O grupo avançava na floresta escura. Edgardo e Jacopo levavam tochas, mesmo sabendo que assim qualquer inimigo poderia facilmente avistá-los, e continuavam a avançar sem encontrar resistência. O silêncio era muito estranho, nada se atrevia a andar na floresta naquele momento.

– Os malditos estavam com pressa. Está escuro, mas posso identificar que não se preocuparam em cobrir seus rastros. Acho que não esperavam ser perseguidos aqui – falava Piero.

– Vamos evitar conversas desnecessárias, vamos nos manter concentrados – avisava Álvaro Ferri, que era o guarda mais experiente do grupo desde o desaparecimento do pai de Enrico.

O silêncio se manteve por vários minutos. Poucos metros a frente, acharam uma trilha, e Álvaro fez sinal para que o grupo seguisse por ali. Provavelmente, os raptores a tinham utilizado. Passaram-se mais uns minutos até escutarem um assobio e uma provocação.

– Olá, senhores! O que fazem, invadindo a floresta negra? Não sabem que estão fora do seu domínio? – a voz parecia de uma mulher e vinha da direita.

– Sabem que não ficarão impunes. Terão que pagar um pedágio para chegar ao seu destino, e aviso que uma vida é pouco para passar por mim – agora a voz parecia vir da esquerda.

– Essa bruxa está tentando nos confundir. Estejam prontos! Piero, vistes alguma coisa? – Edgardo parecia irritado com a zombaria que tentava confundir os guardas.

– Piero? – Jacopo virou-se e não viu mais o jovem – Piero desapareceu, fiquem atentos, pois… – enquanto tentava terminar, a voz retornava.

– Como disse, uma vida é pouco, ainda tenho fome – a voz vinha da frente do grupo –

– Não tenho interesse nesses velhos, os mais jovens são mais saborosos – a voz continuava pela retaguarda do grupo.

Enquanto escutavam a conversa, Álvaro e Enrico largaram os escudos e as espadas, cada um sacou sua adaga e aguardavam uma luta eminente.

– Creio que ficarei com todos vocês. Seria um desperdício continuarem, acabarão mortos – a voz maliciosa agora vinha pela esquerda – posso achar um local e fazer um… Nãããõ! Como?

– Morra, bruxa maldita – Enrico segurava sua arma em forma de cruz com as duas mãos, a adaga estava cravada no abdômen da mulher.

– Você… Impossível… Você é um caçador de…?

– Não vou ouvir mais nenhuma palavra do seu veneno maldito – Enrico a segurou, aplicou um golpe que transpassou o pescoço e matou a mulher quase imediatamente.

– Muito bem, garoto! Essa coisa usava algum encantamento, a voz parecia vir de outro lugar para nos enganar. Pobre Piero, qualquer um de nós poderia ter sido a primeira vitima – Álvaro falava isso enquanto guardava a arma e recolhia seu escudo e espada.

– O que ela é? Olhe, a pele branca feito a neve, cabelos escuros, não parece uma bruxa – Edgardo apontava para o corpo.

– Olhem direito. Tem presas, a boca e os punhos sujos de sangue, é uma vampiresa. Deve ter matado Piero  – Jacopo falava enquanto apontava.

– Uma vampira, com certeza. Evelina deve estar correndo perigo, precisamos ser rápidos, o tempo dela deve estar acabando. Vamos! – Enrico procurava trazer o foco do grupo para a missão enquanto voltava a segurar o escudo e a espada.

– Estamos lidando com vampiros, senhores. Precisamos ter mais cuidado – avisava Álvaro – ainda bem que Enrico tem reflexo e instinto afiados.

– Como ela te chamou? Hum… Caçador de vampiros! Agora estamos em vantagem – Edgardo tentava quebrar a tensão do grupo com uma brincadeira.

– Edgardo, vamos manter nosso foco, precisamos resgatar a menina – reclamava Álvaro da atitude do jovem.

Assim, os quatro continuavam seguindo a trilha na esperança de achar a jovem e serem capazes de enfrentar as criaturas que cruzassem o seu caminho. Foram quase vinte minutos de caminhada naquela floresta que parecia não gostar da presença dos invasores. O grupo se sentia oprimido por ela e a escuridão não cedia. Assim mal perceberam que tinham chegando dentro uma abertura considerável dentro da trilha.

– Preparem-se! – disse Álvaro jogando sua tocha em direção a floresta e sacando a espada, o restante do grupo fez o mesmo.

Edgardo fez o mesmo: jogou a tocha em direção a floresta, onde imaginava ter visto a vegetação se movendo. À direita e à esquerda do grupo sugiram dois lobos gigantescos, não eram animais, eram o monstro lendário meio-homem, meio-lobo. Tinham mais de dois metros e meio de comprimento, pele negra como a noite, os olhos brilhavam como a lua, estavam em silêncio até o momento, mas agora rosnavam ameaçando os bravos guerreiros.

– Atenção! Mantenham a formação! – Jacopo falava com o grupo.

– Estão ganhando tempo e analisando. Evelina vai ficar cada vez mais distante! – dizia Enrico ainda concentrado.

– Vamos resolver logo isso! – Edgardo avançou em direção ao lobo da esquerda.

As duas criaturas também avançaram. Edgardo fez um movimento falso de ataque, preocupou-se mais em defender-se da investida do inimigo do que realmente atacar o monstro. A criatura avançou procurando o pescoço do jovem guarda que, usando o escudo e muita força, evitou o golpe da criatura colossal. Apesar do seu contragolpe ter ficado comprometido, ainda conseguiu fazer um corte abaixo do braço esquerdo do monstro. Foi tempo suficiente para Jacopo tentar golpear diretamente a cabeça do monstro, mas, antes que o guarda alcançasse seu objetivo, a criatura revidou fazendo um belo estrago no peito do experiente guarda. Edgardo aproveitou a chance, vendo o que aconteceria com o amigo, foi tomado por uma fúria. A criatura abrira a guarda, a espada de Edgardo entrou quase metade do pescoço da criatura fazendo jorrar sangue. O monstro ficou se contorcendo em desespero enquanto a vida deixava o corpo. Assim, o jovem correu na direção do companheiro. A criatura morria.

A outra fera avançou contra Edgardo enquanto este atacava o outro monstro. Enrico viu a intenção e não permitiu que continuasse. A criatura abriu a boca mostrando seus enormes dentes e soltando um forte rosnado. Investiu para atacar o rapaz, deu um grande salto procurando o pescoço do guarda que se esquivou do ataque com muita agilidade colocando a criatura numa situação difícil: ficara entre ele e Álvaro. Este atacou rapidamente, mas a criatura escapou e tentou uma nova investida, que foi interrompida por um forte golpe de Enrico com a espada arrancando uma das patas do monstro que caiu em agonia no chão. A criatura ainda tentava se recompor de alguma forma quando Álvaro e Enrico terminaram o serviço com golpes em pontos vitais.

Eles se viraram para Edgardo e o viram sobre o corpo sem vida de Jacopo.  Ele havia defendido a vila por quase quarenta anos, e perdera a vida lutando contra a criatura mais horrenda que tinha encontrado. Mas não havia tempo para lamentação, pois um enorme rosnado foi escutado por eles vindo da trilha. Primeiramente, enxergaram dois enormes olhos que brilhavam como a lua. Da escuridão da floresta, surgiu um lobisomem de quase três metros, seu pelo também escuro como a noite, tinha uma aura malévola e parecia sedento por sangue…