Aqui no Portal Deviante, já escrevi bastante sobre comida in natura, orgânica, saudável e até mesmo minimamente processada. Acredito que nossos leitores mais experientes estejam familiarizados com o assunto (se não estiverem, é só clicar  na minha descrição! XD). Já temos uma ideia bem ampla sobre o que faz um alimento ter todos esses paradigmas atrelados a ele.

Cada pessoa pode virar consumidora desses produtos pelos mais variados motivos. Algumas podem ser desbravadoras de novas experiências, outras preocupadas com o peso ambiental dos alimentos comuns. Há estudos que apontam diferentes tipos de público-alvo relacionados com alimentos ditos naturais, baseados em seus estigmas, valores, apreensões, tabus e moralidades.

No texto de hoje, iremos observar algumas dessas classificações de público-alvo de alimentos ditos naturais e orgânicos.  Afinal, qual a necessidade de separarmos essas pessoas em classificações? É isso que iremos ver agora!

Há diversos motivos para querer entender o comportamento alimentar desses grupos. Todos os seus paradigmas, entretanto, são delineados pelos mesmos valores simbólicos (genericamente, defesa do planeta e saúde humana). Esse conjunto valorativo é um dos efeitos criados pelas mais diversas formas de marketing verde [1]. Leia sobre ele aqui!

O comportamento alimentar é o instrumento ideal para observarmos o perfil de mercado. Com ele, somos capazes de saber porque tal consumidor se identifica com certos tipos de alimentos ou não. Dessa forma, novos produtos podem ser esquematizados ou instrumentos de oferta/marketing criados. Tudo pensando especificamente no consumidor. 

Para a área de consumo de alimentos naturais ou orgânicos, isso é uma necessidade imediata. Muito em virtude da soberania de alimentos ultraprocessados (mais calóricos, ricos em sal, açúcar e gordura) no cotidiano de alguns grupos específicos. Se entendermos o que faz alguém gostar de um alimento natural, poderíamos criar redes sociotécnicas especializadas na diminuição de pântanos alimentares. Como no entorno de escolas, por exemplo, onde há pouca oferta e procura de alimentos ditos naturais [3]. Aliás, já leu aqui sobre pântanos alimentares?

Desde o desenvolvimento do marketing verde (ainda em 1965), observa-se o crescimento da preocupação dos consumidores com o rumo do planeta. Estes expressam cada vez mais necessidades de alimentos que estejam atrelados aos valores de defesa do planeta e dos serviços ecossistêmicos. Como isso se dá, contudo, pode variar de diferentes maneiras, dependendo do consumidor.

Há aqueles comensais que buscam alimentos que utilizem tecnologias mais sustentáveis (menor índice de consumo de combustíveis, água ou recursos não renováveis) [2]. Eles também podem querer a promoção de matéria orgânica no solo, bem como a conservação de energia durante a produção, alinhado com a diminuição de tecnologias de transgenia ou outras técnicas de engenharia genética. A esse grupo, desenvolveu-se os alimentos orgânicos.

 

Imagem um: notícia veiculada pelo Portal Nexo expõe perfil de consumidores de orgânicos, segundo pesquisa da UTFPR e UFRGS [4]. Para a redação, o maior destaque de compra desses alimentos pode ser dado às mulheres assalariadas, com no máximo dois filhos e salário não superior a quatro mil reais. O principal motivo seria a preocupação com o excesso de fertilizantes e agrotóxicos na agricultura tradicional, o qual a orgânica abomina. Na imagem, podemos reparar em uma senhora vestida de branco segurando sacolas com diferentes vegetais, de costas e ao lado de um estande verde e com tomates em uma bandeja de isopor. Mais atrás no estande, há vegetais verdes, também em bandejas. Registro de Gabriel Jabur (Agência Brasília).

Alimento orgânico é todo aquele certificado por alguma entidade específica para indicar a não presença de agroquímicos e seus insumos durante o ciclo produtivo [5]. Técnicas como manejo agroecológico, plantio direto, biofertilização e rotação de culturas são mais valorizadas neste sistema de plantio. Recursos como fertilizantes, transgenia e agroquímicos são abominados por este público.

O consumidor de alimento orgânico se comporta de maneiras diferentes. Dentro desse grupo, há aquele conhecido como ecológico militante [1]. Esse perfil é definido pela busca ativa de informações sobre consumo consciente, bem como a observação de selos e certificados que validam a produção orgânica de seu alimento. A origem do produto é importante para o comensal,  sempre querendo mais garantias e rastreabilidade. A maior apreensão desse grupo é a presença de resíduos químicos perigosos no alimento final, algumas vezes gerando certa quimiofobia perante os alimentos tradicionais.

