Algum tempo atrás, em outro texto, abordamos a febre das “mascotes” que ocorreu na década de 90 e começo dos anos 2000, todos queriam um Mario ou Sonic para chamar de seu. Com isso, buscando inspiração para novas criações, muitas desenvolvedoras voltaram os olhos para a natureza, foi o que aconteceu com Crash Bandicoot e Sly Cooper (que inclusive foi o tema do texto citado e que você pode conferir aqui), assim a desenvolvedora australiana Krome Studios seguiu o mesmo caminho.  

E se pensarmos na Austrália, qual animal poderia ser o protagonista de um game, considerando que já tínhamos algo com cangurus e que diabos-da-tasmânia são monopolizados pela Warner? Talvez um que foi extinto “recentemente” e ainda é obsessão de certos cientistas que tentam ressuscitá-lo? Foi assim que nasceu Ty the Tasmanian Tiger. Então, prepare seus conhecimentos sobre zoologia e games de plataforma, pois hoje vamos juntos descobrir mais sobre Ty e o extinto tigre-da-tasmânia. 

Lançando em setembro de 2002 para PS2, Xbox e Game Cube, Ty the Tasmanian Tiger é o primeiro de uma série de quatro games, em que controlamos Tyrone, mais conhecido como Ty. Ele é um tigre-da-tasmânia adotado por uma família de bilbies, a qual precisa ser salva de um mundo conhecido como “O Sonho”. Para isso, Ty passa por diversas fases ambientadas na Austrália, derrotando inimigos com mordidas e utilizando também seus bumerangues, que ao longo da aventura vão ganhando upgrades e ficando mais fortes. 

O nosso destemido herói e seus bumerangues

O principal vilão é o casuar Boss Cass, que, por descender dos dinossauros, quer acabar com todos os mamíferos. Para derrotá-lo, Ty vai contar com diversos amigos feitos durante a jogatina, como o coala Julius e o diabo espinhoso fêmea Fluffy, além de um interesse amoroso, Shazza, um dingo fêmea.

O casuar vilão Boss Cass e sua contrapartida na vida real (quem jogou Far Cry 3 sabe o quanto esse bicho é feroz)

Só pela premissa deu para ver que a Krome Studios usou bem a fauna exótica da Austrália. Por falar nisso, mais de 80% dos animais do continente só existem nessa região. Isso ocorre devido ao afastamento do continente (Oceania, do qual a Austrália faz parte) em relação ao resto do mundo.

Esse processo ocorreu cerca de 510 e 570 milhões de anos atrás. O continente Gondwana se separava, dando origem à América do Sul, à África, à Oceania, ao subcontinente Índia, à ilha de Madagascar e à Antártida. Com isso, os animais da Oceania puderam evoluir de forma “diferente” do resto do mundo. 

E se estamos falando de um continente isolado, o que podemos dizer sobre uma ilha que faz parte desse continente e é considerada um dos lugares mais isolados do mundo? 

A Tasmânia é considerada um estado da Austrália e fica mais ao sul do país. Há evidências de povos aborígenes na ilha de cerca de 35.000 anos. O primeiro contato com os europeus aconteceu em 24 de novembro de 1642 pelo explorador neerlandês Abel Tasman. O que a levou a ser uma colônia do Império Britânico, se tornando uma federação apenas em 1901.

Localização da Tasmânia em relação à Austrália

Apesar de ser mais conhecida por ser lar do demônio-da-tasmânia, a ilha também foi o habitat do nosso amigo tigre-da-tasmânia. Vamos falar sobre isso então. 

O tigre-da-tasmânia, que apesar de ter uma aparência de cachorro, acabou ganhando esse nome devido às listras em suas costas, foi o maior marsupial carnívoro dos tempos modernos. Marsupiais, como os coalas, cangurus e gambás, são mamíferos em que o nascimento acontece cedo, assim seu desenvolvimento termina em bolsas abdominais conhecidas como marsúpios. Essas bolsas estão presentes nas fêmeas e é onde também ocorre a amamentação. O tigre-da-tasmânia possuía hábitos noturnos, passando o dia em cavernas ou troncos de arvores. Eram descritos como animais tímidos na presença humana (bem diferente do nosso protagonista do game, que emana uma vibe radical anos 90, totalmente baseada em Sonic).

