Foram três dias para a recuperação de Zeh. Conforme combinado, os gastos com ele foram descontados do pagamento pelo serviço: cinco por cento do valor foram retirados para dividir entre dono do grupo e quem conseguiu o serviço. Tow, Edu receberam uma cota por serem menos experientes, Zeh ficou sem nada, duas cotas são reservadas para manutenção da base, os outros recebem duas cotas cada por serem mais experientes, menos A, que não participou da operação. Essa divisão causou um mal estar entre os garotos, pois não queriam ter gasto tanto para salvar Zeh.
Na equipe, cada um era responsável pelo seu equipamento, Ivan era o dono e líder, junto com Lee e Chris poderiam expulsar qualquer pessoa. Naquela época, era comum gente aparecer sem condições nenhuma para executar as missões (aparecer chapado ou fora de si) ou por estar sem equipamento necessário, pois gastava tudo com mulheres e farras. Na primeira vez, seria barrado, se os lideres gostassem do cara, uma repetição era garantia de expulsão no mínimo. Só alguém com talento e tenha feito algo para impressionar teria o direito de ser apenas barrado.
Nesse dia havia uma reunião marcada. Ivan conseguiu um novo serviço: escoltar uma carga de um empresa mediana até Horizon. O risco era mediano e o pagamento também. Eram equipamentos para pesquisa pesados e caros que chegaram no porto e deveriam ser entregues. Eram 200 Km de distância, bem ali, mas tinham que cruzar a periferia e duas horas de terra de ninguém até chegar no destino. Provavelmente encontrariam resistência para chegar no seu objetivo. Tinham quatro dias para se prepararem, era o tempo da chegada das mercadorias.
Nesse meio tempo, alguns aproveitaram para usar o dinheiro ganho comprando novo armamento. Dois dias antes, os garotos conseguiriam se meter numa briga num dos shows que os canários participaram. Edu e Tow acabaram presos por quase matarem uns membros de uma gangue que aterrorizava o show, mas puderam “responder em liberdade”, depois de alguns créditos serem depositados na conta do delegado por A. O pagamento pelo show e as cotas deles pelo serviço anterior conseguiram cobrir suas liberações dessa vez.
No dia do transporte para Horizon, Ivan estava contente com os membros da equipe mesmo com o incidente dos canários. Zeh estava recuperado, os outros rapazes tinham investido em armamento, novas pistolas eram vistas. Além disso, o restante do grupo tinha comprado novas proteções. Os mais experientes eram bem armados, não precisavam de novos equipamentos, bastava mais munição e uma bela manutenção sob responsabilidade do Fred antes das missões. Chris arrumou dois novatos, tão jovens quanto os canários, eram Nick e Jack.
Ivan trouxe um utilitário antigo para acompanhar os três carros da Alfa que levarão as mercadorias. O filho do dono guiará um dos carros junto com cinco empregados. A periferia estará cheia, pois é final de semana, e quase todos os jovens retornarão das instituições para encher a cidade.
Marco já estava no porto com os carros-fortes carregados, aguardando a chegada de Ivan com sua equipe. Este vinha no carro com Lee, A e Chris. O restante do grupo veio em três motos. A expectativa era chegar em uma hora e quarenta minutos, sendo quase uma hora andando em terreno aberto até o destino. A rota não era direta para evitar a agitação do final de semana.
O deslocamento inicialmente foi tranquilo. Ivan foi na frente dos carros e as motos davam apoio. Chegando na periferia descobriram que a rota escolhida estava cheia de gente, aumentando os riscos, o que deixava lento o deslocamento dos transportes. Dezenas de jovens ficavam a toa nas ruas, curtindo dois dias de liberdade até retornarem no começo da semana. Quando passaram pela confusão, chegaram numa área mais tranquila da periferia, porém, alguns metros a frente, havia obstáculos e alguns carros fechando a passagem. Ivan avisou pelo rádio para que todos ficassem atentos. Logo vários punks mal encarados saíram dos becos laterais com seus cabelos coloridos, roupas rasgadas e tatuagens estranhas. Alguns usavam mascaras, todos armados e apontando para o grupo. Ao lado do carro, uma figura alta com cabelos tingidos de verde segurava um fuzil pequeno. Não dava para entender que modelo de arma era aquele, estava cheio de gambiarras. Será que atirava? Creio que o rapaz tivesse tempo livre para testar sua criação.
O homem avisou que ali era território dos Cães de Augustos e tinham que pagar para passar. Avisou que não era bom negócio forçar a passagem. Assim Ivan, Lee e outros viram que, acima das construções, havia umas seis pessoas armadas com fuzis e tinham os carros na mira. A figura avisou que eram cinco mil créditos pelas motos e doze mil pelos carros. A saiu do carro com as mãos para cima, e isso não evitou que os outros mirassem nele. Dois pontinhos vermelhos, que insistiam em aparecer em sua roupa, procuravam o coração do negociador. A conseguiu autorização para falar, foram alguns minutos conversando com o responsável, alguns risos, e, pelo rádio, avisara a Marco que quinze mil créditos resolveriam o problema. Marco estava ciente desse tipo de coisa, torcia para que o dinheiro não fosse usado, mas era comum cruzar com as gangues antes de sair da cidade. O grande problema era fora dela. Um empregado foi até o local e acertou a transferência. Deste dinheiro que seria transportado pela grande rede até ficar guardado nos bancos da Europa e América Central, uma parte ainda era desviado para contas em bancos piratas na América do Norte. Assim foram liberados para seguir em frente. O grupo continuou para em poucos minutos encarar um terreno aberto desértico e bem perigoso.