Um jeito simples de descrever uma partida de futebol seria 23 homens (afinal tem o juiz) correndo atrás de uma bola sem efeito nenhum sobre o destino da humanidade.
Porque não importa o resultado do Fla x Flu, segunda tem expediente, o clima não vai mudar, a Terra vai continuar girando. Talvez você tenha o direito de zoar seu chefe porque seu time ganhou, mas não será nada de efeito que vá mudar o curso da história. Nem o resultado das Copas do Mundo mudam o curso da História (aquela com H maiúsculo).
Mas, pessoalmente, eu sinto muito mais. Futebol é uma experiência de pertencimento. São 60 mil pessoas que não se conhecem reunidas em um estádio cantando em uníssono o amor a um time que existe desde muitos anos e continuará depois que todos nós viremos pó.
Comece no 1:05 do vídeo, para entender meu arrepio.
Um amigo expatriado nos EUA encontrou no grupo dos torcedores do seu time uma família longe da família. Sem falar nas (maravilhosas) histórias de pessoas que fizeram as viagens mais loucas para ver o time jogar uma final de campeonato.
Mesmo assistindo sozinha em casa, é a coletividade dos gritos na janela. Os sorrisos para estranhos na rua usando a mesma camisa que a sua. Uma mísera bola sendo chutada tem o poder de unir pessoas de diferentes classes, gêneros, cidades, países.
Parece supérfluo, mas se você nunca se arrepiou ouvindo um estádio inteiro cantando um hino nacional à capela, você não tem coração.
(jura que você não se emociona?)
E eu falo de futebol, mas o esporte em geral proporciona isso. Em um mês, viveremos as Olimpíadas e torceremos por outros brasileiros dos quais nunca ouvimos falar em esportes cujas regras jamais entenderemos.
Quando eu recebi um diagnóstico médico difícil, eu jurei que quando tudo passasse eu iria realizar um dos meus sonhos… ver meu time de futebol americano em Boston. Muita gente disse que era um sonho idiota. Mas quando cheguei no estádio, quando a partida começou, quando meu time ganhou, eu chorei. Pela experiência, pela realização de um sonho, pelo fato de estar viva. E choro até hoje lembrando a sensação incrível de estar lá e abraçar estranhos porque o time marcou faltando 17 segundos para a partida acabar.
Também faz parte das minhas lembranças desde que eu tinha 3 anos passar domingo à tarde com meu pai vendo jogo do Flamengo. Mesmo que a gente não concorde com mais nada hoje em dia. Em algum lugar do universo, tem um caderno onde fiz meus primeiros rabiscos de letras: aprendi a escrever com os nomes dos jogadores da Copa de 94. Eu conheci uma das minhas amigas jogando handball juntas na escola, uma amizade forjada à boladas. O esporte é parte da minha vida, mesmo que eu nunca tenha jogado profissionalmente.
Você pode ser uma das pessoas que acha o esporte uma atividade sem consequência. Uma perda de tempo, de saliva, de gritos, de tecido para camisa. E tudo bem. Mas para mim (e para muita gente), o esporte é o coração batendo mais forte, gritos em uníssono, pertencimento e a certeza de estar viva.