Eu gosto é de conversa sadia. Gosto de dizer o que eu penso e receber argumentos, e não insultos. Gosto de ouvir a opinião alheia e, se eu não concordo com ela, rebato didaticamente com informações e fatos que corroboram meu ponto de vista. E, veja bem, meu objetivo nunca vai ser fazer o outro mudar de ideia ou pensamento, o meu humilde intento é abrir os olhos do sujeito para outros pontos de vista que não o seu. Isso se eu tiver abertura da pessoa para tal, caso contrário me despeço com educação e sigo minha vida em paz.

Somos seres totalmente compartimentados. Digo isso no sentido de que somos feitos de nossas experiências pessoais, pessoas que conhecemos, coisas que ouvimos, coisas que lemos, coisas que fazemos e sentimos. Somos moldados com o tempo e dependendo da nossa admiração ou repulsa por quem nos fala, guardamos ou ignoramos totalmente as coisas que são ditas na nossa caminhada de construção pessoal.

Portanto, depois de ouvir o que foi dito por André Valadão sobre a instituição faculdade quero trazer algumas informações importantes que sustentam meu apoio completo às instituições superiores de ensino, independente da maturidade ou não do estudante.

Na minha família fui a primeira a ter ensino superior público. Iniciei meus estudos no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro no Campus de Nilópolis, na Baixada Fluminense. Escolhi o curso de licenciatura em química pois era uma área que me agradava e também um curso onde minha nota no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) ficava dentro da nota de corte do SISU (Sistema de Seleção Unificada).

Lembro como se fosse hoje, foi um evento. Saímos para comer pizza, comemoramos como se fosse o meu aniversário. Isso porque o sonho dos meus pais sempre foi fazer faculdade mas não tiveram apoio e muito menos oportunidade. Quando iniciei as aulas achei que não ia dar conta, pois era muito conteúdo, muito trabalho, muita palestra, muita leitura, muita prova, muito tudo. Foi um boom de conhecimento absurdo. Tropecei bastante e fui pegando o jeito e o ritmo. Chorei muito durante todo o processo, noites em claro estudando, sem tempo pra comer saudável e ônibus lotado.

Não sei qual o conhecimento do leitor quanto ao processo de formação na Universidade, mas os estudantes precisam pesquisar um assunto relacionado à área e apresentar um trabalho de conclusão de curso para poder receber o diploma. Esse trabalho é avaliado por uma banca com professores doutores e mestres no assunto escolhido e, dependendo da nota recebida, você é aprovado ou não. Escolhi o tema “Uso do teatro no ensino de química”. Li muito sobre o assunto, fiz um curso rápido de teatro, conheci pessoas da área, entrevistei professores e alunos sobre o tema. Apresentei e aprovei. Que felicidade. Mais uma conquista pessoal.

Ok, mas porque você contou isso tudo? Bom, queria focar nessa última parte aí: o Trabalho de Conclusão de Curso. A pesquisa em si é o pilar que mantém as Universidades e, como tem faculdade de tudo quanto é área, existe também muita pesquisa que nem sequer imaginamos acontecendo neste exato momento. Pesquisas que levam a resultados que podem chegar até a vida cotidiana da população, nos ajudando a viver com mais qualidade. Eu pesquisei sobre teatro no ensino de química, mas tem estudante de medicina criando um processo novo de cirurgia do coração, tem estudante de artes produzindo quadros que nos trazem emoções novas, tem estudante de psicologia desenvolvendo uma terapia nova para ansiedade, tem um farmacêutico estudando uma nova vacina para a população, tem engenheira química pesquisando nanotecnologia para ajudar no tratamento do câncer e por ai vai.

Se eu ficar aqui colocando tudo que é possível esse texto não acabaria nunca, pois toda hora surge um assunto novo, uma direção nova, um debate novo. E isso só é possível com pessoas acessando a faculdade. Pessoas ricas e pobres, pessoas negras e brancas, pessoas trans e cis, cristãos ou ateus, ou seja, todas as pessoas, todos os pontos de vistas, quanto mais variedade melhor. Estudantes de biologia vão concordar comigo: “quanto maior a variabilidade, maior a chance de sobrevivência”. A faculdade sobrevive a custo do debate coerente e foco no desenvolvimento. Quem vive a faculdade certo vive para o bem da sociedade, seja qual área for.

Agora voltando à fala do pastor. Consigo entender o contexto e a forma de pensar do sujeito. Consigo de verdade, e não me julguem por isso. Ele foi criado e viveu experiências diferentes da minha, ouviu coisas diferentes, viu coisas diferentes. Somos diferentes e tudo bem. Pensar de forma idêntica sobre algum assunto acho até difícil. Consigo entender quando ele fala que faculdade não é para pessoas imaturas.

Ser imaturo significa irresponsabilidade, comportamento impulsivo, falta de empatia, busca constante por aprovação e falta de autocontrole. A imaturidade é uma forma de resposta negativa ao ambiente que se apresenta, sendo o ambiente favorável ou não. O problema, então, não está na universidade, mas sim no sujeito e seu processo de formação pessoal. É inquestionável, do ponto de vista psicológico e baseado em muita pesquisa feita em universidades (rs), que a imaturidade pode estar ligada à infância da pessoa, pais muito rígidos, ambiente familiar instável ou superproteção.

Acredito que o foco do pastor, no momento do discurso, era ajudar os pais na criação dos seus filhos e não atacar as universidades. Mas a fala foi um tanto infeliz, isso é a pura verdade. Além do mais, eu não vi a palestra toda ser divulgada, somente um pedaço. É muito cômodo tirar conclusões sobre algo sem saber do todo. Precisamos pesquisar mais sobre as coisas (novamente rs). De todo modo, nada do que o pastor falou tira o mérito e a necessidade de as universidades mostrarem um mundo de possibilidades para os seus estudantes.

Queridos pais que bateram palmas para a fala do pastor, espero, de verdade, que não levem ao pé da letra o que foi dito. Espero, de verdade, que entendam que uma sociedade com qualidade de vida e desenvolvimento precisa das pesquisas que são desenvolvidas no meio acadêmico. Além do mais, conheço algumas pessoas que eram imaturas antes de entrar na faculdade e, depois da experiência, desenvolveram senso crítico e de responsabilidade.

De maneira geral, e para fechar esse texto, quero dizer para lerem muito, sobre tudo, conheçam lugares e pessoas novas, com pensamentos diferentes do seu e vivências diferentes da sua. Conversem mais, debatam mais, com educação e argumentos. Saibam ouvir, saibam responder, saibam evoluir com tudo isso. Vamos parar de retrucar (responder rapidamente) e vamos ouvir e pensar junto com o outro com empatia, e não querendo vencer. Se você debate querendo vencer, já perdeu antes mesmo de falar.