobre os indivíduos contaminados, isso também poderia ser explicado cientificamente. Quem jogou The Last of Us, já deve ter uma ideia do que eu estou falando.
Em The Last of Us, a humanidade quase foi devastada devido a uma infecção pelo fungo Cordyceps, fungo esse que depois de instalado no cérebro assume as funções do hospedeiro e passa a controlá-lo. Já o Mofo de Resident Evil, poderia funcionar da mesma maneira, mas recebendo “ordens” simples de Eveline, na forma de esporos liberados constantemente por ela, seria algo parecido com as ordens que a rainha em um formigueiro ou colmeia passa para as operárias na forma de feromônios.
Por fim temos o estágio final da infecção, ocorrido quando o indivíduo sofre graves danos ou morre. O Mofo toma todas as células desse indivíduo e causa grandes alterações físicas. Os inimigos mais comuns no game são os mofados. Diferente do que pode parecer, os mofados não são cadáveres reanimados (como os zumbis), mas sim colônias móveis do fungo que adquiriu a forma do organismo que elas consumiram. Por isso todos os mofados são parecidos. Eles não são humanos, apenas têm a forma humana.
Mas nessa parte o game pega pesado na suspensão da descrença, na vida real, fungos não se locomovem. Com algumas exceções, que podem levemente se moverem pela emissão de pseudópodes (falsos pés, como as amebas), a maioria dos fungos é imóvel, tanto que num passado recente eles eram agrupados dentro do Reino Plantae. Assim, fica difícil conceber algo parecido com os mofados.
O protagonista Ethan, tem um vasto arsenal de armas para enfrentar os inimigos infectados, desde facas até lança-chamas, mas alguns chefes só são definitivamente abatidos utilizando-se a E-Necrotoxina, um soro fungicida que calcifica todas as células infectadas pelo mofo. No nosso mundo, porém, o que mais utilizamos são antifúngicos que agem diretamente no fungo e não nas células por ele contaminadas.
Mas no final, o que realmente poderia ajudar Ethan na luta contra os mofados (e sua mãe provavelmente sabe disso), seria um bom frasco de água sanitária. A água sanitária é um poderoso fungicida e bactericida, pois tem a capacidade de romper as membranas celulares desses organismos. E se Ethan não tivesse água sanitária à mão, vários outros produtos poderiam ser usados para esse fim, claro que ele saberia disso se ouvisse o Manual do Solteiro Químico. O que? Você ainda não escutou? Fica aqui minha recomendação para escutar essa série de Spin de Notícias que já tem 24 partes.
E chegamos ao fim de mais um texto. Espero que tenham gostado. Resident Evil 7, apesar das reações negativas quando foi revelado, se mostrou um excelente game de terror e conseguiu reacender o ânimo dos fãs por novos títulos da franquia Resident Evil. Sua sequência direta, Village, acaba de ser lançada e está agradando bastante os fãs, talvez até possa gerar mais um texto para essa coluna. No mais, fico no aguardo de críticas e sugestões, e se quiser, comente ai como foi sua experiência com esse game. Até a próxima.
Fontes: Wikipedia, Resident Evil Wiki, Info Escola, Biologia Net, Thermomatic, Brasil Escola e Guia dos Entusiastas da Ciência