Meu nome é Laianne Costa Batista. Tenho 22 anos e sou acadêmica do quinto semestre no curso de Tecnologia em Alimentos, no IFCE – Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia do Ceará, campus Limoeiro do Norte. Além disso, sou bruxa e monitora da Tribo Sky na EMA – Escola de Magia Alimentar. Porém, antes de explicar como a EMA surgiu e eu me tornei uma bruxa, vamos voltar alguns anos, para quando essa que vos escreve tinha 11 anos e conheceu a história de um garoto, também de 11 anos, chamado Harry Potter.
Conheci o universo de Harry Potter através dos filmes e logo de cara fiquei fascinada com a magia, encantada pelos personagens e querendo muito ir para Hogwarts. Hermione logo se tornou minha personagem favorita, pelo fato de termos muitas coisas em comum: ela lia todos os livros didáticos logo no início do ano letivo e eu sempre lia os meus assim que os recebia; ela estudava bastante antes das provas e era muito participativa nas aulas, assim como eu sempre fui e chegava a ser considerada como uma pessoa irritante por causa disso, algo que meus colegas também pensavam de mim. Mas não era só com a Hermione que eu me identificava: também me sentia deslocada como o Harry, desajeitada e esquecida como o Neville e tão louca quanto a Luna.
Só tive a oportunidade de ler os livros anos depois, quando um amigo conseguiu todos eles emprestados e assim nos revezamos na leitura deles. Ler os livros aumentou exponencialmente meu amor pela saga e desde então eu a releio pelo menos uma vez ao ano. O universo de Harry Potter não só me proporcionou inúmeros momentos felizes, como também me ajudou a fazer muitas amizades desde a infância e até hoje conheço pessoas novas por causa da saga. Esse universo de magia se tornou uma espécie de segunda casa para mim e sempre que estou me sentindo triste, sozinha ou perdida, procuro conforto nos livros e filmes, naqueles personagens que já conheço há tanto tempo, que os considero como velhos amigos.
Como qualquer fã, sempre esperei pela minha carta de Hogwarts, mas ela nunca chegou então fui seguindo com a minha vida de “trouxa”. Os anos passaram e em 2015 entrei no IFCE, para cursar Tecnologia em Alimentos. Entretanto, ao escolher o curso, eu nem imaginava que estava entrando em um universo tão cheio de magia quanto o criado pela J. K. Rowling. No curso, descobri que dois dos meus colegas, Felipe e Geane, eram muito fãs de Harry Potter, o que nos rende até hoje conversas enormes sobre os filmes e os livros.
Química sempre foi minha matéria favorita desde o Ensino Médio e, durante o curso, encontrei a magia nas aulas dessa disciplina, que é ministrada pela Professora Renata. Percebendo meu fascínio pela Química e também sabendo do meu amor por esse mundo de magia, a Professora Renata me perguntou se eu não teria interesse em participar de um projeto que tinha como objetivo usar elementos do universo de Harry Potter para melhorar o ensino da Química. Claro que minha resposta foi sim. Começamos o projeto com nós duas lendo os livros e anotando as ideias que iam surgindo. Planejamos algumas aulas, incluindo uma sobre a Pedra Filosofal e alquimia sendo associadas com a história da Química e também aulas práticas relacionadas com poções. Inicialmente o plano era aplicar as aulas elaboradas em escolas de Ensino Médio da cidade e dos arredores. Entretanto, como também estávamos próximo ao início de um novo semestre letivo e uma nova turma de Alimentos estaria entrando, pensamos em aplicar o projeto com eles também, pois uma das disciplinas do 1º semestre é a Química Geral. Mas como a magia acontece sempre de maneiras misteriosas e inesperadas, houve algo que mudou totalmente o rumo dos nossos planos.
A professora de Inglês do campus, Karlucy, estava em um intercâmbio nos EUA e durante o qual ela teve contato com uma escola de Ensino Fundamental que utilizava um sistema de tribos semelhante ao sistema de casas em Hogwarts. As tribos competiam em uma corrida de pontos, todos os funcionários eram membros de uma das tribos e os novatos descobriam a sua tribo girando uma roda enorme. Com a ideia de fazer algo semelhante ao sistema de tribos no campus, mas com características regionais e interdisciplinares, ela retornou ao Brasil. A Professora Renata aceitou imediatamente a ideia e o próximo passo foi levar a ideia para outras professoras, Mayara e Séfura, que ensinam respectivamente as disciplinas de Biologia Geral e Química Orgânica. E assim estava criada a EMA – Escola de Magia Alimentar, com essas quatro professoras compondo a diretoria. Em seguida, houve a elaboração da carta mágica, que contaria para os alunos que eles eram bruxos e tinham uma vaga na escola, mas ainda havia a questão de como as cartas seriam entregues. Como sou bolsista da Professora Renata, eu sabia da existência da EMA, mas não de todos os detalhes e não saber sobre eles acabou me proporcionando um dos momentos mais inesperados de toda a minha vida.
