A aclamada desenvolvedora de games Rare, ganhou sua fama durantes os anos 90 graças aos excelentes games produzidos. Fundada em 1985, inicialmente conhecida por seus títulos para computadores domésticos, no entanto, foi com a parceria com a Nintendo que a Rare conquistou fama mundial. A colaboração entre as duas empresas resultou em alguns dos jogos mais amados da história dos videogames. Donkey Kong Country, Banjo-Kazooie, GoldenEye 007 e Killer Instinct, apenas para citar alguns.
Porém no começo dos anos 2000 também lançou games que hoje são considerados clássicos. Em um deles controlamos um esquilo fofinho que tem seu dia de fúria, mostrando que qualquer um pode ter explosões de raiva. Mas porque isso acontece? Quais são os gatilhos que causam?
Então mantenha a calma e vamos juntos descobrir as repostas para essas e outras perguntas, já que hoje nosso tema é Conker’s Bad Fur Day e explosões de raiva.
Lançado originalmente para o Nintendo 64 em 2001, Conker’s Bad Fur Day ganhou destaque por sua abordagem irreverente, humor adulto e personagens excêntricos. A história gira em torno de Conker, um esquilo antropomórfico que acorda após uma noite de bebedeira e percebe que está longe de casa.
Para voltar, ele embarca em uma jornada repleta de situações absurdas e personagens bizarros (tem até um chefe que é um cocozão cantor de ópera), enfrentando desafios de todos os tipos pelo caminho. Ele vai ficando cada vez mais puto da vida ao longo do game.
Por serem antropomórficos, os animais no game possuem características humanas como falas e sentimentos, entre eles a raiva. Mas como isso funciona? O que nos leva a ter raiva?
Nos humanos, segundo o pesquisador R. Douglas Fields, as causas que podem levar uma pessoa a explodir de raiva são agrupadas em nove seções: integridade física, insulto, família, ambiente, sexo, ordem social, dinheiro, tribo e impedimento (algo que seja um obstáculo). Todas as vezes que nos sentimos ameaçados, em qualquer uma dessa seções, nosso cérebro se prepara para a briga, como se nossas vidas estivem em perigo.
Fields ainda explica que:
Todos temos esses ‘circuitos’ em nossos cérebros, porque os seres humanos se desenvolveram em uma natureza selvagem, em um ambiente em que sobrevive quem é o melhor. Nossos cérebros são os mesmos que tínhamos há cem mil anos. Mas nosso ambiente é totalmente diferente agora.
E falando sobre nosso cérebro, por muito tempo se considerou separar o funcionamento dele por áreas com funções específicas, porém com a evolução da tecnologia começou-se a questionar esse entendimento. Hoje, um modelo bem conhecido e sendo cada vez mais aceito é a Teoria do cérebro trino, criada por Paul MacLean nos anos 70. Essa teoria defende que nossos cérebros seriam compostos por três partes:
Uma primeira camada evolutiva e mais antiga chamada Reptiliana, responsável por funções automáticas, é capaz de promover reflexões e tem como característica o instinto de sobrevivência. Ela coordena as sensações de fome, sede e outras.
Uma segunda camada evolutiva, mais recente, chamada Mamíferos Inferiores, é responsável pelas emoções. Essa camada é o nível de organização que corresponde à maioria dos mamíferos.
E, por último, uma terceira camada, ainda mais nova, chamada Racional. É essa camada que nos diferencia dos outros animais, já que seria apenas por causa dela que conseguimos devolver pensamento abstrato e a capacidade de gerar invenções.
Entre a primeira e a segunda camada encontramos o hipotálamo, que, entre outras coisas, coordena as reações de nosso corpo frente a ameaças. Junto com o hipotálamo temos a amígdala, ela identifica o perigo e nos coloca em situação de alerta, deixando-nos prontos para fugir ou lutar. Diversos estudos relacionam que estímulos que ativam a amigdala provocam agressividade e raiva.
Um caso famoso é o do ex-fuzileiro Charles Whitman, que, em 1º de agosto de 1966, subiu no Observatório da Universidade do Texas, em Austin, e começou a disparar contra as pessoas que passavam pelo campus.