Como se já não fosse o bastante, até Sonic ganhou um personagem mais cool e marrento no início dos anos 2000

Acredita-se que ele tenha vivido também na Austrália continental e na Nova-Guiné, porém sua extinção nesse território ocorreu há cerca de 2000 anos, resultado da competição com os humanos indígenas e possivelmente com os invasores dingos (uma espécie de canídeo selvagem). Apesar de não existirem mais nessas regiões na época da chegada dos europeus colonizadores, na Tasmânia eles eram vistos. 

Já no início dos primeiros assentamentos europeus, eles eram creditados aos diversos ataques às ovelhas que ocorriam, o que levou à liberação de sua caça, inclusive com o recebimento de recompensas pelo abate do animal. Isso, somado a outros fatores como a competição com cachorros selvagens (levados pelos colonos), erosão do habitat e até doenças, acabou levando a sua completa extinção.

Essa foto, tirada em 1933, é um dos últimos registros do tigre-da-tasmânia

Vários espécimes viveram em zoológicos, mas não foi possível a reprodução em cativeiro. O último tigre-da-tasmânia morreu em 1936. 59 dias depois de sua morte, o governo australiano introduziu a proteção oficial da espécie. 

Buscas foram feitas e indicaram uma forte possibilidade de sobrevivência da espécie até a década de 1960, mas nenhum animal foi encontrado. Deste então, foram registradas várias aparições, mas nenhuma foi realmente comprovada. 

Recentemente tem ganhado espaço na mídia o protejo que tem como finalidade a “ressureição” do tigre-da-tasmânia. O projeto é uma colaboração entre a Universidade de Melbourne e a Colossal Biosciences, fundada pelo empresário de tecnologia Ben Lamm e pelo geneticista da Harvard Medical School, George Church (uma das várias equipes que estão por trás do projeto de trazer uma espécie de mamute de volta a vida). 

De maneira geral, a equipe primeiramente vai construir um genoma completo do animal extinto, depois vai compará-lo com seu parente mais próximo, um pequeno marsupial chamado dunnart-de-cauda-grossa, e assim verificar as diferenças entre eles. Pegando as células vivas do dunnart, eles vão editar o seu DNA em todos os lugares onde é diferente do tigre-da-tasmânia. Feito isso, o próximo passo é utilizar células troncos e técnicas reprodutivas envolvendo os dunnart para “transformar” as células de volta em um animal vivo.

Nosso amigo DNA, trazendo ficção para a realidade

Considerando que é improvável que os cientistas consigam o genoma completo do tigre-da-tasmânia, mesmo dando tudo certo, o resultado deve ser um híbrido bem parecido com o animal extinto. Ainda há toda a questão de colocar de volta na natureza, um animal que já foi extinto. Qual seria o impacto disso? 

De qualquer maneira, os cientistas envolvidos estão animados e acreditam que o processo deve ser mais rápido do que o processo de trazer de volta o mamute, visto que a gestação do mamute é bem mais demorada. Mas vale lembrar que nenhum cronograma ainda foi definido.

Abaixo um registro em vídeo do tigre-da-tasmânia (colorido digitalmente):

Quanto a nós, enquanto esperamos para ver se isso vai dar certo ou não, podemos jogar os games desse marsupial extinto. Inclusive, recentemente tivemos a remasterização de Ty the Tasmanian Tiger e Ty the Tasmanian Tiger 2: Bush Rescue ganhando versões em HD para os consoles de nova geração e PC. Fica a recomendação, são games que têm seus defeitos, porém podem ser muito bem apreciados se você quiser um jogo de aventura simples e com bastante itens para coletar.

Chegamos ao fim de mais um texto. Espero que tenham gostado. Deixe aí nos comentários se você já conhecia Ty the Tasmanian Tiger e se já jogou algum game da franquia. Críticas e sugestões são sempre bem-vindas. Até a próxima. 

Fontes: Wikipédia, Galileu, GrenBond, Shin Reviews, Jogando Casualmente, Globo.com, Connection Austrália e CNN Brasil