Estávamos em um dia bastante corrido no campus, pois tínhamos que apresentar um projeto para a nota final da disciplina de Apícolas, que é ministrada pela Professora Mayara, uma das mentoras da EMA, e a apresentação desse trabalho contou com a participação das professoras Renata e Karlucy como avaliadoras. Com o nervosismo da apresentação, nós nem percebemos que as professoras estavam preparando uma surpresa para a gente. As apresentações ocorreram muito bem e depois houve uma premiação e todo mundo estava animado porque estávamos bem próximos do fim do semestre. Até que do nada começamos a ouvir um barulho, parecido com um relógio, na sala. E ele não parou. Primeiro, achamos que era algo fora da sala, mas como o barulho não diminuía, começamos a procurar de onde ele poderia estar saindo. Não me considero uma pessoa medrosa, mas já estava achando que tinha uma bomba na sala e íamos todos morrer. Até que um dos alunos, o Felipe, achou um pacote suspeito escondido dentro da lata de lixo e o barulho vinha de dentro dela. Cuidadosamente ele abriu o pacote e dentro dele tinha um maço de cartas. Nesse momento, finalmente entendi o que estava acontecendo: nós estávamos recebendo nossas cartas!
É difícil colocar em palavras o que eu senti naquele momento. Harry Potter fez parte da minha infância, adolescência e continuava fazendo parte na minha vida adulta, me trouxe muitos amigos, me deu muitas alegrias e eu estava finalmente recebendo algo que todo fã sempre sonhou em receber: a carta mágica! E não era só uma carta simbólica de Hogwarts, mas sim uma carta para uma escola de magia de verdade na minha própria universidade! Tive que segurar o choro enquanto lia a carta e nela ainda tinha um enigma que levou a escolha dos quatro monitores e eu fui uma das que obteve esse privilégio. Em um só dia, eu tinha me descoberto bruxa, recebido minha carta e ainda sido escolhida monitora. Quando cheguei em casa naquele dia, eu literalmente tive uma crise de choro e nem conseguia conversar com meus amigos direito para contar o que tinha acontecido. Eu estava chorando de pura felicidade por saber que estava vivendo um dos melhores dias de toda a minha vida. Quando eu finalmente consegui me acalmar, fui agradecer as professoras que organizaram tudo. Mesmo hoje, meses depois, ainda sinto vontade de agradecê-las todos os dias, porque eu estou literalmente vivendo um sonho: poder não só estudar, como também ajudar na organização de uma escola mágica.
Após esse dia, já sabíamos que todo o quinto semestre queria participar da ideia, então passamos a planejar como seria a entrega das cartas para os alunos do terceiro semestre e foi um momento tão mágico quanto a entrega para a minha turma, porque pudemos ver em primeira mão a alegria deles ao receberem suas cartas. Isso na verdade é uma das coisas que eu mais gosto na EMA: ver o quanto os alunos ficam empolgados e felizes com a ideia de serem bruxos. Após a entrega das cartas, houveram várias reuniões para definir como a EMA iria funcionar, quais seriam os nomes das tribos e suas características, entre outras coisas. Os nomes das tribos são Moon, Sand, Sky e Sun, cada uma delas com sua respectiva cor – azul, vermelha, amarela e verde, tendo uma das professoras idealizadoras do projeto como mentora e com um monitor. Foram confeccionados um brasão oficial para a escola, um brasão para cada tribo e também foi feito um lema: “Do not control your hunger for books (não controle sua fome por livros)”. A decisão de ter os nomes das tribos e o lema em inglês foi para despertar o interesse para o idioma, que seria estudado pelos alunos no primeiro semestre, reforçando o caráter interdisciplinar dessa proposta pedagógica. Como uma das características da EMA é utilizar elementos regionais, foram escolhidos animais característicos do Nordeste como símbolos de cada tribo e também lendas e mitos do folclore brasileiro como protetores das tribos. Foi também elaborado um regulamento, contendo uma lista de ações que tanto poderiam trazer pontos quando poderiam descontar pontos.
O principal objetivo da EMA é tornar as aulas dos primeiros semestres do curso de Tecnologia em Alimentos mais dinâmicas e também fazer com que os alunos se interessem mais pelo aprendizado. Todos os alunos do curso estão participando e a maioria dos professores do curso, além de funcionários, membros da Coordenação, da Assistência Estudantil, da biblioteca e a Diretora de Ensino do campus, que também aceitaram participar. Como aluna do quinto semestre, entendo como estar entrando na faculdade pode ser difícil. Você não conhece ninguém, não conhece o campus e até as coisas mais simples, como pegar um livro na biblioteca, podem ser extremamente complicadas. É aí que eu considero a EMA uma ideia genial. Como todos os alunos do curso estão participando, fica muito mais fácil com que os novatos interajam com os veteranos e com os professores, servidores e com todos da instituição.
