A hora chegou. Logan, o oitavo e último filme da franquia X-Men com Hugh Jackman no papel do mutante da Marvel que é o melhor no que faz, e o que ele faz não é nada bonito, chega hoje aos cinemas. E já chega com a missão de apagar os erros dos dois filmes solo anteriores e dar um desfecho a uma história iniciada no cinema quase 20 anos atrás.

Acompanhe o texto para saber o que esperar do filme.

P.S.: pode ler sem medo, temos zero spoilers.

There’s no living with a killing

Em primeiro lugar é preciso entender o seguinte: Logan não é um filme de super-herói. O diretor James Manigold, responsável por Wolverine: Imortal e Johhny & June conduziu a trama de forma similar a outro filme seu, o faroeste Os Indomáveis (2007). A história é visceral, tensa, seca e amarga. O mundo está um caos, os acontecimentos em torno de Logan deram errado numa escala nível ômega e não há volta. Apenas dor e lamentação.

O filme não é lento, porém não é tão agitado. Ele é frio, melancólico e se pudermos usar uma palavra para definir seu clima, a mais adequada seria “funeral”.

Logan é o resultado de um trabalho gradual em entregar aos fãs o Wolverine adulto retratado não nas HQs mensais, mas nas Graphic Novels da Marvel onde a violência e o gore poderiam correr mais soltos. Muitos fãs reclamavam que o carcajú nunca foi decentemente retratado, seja pela panca de bom moço de Jackman ou mesmo por sua estatura (1,88 m), algo que alguns consideravam imperdoável (um baita exagero, se querem minha opinião).

A Fox preferiu investir no Wolverine galã ao invés do bestial e turrão, até para atrair as mulheres; Jackman ou aparecia nu ou sem camisa em todos os filmes e não é exagero afirmar que muitas iam às sessões só por causa disso. Não é especulação, eu já comprovei tal informação.

Ainda assim a Fox tentou entregar um Logan mais adulto, mas X-Men Origens: Wolverine (2009) foi uma piada de mau gosto, ao ponto que muita gente agradeceu pelo vazamento da cópia inacabada do filme pois muita gente se poupou de ir ao cinema: ele revelava a bomba que a produção era.

Wolverine: Imortal (2013) erra em alguns pontos e acerta em outros, ainda não era tão adulto mas estava mais próximo de uma graphic novel. Ainda assim havia espaço para melhorar. A Fox manteve Manigold e decidiu adaptar a magistral minissérie O Velho Logan (2008), escrita por Mark Millar (Kick-Ass, Guerra Civil, The Autorithy, Os Supremos, The Secret Service, a base para a franquia Kingsman, entre outras).

Ainda que os rumos da história sejam completamente diferentes, o tom de desespero e depressão da HQ foram traduzidos perfeitamente na tela e deixam o espectador incomodado e tenso o tempo todo. São poucos os momentos de esperança e felicidade, pois tudo dá errado o tempo todo. O mundo deu errado, afinal.

Sem entregar muito da história, a trama de Logan se passa em 2029, um futuro onde as coisas não acabaram bem para os X-Men. Logan está num estado decrépito, uma sombra do que já foi e continua numa espiral descendente sem chances de recuperação. Charles Xavier (Sir Patrick Stewart, que também dá adeus ao mentor dos mutantes neste filme), agora um velho de 90 anos de idade também não está muito melhor.

As vidas deles mudam quando surge Laura (Dafne Keen, que foi vista na série The Refugees), uma criança que está sendo caçada por uma organização desconhecida composta por Donald Pierce (um velho conhecido dos quadrinhos, aqui interpretado por Boyd Holbrook, o Steve Murphy de Narcos) e os Carniceiros (também saídos das páginas dos X-Men).

Keen aliás rouba a cena como a pequena Laura. Embora jovem (apenas 11 anos) a atriz passa tudo o que está sentindo apenas com o olhar e as expressões corporais, e os momentos em que ela entra em ação ao lado de Logan são de tirar o fôlego. Ainda que haja a possibilidade de a vermos de novo em algum filme da franquia, é bom os produtores de Hollywood ficarem de olho nela.

Como de praxe há várias pílulas e easter eggs para os fãs da Marvel encontrarem, mas a verdade é que Logan é um filme mais abrangente e que não foi feito apenas para fãs dos mutantes e de HQs. A Fox entregou um bom drama visceral, ao estilo de Onde Os Fracos Não Tem Vez, dos irmãos Coen: violento e brutal mas ainda assim realista e humano. São as ações e sentimentos dos personagens que contam e não seus poderes, que de qualquer forma você não verá muito.

Conclusão

Logan não é um filme de heróis. Não vá para o cinema esperando por mutantes pulando na tela ou por Hugh Jackman peladão outra vez. Mangold dirigiu uma obra densa, que deixa o espectador tenso e desconfortável com a contemplação de tudo o que poderia ter sido para os personagens e não foi.

Não fossem as garras e o fator de cura, Logan se passaria facilmente por um drama introspectivo enquanto acompanhamos a derrocada de um homem que se tornou um arremedo do que era, em uma última missão de redenção por seus pecados passados. E por conta disso tudo o filme brilha.

Cotação:

5/5 velhos Logan.

Um último conselho: Logan não é um filme para menores. Embora a classificação indicativa no Brasil seja de 16 anos os responsáveis cometeram o mesmo erro de Deadpool: ambos lá fora saíram como 18+, mas aqui presumiram que um filme sobre heróis é sempre para os jovens. Não é o caso, assim como não foi com o mercenário bocudo (vide o strap-on).

Há sangue em profusão, desmembramentos, decapitações, empalações, palavrões a torto e direito e tudo o mais. Se você é pai ou mãe, tenha isso em mente antes de levar seus filhos à sala de cinema.