Ah, a Konami… uma empresa, ao mesmo tempo, tão amada e tão odiada pelos fãs. Dona de franquias como Castlevania, Metal Gear, Silent Hill e Pro Evolution Soccer, fez verdadeiras “lambanças” nos últimos anos, como a briga e posterior saída de Kojima, acarretando o cancelamento de Silent Hills e jogando Metal Gear no limbo; o desastroso lançamento de eFootball; os games de Castlevania para smartphones; além, é claro de seu total foco na produção de pachinkos (um tipo de caça-níquel japonês).
Porém, com a recente revelação de vários projetos envolvendo Silent Hill (incluindo um remake de Silent Hill 2) e um rumor envolvendo o anúncio de um remake de Metal Gear Solid 3, a comunidade gamer começou a ver uma luz no fim do túnel.
Muitos são os games que a empresa pode reviver, um remake/continuação de Sunset Rider é sonho de muitos. Entre eles, uma franquia que faz muito sucesso no Japão, mas poucas vezes foi portada para o ocidente, Ganbare Goemon, ou como é conhecido no ocidente, Mystical Ninja.
Mas você sabia que o personagem principal da franquia foi baseado em um semilendário herói japonês? Não? Então prepare suas shurikens e bombas de fumaça, pois hoje vamos conhecer mais sobre os games da série Mystical Ninja e a história que inspirou sua criação.
Lançado em 1986 para arcades, Mr. Goemon foi o primeiro da série. Nele controlamos Ishikawa Goemon, um fora da lei no Japão do século XVII que precisa chegar ao final de cada fase evitando ser capturado pelos inimigos.
Depois disso, entre títulos principais e spin-offs, mais de 25 games foram lançados com Goemon como protagonista. Em sua maioria, são games de ação e aventura, mas o personagem já teve títulos de RPG, puzzles e jogos de tabuleiro.
Apesar dos inúmeros títulos lançados, apenas 5 foram portados para o ocidente: The Legend of the Mystical Ninja para SNES, Mystical Ninja Starring Goemon e Goemon’s Great Adventure para o N64. Já o Game Boy recebeu uma versão de Mystical Ninja Starring Goemon e Ganbare Goemon: Sarawareta Ebisumaru! que saiu na Konami GB Collection Vol. 3. Apesar dos poucos lançamentos, isso foi o bastante para o personagem ganhar um bom número de fãs no ocidente.
Ao longo dos games, a aparência do protagonista foi sofrendo alterações até chegar ao que temos hoje: um garoto com sobrancelhas grossas e um grande cabelo azul, sempre usando como arma seu kiseru, um tipo de cachimbo japonês utilizado para fumar kizami, um produto derivado do tabaco.
Sua aparência está diretamente ligada ao teatro Kabuki, uma forma de teatro japonês que teve sua origem durante o período Sengoku, mesmo período em que o protagonista vive várias de suas aventuras. Inclusive, se você quer saber mais sobre esse período e até sobre a história do Japão, recomendo meus textos aqui, aqui, aqui e aqui.
Para sua criação, a Konami se inspirou em uma figura histórica real do Japão antigo. As fontes divergem, mas acreditasse que Ishikawa Goemon tenha nascido em 1558 sobe o nome de Sanada Kuranoshin. Embora ele realmente tenha existido, quase tudo a seu respeito é fruto de especulações ou informações contraditórias, visto que sua história virou lenda e ao longo dos séculos muita coisa foi alterada ou aumentada.
O mais aceito é que Sanada Kuranoshin nasceu em uma família a serviço do clã de samurais Miyoshi. Em 1573 seu pai, Ishikawa Akashi, morreu (algumas versões dizem que sua mãe também) em um confronto contra outro clã. Querendo fazer justiça com as próprias mãos, Sanada, aos 15 anos, fugiu e encontrou refúgio na escola de artes ninja de Iga, sendo aprendiz do mestre Momochi Tamba.
O jovem acabou fugindo novamente depois que seu mestre descobriu um romance entre uma de suas cortesãs e Sanada, mas não sem antes roubar umas das espadas mais valiosos da escola.
Depois dessa nova fuga, Sanada mudou seu nome para Ishikawa Goemon tornando-se líder de um grupo de ladrões que roubavam principalmente senhores feudais, clérigos e comerciantes, compartilhando o ganho com os mais pobres, praticamente um “Robin Hood do Japão”. Esses atos são apresentados nos primeiros games da franquia Mystical Ninja, em que Goemon distribui dinheiro ao final de cada fase.
Devido a essas ações, Goemon caiu nas graças da população e sua lenda foi aumentando, sendo creditado por diversas ações antiautoritárias, uma delas inclusive tendo levado ao seu fim.
Diz-se que Goemon tentou assassinar o daimyo Oda Nobunaga, porém o plano deu errado e quase todo o grupo do ninja foi morto, porém Goemon conseguiu escapar. Em retaliação ao ataque, Toyotomi Hideyoshi mandou matar a esposa de Goemon e sequestrar seu filho, Gobei. O ninja acabou invadindo o castelo de Hideyoshi para matá-lo, mas foi capturado antes de chegar ao seu alvo.
Sua pena foi extremamente cruel, ser fervido, junto com seu filho, em um caldeirão de ferro cheio de óleo. Para proteger seu filho, Goemon o segurou acima da cabeça. Conta-se então que Hideyoshi, tocado pelo gesto, acabou perdoando o filho de Goemon.
Nos dias em que esteve preso, antes da sua execução, Goemon teria escrito um poema dizendo que sempre haverá ladrões enquanto existirem injustiças sociais.
Goemon e sua história/lenda são até hoje lembrados no Japão, ele é tema de muitas peças de kabuki. Também existe no Japão, um tipo de banheira de ferro chamada de goemonburo, “o banho de Goemon”. E se algum dia você visitar o templo Daiunin, em Kyoto, verá que no local existe uma lápide com seu nome.
Por ser extremamente popular, não é só na série Ganbare Goemon que o ninja aparece, também podemos vê-lo em Persona 5 e Samurai Warriors, além de estrelar mangas, animes e filmes.
E chegamos ao fim de mais um texto, espero que tenham gostado. Para quem quiser conhecer os games do ninja, a versão do SNES e as duas no N64 são uma boa porta de entrada. Fora isso, o que podemos fazer é esperar que a Konami um dia retome a franquia. E por falar em esperar… Fico no aguardo dos comentários, críticas e sugestões. Até a próxima.
Fontes: Wikipédia, Coisas do Japão, Portal dos Mitos, Superinteressante e Canal Aperte Start