Quão grande é o seu universo? Ele têm milhares de anos-luz ou apenas alguns quilômetros? A verdade é que o universo de cada um abrange aquilo que os seus sentidos captam, o que o cerca, as suas experiências passadas. O quarto é o universo de Jack, não existe nada além dele.

O longa remete muito à alegoria da caverna, ou mito da caverna de Platão. No mito, algumas pessoas nasceram em uma caverna e vivem acorrentados nela desde então, e o único contato com o mundo exterior são sombras de animais projetadas em uma parede. Quando uma das pessoas consegue escapar da caverna, fica maravilhada em como é o mundo lá fora, ela volta e conta aos outros tudo que viu, mas todos desacreditam as suas palavras.

Fazendo um paralelo com o filme, Jack (Jacob Tremblay) e sua mãe Joy (Brie Larson) vivem em um quarto totalmente fechado, apenas com uma claraboia no teto, o único contato com o mundo exterior é uma pequena Televisão. A mãe de Jack tenta lhe explicar como é o mundo do outro lado da parede, mas ele não acha possível que seja verdade. Várias outras semelhanças com o mito da caverna estão presentes, mas evitarei falar mais para evitar dar mais spoilers.

Nós acompanhamos a história através da perspectiva de Jack, o que contribui para que o filme tenha uma certa leveza e inocência, apesar da grande carga dramática. Vemos Joy se esforçar ao máximo para deixar o lugar o mais agradável possível, ela se dedica em manter Jack feliz e seguro, cuidando dele com bondade e amor, fazendo coisas bobas como brincar e contar histórias. O Resultado são cenas lindas e meigas, entre mãe e filho, que nos deixa na fossa quando lembramos que eles ainda estão no quarto.

O filme está impecável em praticamente todos os aspectos, ele consegue tocar as profundezas da sua alma, você fica incomodado ao ver a situação deles. Mas, tudo com muito bom gosto, cada cena tem a sua importância para a obra completa, sem te chocar apenas por chocar.

O diretor irlandês, Lenny Abrahamson, consegue explorar bem cada centímetro do quarto, ele fazendo com que você se sinta claustrofóbico, sem ficar cansativo por permanecer no mesmo cenário. A forma de filmar de Lenny, consegue te passar perspectiva de como o quarto pode parecer grande para Jack. Tanto que há uma determinada cena em que é necessário que o espectador veja como o quarto é pequeno, nesse momento o diretor filma o ambiente de uma forma diferente, fazendo que você tenha a sensação de que o quarto encolheu.

Claro que eu não poderia deixar de elogiar o maravilhoso elenco, é impossível não se encantar com a atuação de Jacob Tremblay, ele expressa sentimentos de felicidade, raiva, medo e amor de forma convincente, sendo talvez o melhor desempenho infantil que eu já vi. Brie Larson, também não fica pra trás, ela consegue transmitir de forma notável os traumas da personagem, como também o seu esforço em ser uma boa mãe. Ela consegue surpreender mesmo em pequenos gestos e olhares, sem dúvida a minha favorita ao Oscar.

Nota: 5/5

 

PS: Não costumo criticar traduções de títulos de filme, mas nesse caso é necessário comentar que o nome O Quarto De Jack passa uma ideia errada do filme, dá impressão de ser um filme de terror como Jogos Mortais, ou algo assim. Enquanto que Room, o nome original do filme, te desperta uma certa curiosidade em saber do que se trata.