Alex estava animadíssimo na escola. Contou a todos que tinha conseguido (quase) convencer sua mãe a dar créditos no Fortnite. Passou quase um mês inteiro falando dessas novas skins incríveis para a turma. Usou o aniversário na semana seguinte como argumento final e estava certo que tinha convencido a mãe dele. Falando no aniversário, combinou com os amigos para almoçarem na casa dele no dia, depois iriam ao apartamento da avó dele para passarem o dia na piscina. Heitor, Pedro e Clara tinham confirmado que iriam. Marquinhos disse que a mãe não o deixaria faltar às aulas de inglês e alemão, já Ana ainda estava tentando convencer a mãe.
A aula tinha acabado e estavam todos em pé arrumando as mochilas para irem embora. Alex, que conversava com Clara, não notou Marquinhos caminhando na sua direção.
– Tem certeza disso, Alex? Você realmente vai ganhar? O que ela disse? – perguntou Clara.
– Disse claramente: “vou pensar, filho”. É praticamente um sim! Você vai ver! – respondeu sorridente numa grande alegria.
– Sei… – comentou Clara com muita desconfiança.
Então um boné foi colocado na cabeça dele. Era um boné preto com o desenho do herói de Chicago, Maximum Impulse.
– Por que, cara? Está me dando o boné? – perguntou a Marquinhos.
– Sim, claro. A Joana lavou ontem, tá? Eu ganhei um novo, estou esperando chegar hoje, mas ainda não é seu presente de aniversário, beleza? – respondeu Marquinhos.
– Show, cara! Muito obrigado! Mesmo! – respondeu com um grande sorriso.
Heitor não gostou muito, pois tinha um pouco de ciúmes de Marquinhos, mas foram todos juntos até a sala de espera perto da saída, onde costumam esperar os pais. Alex, Clara, Ana e Marquinhos ficaram conversando, os outros amigos já tinham ido embora de transporte escolar.
Uma grande gritaria começou do lado de fora com tiros, batidas de carro e muita correria. Eles ficaram bastante assustados, os gritos agora pareciam ainda mais próximos.
– Saí da minha frente, porra! – gritou alguém.
Alguém tomou um grande soco e caiu no chão, em seguida a porta foi aberta com força por um homem armado com o rosto coberto.
– Aquele moleque de cabelo castanho e boné! Pega lá ele! Vai, caralho! – gritou aquele que entrou primeiro usando máscara preta para os outros dois que vinham em seguida.
Os bandidos entraram na sala, o primeiro ficou do lado da porta, o segundo bandido entrou empurrando brutalmente duas crianças até agarrar Alex pela mochila. Alex dizia que não, mas levou um tapão e foi arrastado para fora da sala por aquele homem mal cheiroso, fedendo a bebida.
Do lado de fora da sala, o local estava vazio, as crianças devem ter fugido dali para dentro da escola. Uma coordenadora estava com a boca ferida e sangrando, ela chorava ainda mais ao ver que uma criança estava sendo levada. Os homens apontavam as armas para quem aparecesse. O porteiro estava no chão sangrando, um homem tentou socorrê-lo, mas foi chutado no rosto por um dos bandidos que passou.
Correram arrastando e machucando Alex até um carro sedan na esquina. Alex ainda estava tonto da pancada que levou, mas viu alguns carros batidos. Ainda teve um pouco de força para gritar por ajuda. O garoto foi jogado para dentro do porta malas e ainda apanhou.
– Cala a boca, porra! Ou vou te encher de porrada! Tá ouvindo, caralho? – gritou o sequestrador.
O carro arrancou pela avenida principal, mas rapidamente entrou em ruelas para tentar fugir da atenção da população. Em alguns minutos, entraram numa casa grande, um sedan vermelho estava pronto com outro motorista, arrancaram Alex sem nenhum cuidado jogaram o garoto dentro do outro carro. Os bandidos colocaram as máscaras dentro de uma sacola com as camisas que usavam, trocaram de camisas e saíram sem máscaras. Dessa vez, foram com calma para não chamar atenção em direção a saída da cidade e eles conseguiram.
Quando chegaram no esconderijo, Alex foi jogado dentro de um local quente com paredes feitas de uma espécie de metal e com a cobertura de amianto. O chão era bem sujo com alguns pneus bem velhos e algumas latas de tintas vazias.
