Medo. Algo tão primitivo, um sentimento tão instintivo, que nos move, nos prende, nos motiva, e nos faz aprender, seja para o bem ou para o mal. Não sei dizer quando começamos a sentir medo, se logo que saímos do útero, se com as primeiras interações conscientes… Não dá para saber exatamente. Só sabemos que o medo é um sentimento constante nosso, quer você leitor perceba, ou não.Há quem diga que o medo foi o que nos trouxe até aqui como espécie, pelo instinto de proteger a prole e continuar a população. Esse seria o nosso medo mais primitivo, o mais relacionado ao instinto. Ele está ligado à nossa capacidade de analisar os padrões da natureza, habilidade incrivelmente desenvolvida na nossa espécie, e determinar se cada situação é perigosa ou não. A vida dos seres humanos é tão importante para cada indivíduo como é para outros animais que também possuem o instinto de preservação. A diferença para os humanos é que a análise das situações ficou muito mais complexa, e a capacidade de determinar a probabilidade de morrer melhorou e muito.
Na minha opinião de simples humana medrosa, os hominídeos em geral não sabiam que já tinham o conceito de probabilidade definidíssimo, mesmo ainda não tendo como explicar com palavras. Saber que entrar numa caverna sem iluminação era perigoso a maior parte dos animais “sabe”. Olhar para os sinais em volta dessa caverna para detectar se houve atividade recente por exemplo, já é algo mais complexo dentre muitos outros padrões que os indivíduos daquela época conseguiam distinguir. Esse comportamento foi capaz de aumentar, e muito, as chances de sobrevivência dos nossos parentes primitivos, e por isso eu digo que sim, o medo nos trouxe até aqui como seres humanos, nesta internet marota, neste portal, neste texto, deste lindo dia.
Mas o medo tem outras mil facetas que continuam sendo instintivas desde sempre, mas não são conscientes. Esse tipo de medo que estou falando agora vai além do medo de sofrer um acidente ao andar nas ruas, do medo de entrar em um avião, e do medo de pular de paraquedas. Esses medos são fáceis de entender, pois estão ligados diretamente com a probabilidade de morrer. O medo mais subconsciente é o medo que me fascina, que me faz querer entender mais sobre nós humanos como seres sociais.
A sociedade como vemos hoje é algo muito complexo de se entender, a relação entre os seres humanos, seus pais, seus filhos, avós, tios, primos, é única para cada família e segue um conjunto de regras muitas vezes inconscientes. Essas regras moldam o crescimento de cada membro dessa família, juntamente com o ambiente não familiar em que essa pessoa vive. Com isso, várias crenças são criadas, que marcam a vida de cada um. Como exemplo, temos crenças que podem gerar medo na vida adulta, como é a rejeição. Dependendo de como fomos criados, a rejeição é algo fácil de lidar, mas como eu vejo na maior parte das pessoas que conheço, esse sentimento é muito temido. Várias situações nos fazem sentir rejeitados, e cada uma dessas situações tem sua importância durante a vida.
Quem nunca teve medo de uma situação nova? Um emprego novo, uma função nova? Uma escola nova, um curso novo? Acho que todos nós já passamos por um momento assim, e toda a nossa história de vida e crenças ajudam a avaliar os “perigos” de cada momento novo. Provavelmente não teremos mais que nos preocupar com predadores em cavernas, mas o nosso instinto de proteção está presente, agindo de maneira inconsciente, para que as experiências que passamos sejam as melhores possíveis. Com isso, o medo, nosso instinto primitivo (que de primitivo não tem nada), pode continuar sendo parte da nossa vida, avaliando cada movimento nosso, de uma maneira mais adaptada aos nossos comportamentos de hoje, mas sempre lá, presente.
Por isso eu digo que nós humanos temos medo. Eu tenho medo! Não tenho vergonha de dizer que tenho medo de muitas situações na vida, mas porque entendo que esse medo é um instinto de proteção.
E você, leitor? Tem medo do quê?