Havia pouco tempo que tinham retornado a estrada original, nada de incomum aconteceu durante a noite, mas o risco que todos correm ao viajar nas estradas do reino se tornou realidade. Enquanto o bárbaro sumira para procurar uma caça, o restante do grupo acabara cercado por ladrões.
– Vamos lá! Deixem as armas e as moças, depois retornem para o buraco de onde saíram! – falava um dos ladrões com uma besta apontada para Jorge.
– Vamos, esse é pequeno, mas consigo acertar! – era o outro ladrão de cabelo loiro que zombava do anão.
O grupo não estava nervoso com a situação, todos armados encaravam os ladrões, o restante dos bandidos usava adagas para ameaçar, um deles não tirava os olhos de Helena.
– Seus vagabundos, isso é um erro, sumam com suas vidas enquanto têm chance – avisou Daniel.
Quase todos os bandidos caíram na gargalha pela atitude do mago, em seguida, um pequeno machado voou e acertou as costas de um ladrão que disparou a besta, a flecha acabou acertando Jorge, que foi ao chão com uma dor terrível. O outro virou, procurando o autor, mas só viu mato. Logo sentiu um impacto leve no pescoço, era uma faca afiadíssima jogada pelo ladino que acertara seu pescoço. A vítima caiu no chão tentando conter o sangramento, mas morreria em poucos minutos com os olhos revirados. Os outros correram mato a dentro para salvar suas vidas.
– Eu disse seus tolos, deveriam ter aproveitado – gritou Daniel.
– Silêncio, seu maldito! Cercados por cinco vagabundos, tenham vergonha! – falou o bárbaro que reaparecia de dentro do mato – Como um campeão fica nessa situação? Como vão proteger essas moças? Olha o estado desse guarda de merda – acertou um chute em Jorge, que estava caído – Daqui para frente, assumo o trabalho, retornem! Eu mesmo entrego as moças – ordenou o bárbaro.
– Não! Eu e Alerin te contratamos, você me obedece aqui – falou Daniel com a voz bem alterada.
– Não obedeço a farsantes. Tolice! Foram cercados por mendigos, vou terminar o contrato sozinho, sumam da minha frente, voltem para sua cidadezinha e levem esse verme sangrando com vocês – o bárbaro gritava descontrolado para Daniel com seu macho na mão de forma ameaçadora.
– Bárbaro ignorante, está dispensado, volte para sarjeta de onde saiu, volte a lamber o próprio rabo! Não venha com teatro, seu ganancioso, está querendo o ouro para si – Daniel também estava alterado, seu olhos já começavam a mudar de cor, lentamente Alerin mudava de posição tentando cercar o bárbaro.
– Vejamos quem é o cão sarnento, veremos se consegue repetir essas merdas sem a cabeça – o bárbaro falou isso e investiu na direção do mago.
Olhos de Daniel estavam vermelhos, nunca tinham ficado dessa forma, as veias ficaram evidentes em seu rosto, significa um esforço incomum do mago. Para surpresa do bárbaro, o jovem correu na sua direção falando algumas palavras estranhas, mas carregadas de poder. Veio rápido, tão rápido, que o bárbaro não teve tempo para golpear, e as mãos brilhantes do mago tocaram o grande homem do leste. Daniel caiu exausto para um lado, o homem sofria envolvido por brilho vermelho mágico até sumir, só restou uma grande nuvem de mágica que foi diminuindo, diminuindo, diminuindo até revelar um pequeno e inofensivo coelho. O mago, agora desmaiado, conseguiu fazer uma magia de transformação fora do comum, pois não tinha feito uma ilusão, realmente modificara outra pessoa .
Parecia uma ressaca daquelas… Sentia o corpo balançando, mas não entendia o que acontecia, então lembrou-se do bárbaro, começou a escutar os cascos dos cavalos caminhando rapidamente pela estrada, tentou erguer a cabeça, mas a tontura e a fraqueza o impedira, só algumas palavras saíram.
– Alerin! Alerin! – parecia mais um murmuro do que um chamado.
– Calma, estamos bem, graças a você. Seu feitiço deu certo, você acabou com aquele cara – disse o anão enquanto o mago fechara os olhos de alívio.
– Muito obrigada – dizia Luise que estava no mesmo cavalo para garantir que o mago não caísse.
Eles continuavam a cavalgar depressa com a ajuda da boa condição da estrada. Helena cuidava de Jorge ferido, assim, coube ao Ladino e ao anão conduzir o restante dos cavalos.
– Saudações, nobre amigo! Seu esforço deu certo, saí o mais rápido de lá levando a montaria do bruto comigo, é um belo cavalo, precisas de algo? – perguntou o anão.
– Descanso, preciso descansar. Quanto tempo dormi? – indagou o mago
– Umas três horas, estamos quase chegando em Belo Jardim, poderá descansar melhor lá, cuidaremos do Jorge também – respondeu Alerin.
– Você deveria descansar mais, ainda está um pouco pálido, nunca imaginei que magia consumisse tanto assim – falou Luise preocupada.
– Existem várias questões… Treinamento… – então o mago voltou a fechar os olhos.
– Nunca o vi assim, deve ter sido um grande esforço para fazer aquilo. Espero que não seja mais necessário, maldito mesquinho – falou com uma voz visivelmente irritada.
– Jorge e você? – perguntava Alerin enquanto deslocava o cavalo para ver como estava o outro contratado.
– Bem, formiga bastante, a fraqueza passou, ficarei bem na cidade, mas precisarei de alguns dias. Entenderei se quiser continuar seus negócios – falou o ex-guarda.
– Não se preocupe, aguardarei a recuperação do meu sócio e deixaremos as moças com o tio delas – respondeu o jovem anão.
Olhou para o mago enquanto dava um puxão para que o cavalo do bárbaro continuasse seguindo o seu. Daniel tinha recuperado a cor, as olheiras davam a impressão que o mago não dormia bem há dias. O homem estava claramente desgastado pela magia que proferiu.
– Aprendi algo novo sobre você, meu amigo – dizia o ladino.
– Como assim? – perguntou Luise.
– Nada, uma peculiaridade desse jovem rapaz. Ele quase se sacrificou por nós, é um grande homem.
Em pouco tempo, a estrada começou ficar mais larga, começaram a ver as primeiras fazendas e arcos. Isso indicava que estavam mais próximos de Belo Jardim.