– Não chora, seu merda! Ninguém vai te escutar aqui! Só vai apanhar mais – o bandido saiu batendo a porta com força.
Alex ficava pensando o que iria acontecer. Quando achou que iria morrer, o estômago embrulhava e pensou que tinha feito tão pouco na vida. Tinha tantas coisas que gostaria de fazer e ver. Os bandidos estavam conversando e comendo algo. O cheiro entrou no local, parecia hambúrguer, o cheiro da batata frita era inconfundível. Isso fez o estômago de Alex lembrar que não tinha almoçado. Um bandido entrou de forma nada sutil e jogou a mochila de Alex contra ele.
– Se distrai com essa bagaça! Não tem comida para ti, quem sabe mais tarde. Tu não era rico? Cadê teu celular? Não tá na bolsa, não tá contigo – perguntou o bandido irritado.
– Não tenho – respondeu Alex com medo.
O bandido avançou e acertou um tapa nele fazendo mais lágrimas surgir do garoto.
– Não mente, pô! Cadê? Diz logo! – ameaçou o bandido.
– Não tenho, sério! Se tivesse, já tinha dado, não quero apanhar! Juro! – disse Alex chorando.
O bandido olhou para ele e ficou convencido, então saiu rapidamente dali deixando Alex trancado novamente.
Alex passou mais um tempo pensando na mãe e na sua irmã, pensou que iria morrer, não estava entendo nada. Por que aquilo tinha acontecido? Não ficou desesperado, rapidamente um pensamento positivo veio. “Talvez alguém tivesse suspeitado do carro dos bandidos, talvez a polícia já estivesse procurando naquela região”.
A barriga roncou e lembrou de algo que fez a fome passar um pouco. Alex abriu sua mochila, pegou um recipiente laranja e abriu. No canto do recipiente havia o resto de uma salada de espinafre e cenoura que sua mãe tinha colocado no sanduíche para o lanche. Fechou o recipiente, abriu o caderno e resolveu desenhar para se distrair. “Já, já a polícia chega para me salvar”, pensou ele, mas a barriga roncou ainda mais forte.
Uma grande discussão começou do lado de fora. Começou a sentir-se ótimo! A fome passou, e, então, sentiu algo estranho: a dor passou. Tocou no rosto e os machucados tinham sumido, estava se sentindo ótimo. Limpou uma lata velha de tinta para ver o rosto, mas acabou amassando com facilidade. Tamanho foi o susto que perdeu o equilíbrio e caiu sentado em cima de um latão de tinta que foi esmagado. Tentou levantar usando umas tábuas de madeira, mas elas não suportaram a pressão e cederam. Alex quase gritou, mas segurou a emoção.
– Eu sou … Eu tenho… Tenho super força!!! – disse para si com o maior sorriso que já fez.
Alex estava muito emocionado e confuso, esqueceu por um momento que tinha sido sequestrado, mas a realidade voltou por causa da discussão do lado de fora. Pensou um pouco e decidiu empolgado e cheio de coragem.
– Vou dar uma surra neles! – pensou sozinho enquanto caminhava em direção a porta.
Quando chegou perto, desistiu da ideia e recuou rapidamente sentindo um forte calafrio, pois lembrou de algo muito importante.
– Vou nada! Sou super forte! Quem disse que tenho super resistência a tiro!? – voltou para onde estava enquanto a discussão continuava.
– Porra, Primo! Que vacilo! É o moleque errado – gritava um dos bandidos com o chefe deles.
– Caraca, e agora? O que a gente faz? – perguntou outro muito preocupado.
– Só tem um jeito! Vou queimar esse garoto e vamos sumir, o Marcelão vai ficar puto, mas resolvo a parada com ele – disse isso pegando a arma e olhando na direção de onde Alex estava.
Um grande barulho de ferro sendo torcido veio lá de dentro, o chefe correu para dentro do lugar, levou um tempo para abrir a porta. Dois dos outros bandidos se armaram, mas o último ainda pensava e tinha vontade de fugir. Quando finalmente abriu a porta, a sala estava vazia, o garoto tinha sumido e apenas um “buraco” bem estranho na parede.