No total, ele assassinou 16 pessoas e feriu outras 32 antes de ser morto pela polícia, que subiu no observatório e o confrontou. Sua autópsia revelou a presença de um tumor cerebral que comprimia a amígdala. Porém, vale dizer que a conexão entre o tumor e seu comportamento violento não foi comprovada, já que Whitman tinha um histórico de agressões bem antes do ocorrido.
Voltando para o game, será que podemos supor que alguma coisa tenha acontecido com a amígdala de Conker durante sua noite de bebedeira? Se sim, foi uma noite e tanto…
Hormônios também podem ser os responsáveis por alguns tipos de comportamento. A tireoide, por exemplo, produz hormônios que podem gerar efeitos negativos quando os mesmos estão desregulados, efeitos como agitação, irritabilidade, insônia e taquicardia. Porém comportamentos alterados por disfunções hormonais são mais simples de serem identificados e tratados.
Voltando às explosões de raiva, precisamos entender que não é algo consciente e pode acontecer bem rápido. Isso acontece quase como um reflexo, nosso cérebro percebe a “ameaça” e responde a ela. Interessante é que o instinto responsável por essa explosão é o mesmo que nos faz agir de maneira positiva espontaneamente, como quando atos de “heroísmos” são realizados e a pessoa, depois, não se lembra o que fez.
De qualquer maneira, em situações como explosões de raiva, pedir para a pessoa se acalmar geralmente só piora as coisas. Voltando ao pesquisador Fields, ele nos dá a dica: identificar a causa da raiva e tornar a pessoa consciente de que esse gatilho vem de um instinto ancestral. Com a pessoa pensando conscientemente, o sentimento ruim vai embora.
Porém é importante ficar atento, apesar de explosões de raiva serem “normais” em nossas vidas, o aumento da frequência com que elas acontecem pode ser um sinal de algo mais sério, o chamado Transtorno Explosivo Intermitente (TEI).
Afetando cerca de 3% dos brasileiros, o TEI é um distúrbio psiquiátrico caracterizado por episódios de explosões verbais ou físicas incontroláveis de raiva. Pessoas com TEI experimentam ataques súbitos de agressão que estão fora de proporção com a situação em questão. Esses ataques podem resultar em comportamentos agressivos, como gritar, insultar, danificar objetos ou até mesmo agredir fisicamente outras pessoas ou animais.
Os episódios de explosões raivosas geralmente são desencadeados por eventos estressantes ou provocativos, mas a resposta emocional é consideravelmente desproporcional à causa. Após o ataque de raiva, a pessoa pode experimentar sentimentos de arrependimento, vergonha ou culpa.
O tratamento geralmente envolve uma abordagem multifacetada que pode incluir psicoterapia individual ou em grupo, medicação para controlar a agressividade e o humor, além de técnicas de gerenciamento de estresse e habilidades de controle da raiva. É extremamente importante procurar ajuda profissional, pois um diagnóstico adequado e um plano de tratamento podem ajudar a controlar e gerenciar os episódios explosivos de raiva.
Talvez, pelo que vimos no game, o esquilinho sofresse desse transtorno e a única coisa que ele precisasse era de um acompanhamento médico…
E chegamos ao fim de mais, um texto. Espero que tenham gostado. Recomendo Conker’s Bad Fur Day para quem curte um game com um humor ácido e teor mais adulto. Em 2005 ele ganhou um remaster para o Xbox clássico intitulado Conker: Live & Reloaded, o qual recebeu, além das melhorias gráficas, alterações na gameplay deixando o game mais acessível, porém acabou tendo alguns detalhes da história cortados.
Se quiser, deixe aí nos comentários sua crítica, elogio, sugestão ou se já jogou Conker’s Bad Fur Day.
Ah, e para dizer que esse texto não teve nenhuma referência ao filme Um Dia de Fúria, fique aí com a referência. Até a próxima.
Fontes: Wikipédia, Conker Wiki, O Dia, Galileu, Galileu e Universa UOL