Em meio a floresta, em algum lugar entre Nerl e Belo Jardim, uma pessoa revirava os olhos e sentia terríveis náuseas. Não tinha nenhuma sensibilidade nas pernas, o corpo ainda não respondia aos seus comandos. A mente ainda estava perdida em uma série de imagens sem sentido algum. Há pouco tempo, fugia para se manter vivo em meio aos arbustos. Acostumado a ser o caçador, dessa vez experimentou a sensação de ser a caça por algumas horas. Seu mundo ainda girava, vomitou pela terceira vez. O enjoo da transformação era comum para quem não estava acostumado. Era normal que jovens magos passassem um dia inteiro sentido esse mal estar. Era motivo de brincadeira entre os veteranos, que aproveitavam essa situação para tirar vantagens dos novatos, porém ele era de um povo forte do leste, não demoraria meia hora para estar recuperado.
Depois de um tempo sentou, tentando relembrar o que acontecera e esperando que seu corpo conseguisse voltar ao normal. Lembrava que fora contratado por dois novatos para escoltar duas jovens desde de Nerl. Um era chamado de herói anão, mata-lobo. Era ridículo, nem tinha o olhar de matador. Era só um moleque que criou essa história para ganhar vantagens do pai, mas estava indo na mesma direção e ganharia algum dinheiro. Lembrava de ter acampado com eles, não lembrava do restante.
Ele se mexia pela mata em busca de água, sua cabeça ainda doía, imaginava como parara ali. Pensou se estaria envenenado ou amaldiçoado. Em alguns momentos, tinha flashes de uma fuga alucinante pela mata,. Ele se via quase junto ao chão e não entedia essas visões. O corpo voltava a balançar, os barulhos eram confusos, sabia estar numa floresta, mas não sabia a onde. Precisava beber, a garganta estava seca. Então escutou algo. Era o que tanto queria, tentou ir com cautela, mas o instinto de sobrevivência não ajudava, correu até alcançar a margem do rio. A água era clara, praticamente transparente, mas o bárbaro nem notara isso, pois tentava saciar a sede de qualquer forma, várias vezes colocou as mãos no rio para berber.
-Olhem só! Parece que alguém ficou para trás dessa vez – disse um homem surgindo da mata ao lado.
-Olha o estado desse monstro, não o deixaram com nada -disse outro homem.
-Deve ser um traidor – disse um terceiro com voz rouca.
-Deixado para trás? – indagou o bárbaro.
-Aqueles caras me traíram, maldito mago -injuriou o homem com um cólera crescente.
-Acharam o bruto? – disse alguém vindo pela direita como se estivesse fazendo o caminho do bárbaro.
Logo dois homens apareceram, tinham a mesma aparência maltrapilha do restante, eram ladrões de estradas. Por algum tempo, guardas reais patrulhavam as principais estradas dando paz a região, porém a tensão entre os reinos vizinhos fez a fronteira ficar mais protegida, deixando a região sul mais vulnerável.
– Então, bárbaro, como será? Do jeito difícil? Ou do jeito fácil? – falou o primeiro homem com uma corda na mão demonstrando a intenção de prendê-lo.
Pensou por pouco tempo, não faria sentido perder a vida assim, preferiu viver para lutar outro dia, ainda ajoelhado ergueu os pulsos como sinal de submissão.
– Muito bem, cão – disse o mais velho que acertou um belo chute com a sola de sua bota nas costas do homem do leste.
O ar fugiu por um tempo dos seus pulmões, dando uma sensação sufocante, pois foi um golpe forte. Nem notou que três homens voaram em cima dele. Enquanto era amordaçado pelo primeiro, os outros o fizeram encostar o rosto ao chão enquanto amarravam suas mãos juntos as costas.
– William, cubra esse bárbaro, chega dele ficar se exibindo – disse o mais velho.
– Vamos volta ao acampamento. Temos que nos preparar, teremos uma viagem longa amanhã – terminou o mais velho entrando na mata a frente.
Arrastado e o humilhado, Jerum era levado para uma parte ainda mais densa da floresta pelos seus captores. Os braços já ameaçavam sangrar, pois as amarras foram caprichadas, seus captores temiam que a fera escapasse. Seu povo era considerado muito esperto e cheio de artimanhas, imaginem esse que alugava sua espada e vivia pelo mundo! Mesmo preso, o homem mostrava um olhar feroz que aumentava o receio dos ladrões.
– Tomem cuidado com ele, rapazes – dizia o mais velho.
– Ele pode nos matar na primeira oportunidade – completou William.
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