Os castelos, assim como as igrejas, abadias e outras construções medievais são retratos de uma era, um período temporal que muitos chamam de “Idades das Trevas”, mas a maioria conhece como a comum Idade Média, onde muitos conceitos que temos hoje, surgiram e evoluíram. O castelo de Malbork, na Polônia, não é diferente desses marcos históricos. Pode-se dizer que além de ser um grande resquício da história da Polônia, Malbork é considerado o maior castelo medieval em m² do mundo!
Bom, mas como tal castelo surgiu às margens do rio Nogat? Para contar a história desse castelo, primeiro temos de lembrar de uma parte do movimento militar das Cruzadas às vezes esquecido à sombra das invasões à Terra Santa: A Campanha Militar-Religiosa dos Cavaleiros Teutônicos (também conhecidos como Ordem da Casa Alemã de Santa Maria de Jerusalém) na região do Mar Báltico, contra o reino “pagão” da Lituânia e contra a república ortodoxa russa de Novgorod.
O castelo de Malbork foi originalmente construído pelos Cavaleiros Teutônicos depois de conquistarem as terras da “Velha Prússia” das mãos dos “pagãos bálticos”. A principal missão do castelo era fortalecer a posição militar da Ordem na região depois da grande revolta prussiana das tribos bálticas, em 1274. Infelizmente, nenhum documento contemporâneo às construções da primeira fase do castelo sobreviveu. Mas através de um estudo meticuloso de outras anotações da Ordem, de várias regiões da Europa, historiadores concluíram que o castelo ficou em construção de 1274 até 1300, tendo vários períodos de renovação e ampliação. Essas obras foram comandadas de perto pelo Comandante da Ordem Heinrich von Wilnowe.
Interessante notar que, por causa da patrona da Ordem ser Santa Maria, originalmente o castelo recebeu o nome de “Marienburg” (O Burgo de Maria). O castelo ganhou ainda mais influência na região quando os cavaleiros moveram seu quartel-general para lá, para ficar mais próximo das zonas de conflito e para administrar as recém conquistas, como a cidade de Danzig (atual Gdanzk, norte da Polônia), em 1308. Assim, nada mais nada menos que o próprio Grão-Mestre da Ordem na época, Siegfried von Feuchtwangen, comandou uma nova fase de restaurações e fortificações das estruturas do castelo. Em 1309, com o início da perseguição papal dos Cavaleiros Templários, e com medo de que essa perseguição atingisse sua ordem também, von Feuchtwangen reforçou e expandiu ainda mais sua influência na Prússia Oriental e na Polônia.
Ao longo da existência da Ordem o castelo foi expandido e reformado várias e várias vezes para abrigar o crescente número de cavaleiros e soldados. Em seu auge ele chegou a abrigar 3 mil “irmãos de armas” teutônicos, e ter 3 fortificações, separadas por fossos, barricadas e torres de vigia, e com as muralhas mais externas cobrindo uma área de 21 hectares (210 mil metros quadrados!!!), quatro vezes maior que a área do famoso Castelo de Windsor, na Inglaterra.
Em 1410, porém, nem mesmo com o melhor dos castelos da Europa Oriental, a Ordem Teutônica pode resistir às mudanças do mundo. Um exército polonês liderado por Vladislaw II e Vytautas da Lituânia (que havia se convertido ao cristianismo) derrotou as principais forças teutônicas na Batalha de Grunwald, decisiva batalha que parou os planos teutônicos de dominação na região. Marienburg continuava como base de operações teutônicas, mas estava na beira da fronteira agora, sendo uma futura “linha de frente” para futuras guerras.
Durante a Guerra dos Treze Anos (1454 – 1466), a Polônia novamente tenta retomar as terras que a Ordem Teutônica havia “confiscado” décadas antes. Nesse período, uma grande crise financeira havia abatido a Ordem, que não conseguia mais pagar seus soldados e mercenários. Marienburg finalmente foi tomada em 1460, sendo nomeada Malbork pelos poloneses.
Porém, como sabemos, a história da região da Europa Oriental é instável. Séculos depois, nos anos 1770, o Reino da Polônia seria dividido entre três grandes impérios (o Prussiano, o Autro-húngaro, e o Russo). Até o fim da Primeira Guerra Mundial (1918) não existia mais Polônia, e Malbork voltou à ficar em mãos teutônicas (através de seus descendentes prussianos).
Durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler via Malbork como um símbolo da herança ariana, um monumento erguido com sangue alemão. Muitos castelos e construções do Terceiro Reich usaram esquemas de Malbork como base de suas construções. O castelo seria bombardeado pelos russos em fins da Segunda Guerra (1944 – 1945).
Atualmente o castelo de Malbork está sob os cuidados do governo polonês. Foi quase reconstruído inteiramente, sendo de tempos em tempos restaurado desde 1962. A grande catedral do castelo, que foi inteiramente destruída durante a Segunda Guerra, ainda continua em ruínas. Mesmo assim, o Castelo de Malbork é considerado, além do maior castelo em área ocupada do mundo, a maior construção em tijolos da Europa. A UNESCO o declarou Patrimônio Histórico Mundial em 1997.
Fontes:
Top 10 os Mais Incríveis Castelos Poloneses
Página Oficial da Unesco sobre o Castelo
Matheus “Prof.º Barbado” Silveira é Professor de História formado pela PUCPR. Especialista em História Contemporânea e Relações Internacionais, formado pela PUCPR e Podcaster residente do SciCast.