Petróleo no quintal, jorrando em diversos vídeos espalhados pelas redes sociais e, para quem é dos anos 90, literalmente saindo do chão no filme “Família Buscapé”. Será que por um acaso eu conseguiria encontrar petróleo brotando do chão da minha casa?
O sonho comum do enriquecimento súbito e inesperado é inerente ao ser humano. Por muito tempo, achar petróleo “sem querer” no quintal de casa foi um desejo na vida de muitas pessoas, mas será que isso é realmente possível?
A chance de isso acontecer, apesar de real, é bastante remota e a forma que seria possível constatar isso seria se houvesse a chamada exsudação, termo utilizado para quando um líquido aflora em superfície, sem influências externas. Esse processo se dá através da diferença de densidade, igual ao óleo que sempre fica acima da água naquela experiência que fizemos na escola. O petróleo se comporta da mesma maneira, ascendendo das camadas mais profundas da crosta até chegar à superfície.
Antes de você continuar a leitura, custa nada para nós conceituarmos petróleo e te dizer a origem, porque, apesar de muita gente achar, ele não vem dos pobres dinossauros que já se foram.
Petróleo é uma mistura bem complexa de diversos compostos orgânicos, tendo os hidrocarbonetos como principais constituintes, ou seja, substâncias que apresentam carbono e hidrogênio nas suas composições, apresentando diferentes formas de arranjo.
Ele é gerado a partir da lenta decomposição da matéria orgânica oriunda de pequenos animais marinhos e algas que, ao morrerem, são soterrados por sedimentos em ambientes com pouco ou nenhum oxigênio. À medida que esse material é soterrado, pressão e temperatura aumentam, fazendo com que esse material seja “cozido” lentamente, dando origem, assim, ao petróleo e também ao gás natural.
Posteriormente à sua formação, ele migra através da porosidade das rochas, que são os pequenos espaços vazios entre os grãos. Esses espaços permitem a migração e, assim, a substância vai se acumulando em rochas nas camadas próximas a essas geradoras — onde o petróleo se originou —, o que resulta em grandes concentrações que formam os depósitos.
Eles ficam perfeitamente separados da água, devido às suas diferenças físico-químicas, como densidade e viscosidade por exemplo, permitindo então a exploração individualizada do óleo e do gás nos depósitos de hidrocarbonetos.
Desejos de encontrá-lo no seu quintal à parte, a forma que pesquisadores identificam esses reservatórios envolve um pouco menos de sorte e mais de bastante estudo e recursos financeiros para utilização de técnicas avançadas. As etapas exigem, primeiramente, mapeamento geológico de grandes extensões e determinação de uma área possível, diminuindo, assim, a chance de alocar uma sonda em um local onde só se encontrem “pedras duras”, afinal não se busca manga em pé de jaca.
Assim, primeiramente é necessário que exista o tipo de rocha que seja a geradora (rocha essa que concentra toda a matéria orgânica que se acumulou após a sua morte), pois sem essa parte primordial nem haveria óleo para retirar. Posteriormente, a hospedeira desse material, afinal, como já vimos, o óleo e o gás se encontram principalmente nos poros das rochas sedimentares (veja aqui) e determinar em que nível, profundidade na bacia, que se encontram essas rochas, torna-se a etapa crucial quando se fala de extração de petróleo. Isso porque será nesse ponto que se determinará a viabilidade econômica da extração do material, afinal de contas não pode ser mais caro extrair do que vender.
Após essa etapa é realizado um estudo de comportamento de ondas sísmicas, para poder identificar as camadas de rochas em subsuperfície e realizar interpretações de onde possivelmente se encontra o reservatório de petróleo. Esses são os métodos indiretos já abordados que também já explicamos aqui.
Finalizada a etapa de aquisição de dados a partir de métodos indiretos, pela geofísica, e encontrado um local com potencial para encontrar petróleo e gás natural, inicia-se uma etapa de perfuração da área-alvo e perfilagem das rochas que estão sendo perfuradas, para determinar com maior exatidão a que profundidade se encontra o acúmulo do petróleo, bem como as características dessas rochas que formam esse sistema petrolífero, uma vez que não é possível ‘descer’ olhando diretamente para elas até ver o “ouro negro”, afinal de contas nem as minhocas conseguem cavar tão profundo, senão iriam virar petróleo.
Após determinação desses parâmetros é instalada toda a estrutura que permita a extração contínua do material. Até esse ponto ela já custou bilhões de dólares e só então começará a dar algum retorno, por isso ele tem alto custo e por isso você ficará tão mais rico se o ver fluindo no seu quintal, apesar da possibilidade ser bastante remota. Ou se você tiver um tio da Família Buscapé que saia dando tiros de chumbinho no chão esperando brotar óleo.