Também existe o consumidor neófito, caracterizado pela pesquisa para melhorar a qualidade alimentar [1]. Geralmente, esse comensal busca produtos orgânicos por recomendação de outros “iniciados”, trocando aos poucos aquelas marcas tradicionais do mercado por produtos certificados. Muitos neófitos tiveram experiências negativas com comida não orgânica, como intoxicação ou doenças graves. Muitas vezes, esse perfil pode ser indicado por médicos e nutricionistas, mas também é normal que se iniciem por recomendação não técnica ou pseudocientífica.

Destoando desses dois perfis, há aqueles conhecidos como gourmet (já leu sobre a gourmetização aqui?). Esse comensal é caracterizado pela busca ativa de alimentos com alta qualidade, sendo orgânicos ou não. Eles entendem o orgânico como mais fresco e saboroso, por isso optando pelo mesmo. Conservantes e aditivos também atrapalham a experiência gastronômica, segundo esta visão. Geralmente, pode ser mais exigente que o ecológico militante, apesar de os motivos serem diferentes.

O perfil do consumidor de orgânicos está dentro daquilo que conhecemos por perfil naturalista. Esse é bem mais abrangente do que aquele, em virtude do tempo de desenvolvimento que os produtos naturais tiveram no imaginário coletivo [1]. Todo consumidor orgânico (com exceção do gourmet) é naturalista, mas nem todo naturalista é consumidor de produtos orgânicos.

 

Imagem dois: Reportagem do Portal CNN Brasil indica como consumidor pode diferenciar um produto natural de um produto orgânico [6]. Os produtos orgânicos são regulados pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), que também analisa os casos de fraudes relacionadas com produtores mal intencionados. Na imagem, observam-se mãos femininas segurando uma caixa com uma dúzia de ovos marrom. Abaixo, observam-se produtos numa caixa, como: pimentão vermelho, banana, repolho, brócolis, pepino e tomate cereja.

De maneira geral, o perfil naturalista é baseado em alimentos que sejam essenciais, integrais ou minimamente processados. O paradigma do grupo naturalista é estar ao contrário dos valores de conglomerados agroalimentares. Por isso, muitos definem o perfil naturalista como sendo de contracultura (como afirmado neste texto aqui). E há também algumas diferenciações desse grande coletivo.

Há aqueles que são naturalistas por valorizarem o produto e a filosofia de consumo verde [1]. São bem conscientes da sua escolha, com conhecimento dos principais canais de compra de sua região. Muitas vezes, desenvolve comportamento vegano, orgânico, vegetariano, lactovegetariano, ecológico, agroecológico, ou qualquer mistura dessas linhas. Esse grupo chamamos de novo radical, ligado a sua especialização em buscar a raiz dos problemas de segurança alimentar.

Ao contrário deste, existe o novo natural. O mesmo está no processo de simpatizar com os valores verdes, mas com uma visão mais limitada sobre os benefícios de produtos naturais. Sua escolha de alimentos é mais generalista, pois ainda não se especializou em um segmento único. Em linhas gerais, é um consumidor comum, ainda buscando sair da linha dos produtos mais conhecidos, como o selo plant based das grandes indústrias (leia sobre ele aqui!).

Resumindo, há diversos outros perfis para esses consumidores. Sobre qual utilizar ou não, depende bastante das necessidades da empresa. Esse texto é bem introdutório sobre o assunto, em vista das diversas mudanças que ocorrem no cenário da economia verde. Há, por exemplo, uma classificação sobre o grau de consciência ambiental dos comensais. Mas sobre isso iremos refletir em outro texto!

O que você acha do perfil dos consumidores orgânicos e naturais? Consegue imaginar novos perfis desse público? Comente aqui embaixo sobre o que achou! Até mais tarde!

 

Referências
[1]: MORAES, Cristine; PRADO, Nágela. Perfil dos consumidores de alimentos orgânicos e naturais: greenwashing ou consumo consciente?. Caderno Técnico de Administração Contemporânea, v. 2, n. 2, 2020.
[2]: SEDIYAMA, Maria Aparecida Nogueira; SANTOS, Izabel Cristina dos; LIMA, Paulo César de. Cultivo de hortaliças no sistema orgânico. Revista Ceres, v. 61, p. 829-837, 2014.
[3]: PERES, Carla Marien da Costa et al. O ambiente alimentar comunitário e a presença de pântanos alimentares no entorno das escolas de uma metrópole brasileira. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00205120, 2021.
[4]: VICK, Mariana. Qual o perfil do mercado de alimentos orgânicos no Brasil. Portal Nexo, 24 nov. 2023. Disponível aqui.
[5]: BORGUINI, Renata Galhardo; DA SILVA TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz. Alimentos orgânicos: qualidade nutritiva e segurança do alimento. Segurança alimentar e Nutricional, v. 13, n. 2, p. 64-75, 2006.
[6]: ROCHA, Lucas. Saiba como identificar se um alimento é orgânico. Portal CNN Brasil, 10 jun. 2023. Disponível aqui.