A discalculia é a definição de uma condição muito comum nos ambientes escolares, que é, a dificuldade de aprendizagem da matemática. Para ser um pouco mais específico seria a maturação das habilidades matemáticas. A discalculia pode estar atrelada a outros tipos de transtorno, como o déficit de atenção ou a dislexia, mas o mais importante nesse caso é saber identificar este tipo de transtorno, muito comum no ambiente escolar.

Os professores são os primeiros agentes dessa cadeia e podem contribuir muito para uma intervenção precoce para que os casos de alunos com dificuldades em matemática não vire uma bola de neve. Algumas crianças podem sofrer de falta de habilidade com a matemática que nem sempre é discalculia, fazendo com que o assunto requeira um pouco mais de cuidado para que o diagnostico seja o mais preciso possível. Neste caso podemos separar as dificuldades desses alunos em três grupos distintos: Transtorno x Ansiedade x Lacuna de Aprendizado.

O primeiro caso chamado discalculia é considerado um transtorno. Ele faz com que os alunos não consigam correlacionar os conceitos matemáticos com o ambiente a sua volta, segundo o CID – F81 [são alterações desde as primeiras etapas do desenvolvimento]

F81.2 Transtorno específico da habilidade em aritmética

            Transtorno que implica uma alteração específica da habilidade, não atribuível exclusivamente a um retardo mental global ou à escolarização inadequada. O déficit concerne ao domínio de habilidades computacionais básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão mais do que as habilidades matemáticas abstratas envolvidas na álgebra, trigonometria, geometria ou cálculo.

            Existem seis tipos distintos de discalculia:

  1. Discalculia Léxica: na qual o indivíduo apresenta dificuldade em ler símbolos matemáticos.
  2. Discalculia Verbal: dificuldade em nomear quantidades matemáticas, os números, os termos e os símbolos.
  3. Discalculia Practognóstica: dificuldade para enumerar, comparar, manipular objetos reais ou em imagens;
  4. Discalculia Gráfica: dificuldade na escrita de símbolos matemáticos.
  5. Discalculia Ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos.
  6. Discalculia Operacional: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos.

 

Os alunos que sofrem com esse transtorno muitas vezes podem não ter nenhum tipo de dificuldade em outras matérias. Existem casos em que os alunos são ótimos em todas as matérias do currículo escolar, mas em matemática não conseguem correlacionar os números ou as operações simples. Eles conseguem desenvolver com maestria artes, educação física ou humanas, mas a habilidade do raciocínio lógico acaba sendo um problema grande que pode acarretar outros transtornos psicológicos.

Normalmente esse aluno tem dificuldade em ter uma noção espacial, relacionadas a figuras (que podem ser as planas e espaciais – um simples calculo de área), volume (prisma, esfera, cubo), conceitos numéricos (operações matemáticas), quantidade (dificuldade em contar populações ou objetos), e consciência numérica (capacidade de entender o que cada número ou operação simboliza – o aluno não consegue correlacionar as operações). Esses tipos de caso demandam tempo e paciência dos professores, que às vezes acabam tendo turmas numerosas e, em sua grande maioria, não têm uma capacitação para um diagnostico mais rápido e eficiente.

Assim que o professor consegue identificar este tipo de dificuldade, ele pode apresentar em sua escola (coordenadora) algum relatório prévio, como se fosse um diagnóstico preventivo que deve ser passado para uma psicopedagoga, que pode atuar em escolas especificas ou na própria escola. Ela, com um relatório preliminar, pode fazer algumas atividades e através do CID identificar onde este aluno se encaixa. Por fim, em uma reunião com os pais, ela encaminha este aluno com os pais para um neuropsicólogo para que os trabalhos possam ser iniciados. É importante salientar que nestes casos o tratamento não é feito por medicação, pois não existem. Se o aluno tiver outros tipos de transtorno, o médico poderá entrar com algum tipo de medicação (este texto está relacionando apenas um individuo com discalculia sem atrelamento a outro transtorno). O melhor a se fazer nesses casos são trabalhos inclusivos e outras estratégias, por isso é muito importante ter uma avaliação com uma psicopedagoga e posteriormente com uma neuropsicólogo, para ter um diagnostico mais confiável.