Com os primeiros detalhes da organização estabelecidos, só faltava uma coisa para a EMA começar de verdade: descobrir uma forma de selecionar os participantes para as tribos. Infelizmente, não podíamos contar com o chapéu seletor. Então, resolvemos usar a magia presente na Química. Surgiu assim a ideia de realizarmos a Cerimônia da Poção Seletora. Utilizando o indicador de pH de repolho roxo como uma poção mágica, foram escolhidos ácidos, bases e sais com diferentes valores de pH, que ao entrar em contato com o indicador, ficariam com as cores de cada tribo e assim a pessoa seria selecionada.
Todo esse planejamento foi feito durante as férias, para que tudo ficasse pronto para a cerimônia de abertura, que iria acontecer nos primeiros dias do novo semestre letivo. No primeiro dia de aula, houve uma pré-abertura com a seleção das mentoras, dos monitores, alguns professores e alguns alunos do quinto semestre, para suas respectivas tribos. Cada pessoa selecionada ganhava um botton da sua tribo, um botton extremamente lindo, devo dizer. No terceiro dia de aula, houve a verdadeira Cerimônia de Abertura, onde foi mostrada uma apresentação de slides falando sobre as principais informações sobre a EMA e como ela iria funcionar. Os monitores falaram um pouco sobre cada tribo. Depois, houve a seleção dos alunos do primeiro e terceiro semestres, dos demais professores, funcionários e até alunos do Mestrado Acadêmico em Tecnologia de Alimentos do campus. Foi um momento muito divertido, porque cada tribo torcia para que o próximo a ser selecionado fosse para sua tribo e comemoravam bastante quando isso acontecia, o que me lembrou bastante a cerimônia de seleção para as casas que acontece em Hogwarts. É nesse ponto que posso falar que o IFCE me lembra muito a escola bruxa. Dumbledore uma vez disse que: “Hogwarts sempre ajudará aqueles que a ela recorrerem.” Para mim, isso é algo que também acontece no IFCE. Os funcionários são sempre solícitos, atenciosos e fazem de tudo para nos ajudar e os professores estão sempre tentando pensar em algo diferente para tornar o aprendizado mais divertido e dinâmico, sendo a EMA uma das principais provas disso. E durante o curso chega um ponto em que você passa mais tempo na instituição do que na sua própria casa e é aí que ela começa a ser considerada como uma segunda casa, exatamente como Hogwarts é vista pelos alunos bruxos. As salas, os laboratórios, as rampas, o pátio se tornam tão conhecidos, que é quase como se eles tivessem vida própria e se comunicassem com você, muito parecido com a Sala Precisa. Para mim, tudo isso só ajuda a tornar mais fácil a estadia na universidade.
No momento em que escrevo esse texto, estamos com quase um mês do início do semestre letivo, quase um mês do início da EMA. Todos os alunos do curso (aproximadamente 100 alunos) já foram selecionados; a maioria dos professores aceitaram participar e estão planejando fazer algo em suas aulas que conte como pontuação.
Uma das coisas que me deixa muito feliz é ver os alunos e professores usando os bottons das suas tribos, seja nas suas blusas, nas suas mochilas ou nos seus crachás, como é o caso dos professores. Isso significa que eles realmente se sentem parte da EMA e estão apreciando o projeto. Também tive a oportunidade de fazer amizades com vários alunos novatos, não só da minha tribo, mas das outras também. Isso me faz muito feliz, porque quando entrei no curso demorou muito tempo para conseguir ter contato com os veteranos. Ser monitora me coloca em uma posição especial, porque tenho mais contato com os alunos de todos os semestres, mas também tenho contato com as mentoras, porque também participo da organização. Isso me possibilita saber o que os alunos estão achando, mas também me coloca como uma ponte entre eles e outros alunos e com os próprios professores. Venho notando a empolgação de muitos alunos com a EMA e também percebi que eles estão sempre tentando ser mais pontuais com o horário das aulas, com a entrega de trabalhos e relatórios e estão procurando participar cada vez mais das aulas. É perceptível também a empolgação de muitos com o curso em si.
Dumbledore disse várias vezes ao longo da saga que a verdadeira magia é o amor. E eu concordo totalmente com ele. Nada disso estaria acontecendo se as mentoras não amassem tanto seus alunos ao ponto de tentar algo totalmente novo no objetivo de melhorar as aulas, se os alunos não amassem seu curso ao ponto de acreditarem na ideia e ajudarem a levá-la adiante e também não seria possível se não fosse o amor de muitas pessoas por uma certa saga literária que conta a história de um bruxo chamado Harry Potter.
Laianne Costa Batista. 22 anos. Bruxa em tempo integral. Aluna de Tecnologia em Alimentos, mas que não sabe cozinhar quase nada. Apaixonada por Química, Matemática e Inglês. Nas horas livres, que são quase inexistentes, gosta de ler, assistir séries e filmes, conversar com os amigos, jogar videogames, estar no Twitter, ouvir músicas e podcasts e dormir.
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