Uma das formas de diagnosticar precocemente é mostrar ao aluno algumas notas de dinheiro com valores diferenciados e pedir para ele relacionar uma continha simples, como um troco: “Compro um produto no valor de R$10,00, estou te pagando com uma nota de R$20,00. Quantos reais você deverá me devolver?”. Um aluno sem discalculia poderia fazer esse cálculo rapidamente. Ele poderia devolver uma nota de dez ou duas de cinco (dependendo as notas que estão a sua frente). No caso, o aluno que sofre deste transtorno não teria a capacidade de relacionar as notas e fazer o cálculo para o troco. Outras dificuldades comuns seriam com relógio, figuras geométricas e números pares e ímpares.

Vieira (2004, p.116) formulou alguns alertas que podem auxiliar o professor na identificação do transtorno, algumas delas são o aluno:

 

  • Trocar os algarismos 6 e 9, 2 e 5;
  • Ter déficit de memória;
  • Ter dificuldade na compreensão dos conjuntos;
  • Não conseguir identificar que o valores 6, 4+2 e 5+1 se correspondem;
  • Ter dificuldade no conceito de medida;
  • Resolver problemas orais.

 

É muito importante que o professor consiga identificar essas dificuldades de aprendizado para que o aluno tenha um diagnóstico o quanto antes. Os professores não podem cair na armadilha e acabar levando o aluno a uma exclusão o que pode acontecer com a constante impaciência, repreensão ou diferenciação deste aluno dos demais, trazendo constrangimento, o que faria com que este individuo acabasse tendo uma baixa autoestima. Isso pode acarretar um sentimento de inferioridade e muita insegurança em alguns casos (trazendo outros problemas).  Também podemos identificar mais duas situações que podem estar por trás da dificuldade em matemática que é a ansiedade e o déficit.

No caso da ansiedade, algumas crianças acabam vendo a matemática como uma matéria muito difícil e impossível de ser entendida. Alguns alunos chegam a suar frio assim que o professor chega em sala de aula, só de imaginar que em algum momento o professor pode dirigir uma pergunta para eles. Esse é um problema comum, o que faz com que os alunos acabem tendo dificuldades de aprendizado. Quantas vezes vocês já tiveram aquele “branco” mesmo passando horas estudando?

Existem casos psicológicos de alunos que têm dificuldade em matemática por causa dos pais. Alunos que de certa forma foram traumatizados por situações em suas próprias residências onde o pai ou mãe, em uma tentativa de ensinar, acabaram por ser “duros” em suas avaliações, fazendo com que a criança criasse um bloqueio, pois eles ficavam confusos se deveriam levar a explicação do professor ou dos pais, que muitas vezes eram distintas. Alunos que chegam em sala de aula dizendo que o pai ensinou de uma forma e em casa e que o professor ensinou de outra, mostram a confusão na construção do conhecimento do aluno.

Outro aspecto é Lacuna de Aprendizado. Existe no nosso país um abismo educacional em que infelizmente alguns alunos acabam sendo deixados para trás em suas respectivas “séries” e acabam avançando sem terem preenchido todo o conhecimento esperado para aquele ano. São alunos que acabam chegando no ensino médio sem saber tabuada ou uma operação simples de divisão. Isso significa que eles não aprenderam conceitos por uma má escolarização. No Estado de São Paulo temos a tão polemica lei da “Progressão Continuada”, o que acabou contribuindo de certa forma para que tantos alunos acabassem sendo “empurrados com a barriga” para o próximo ano. Esses tipos de atitudes acabam criando um pensamento que no próximo ano será parecido e assim o subsequente, fazendo com que muitos alunos dominem de forma precária os conceitos básicos de matemática.

Talvez vocês conheçam pessoas com dificuldades em Matemática que passaram em sua vida acadêmica e agora você possa ter uma noção que ela poderia sofrer de um transtorno que não foi diagnosticado precocemente.


Tiago de Lima Dias. Professor, pai, pagador de boleto, apaixonado por ciência, quadrinhos, música e esportes americanos. Torcedor do Green Bay Packers (os verdadeiros Reis do norte) e torcendo para que o planeta não vire Krypton.