Em 25 de abril comemora-se o Dia Mundial de Combate à Malária, data instituída em 2007 pela Organização Mundial da Saúde para reforçar a necessidade de combater a doença.

A malária é uma doença causada pelo protozoário Plasmodium sp.¸ sendo o P. falciparum a espécie mais letal, presente principalmente no continente africano. No Brasil, o principal representante é o P. vivax, responsável por mais de 90% dos casos e encontrado predominantemente na região Amazônica, mas também presente na região do Pantanal e de Mata Atlântica.

 

Mapa do Brasil em que é possível avaliar os locais de ocorrência da Malária, sendo a Região Norte a mais afetada.

 

A doença é transmitida pela fêmea do mosquito Anopheles sp., conhecido no Brasil como mosquito-prego. Ao picar uma pessoa doente, o mosquito também se infecta e passa a transmitir a doença para outras pessoas. Lembrando que apenas as fêmeas são hematófagas, ou seja, se alimentam de sangue, necessário para a maturação dos ovos. Mais informações sobre esse e outros parasitas você encontra no episódio 479 do SciCast.

A apresentação da doença é caracterizada pela presença de febre, às vezes em períodos bem definidos como a cada três ou quatro dias (daí o nome febre terçã ou febre quartã), calafrios e dor de cabeça. Nos casos graves de malária, a pessoa pode apresentar convulsões, alteração do nível de consciência, pressão sanguínea excessivamente baixa, sangramentos, falta de ar e óbito.

O tratamento, na maioria das vezes, é ambulatorial. Em outras palavras, o médico prescreve medicamentos que podem ser tomados em casa e o paciente vai até o serviço de saúde para acompanhamento. Curiosamente, a letalidade da doença fora da região amazônica é muito maior, uma vez que os médicos demoram mais tempo para pensar nessa hipótese diagnóstica.

Mas, quão frequente é essa doença?

No Brasil, foram aproximadamente 20 mil casos na região amazônica em 2021, conforme informações do Ministério da Saúde.

Ainda, segundo dados da OMS, em 2020 foram notificados mais de 240 milhões de casos no mundo, sendo que, desse total, aproximadamente 620 mil pessoas morreram. O continente africano representa quase 95% dos casos e mortes notificadas, 80% crianças, a maioria abaixo de 5 anos.

Cabe ressaltar que a pessoa pode adquirir malária várias vezes na vida. Após uma primeira infecção, ela desenvolve imunidade contra a doença, mas não a ponto de neutralizar o parasita. Em geral, os episódios vão ficando cada vez mais brandos.

Vacina representa esperança no controle e erradicação da doença

A boa notícia veio no início do mês de março, quando a OMS publicou a atualização da recomendação feita em 2016.

A primeira vacina aprovada com o objetivo de diminuir os casos e, consequentemente, a letalidade pelo P. falciparum, além dos casos graves de P. vivax, foi formalmente recomendada pela OMS para áreas onde a incidência de casos de malária é moderada a alta. A vacina recebeu parecer favorável da Agência de Medicamentos da Europa para ser utilizada fora do continente europeu e desde 2019 estava em uso em Gana, Malawi e Quênia como parte de um projeto piloto de implantação. Eu cheguei a comentar brevemente sobre esse assunto aqui.

Ela é composta por proteínas do protozoário e por uma proteína de superfície do vírus da Hepatite B, o mesmo que compõem a vacina contra esta doença viral. Por isso, ela funciona para as duas doenças, facilitando a imunização das crianças. A fusão das duas proteínas ocorre em leveduras do gênero Saccharomyces cerevisiae, a mesma utilizada para produção de pães, cerveja e etanol combustível.

Algumas características importantes da vacina são com relação à conservação. Muito foi debatido durante a pandemia sobre a importância da vacina ser acessível, visto que lugares com pior infraestrutura muitas vezes não possuem condições de armazenar adequadamente os insumos.

Esta vacina pode ser armazenada em geladeira comum, cada frasco contém duas doses e permanece viável por 6h após reconstituição. Pensando que a vacina deverá ser amplamente utilizada no continente africano, essas características viabilizam o uso da vacina em mais regiões afetadas pela doença.

Os ensaios clínicos para avaliação da eficácia da vacina acompanharam mais de 15 mil crianças em dois grupos com idades de 5 a 17 meses ou 6 a 12 semanas no momento da primeira dose. No período de um ano após a administração de 3 doses da vacina, a eficácia em prevenir todas as formas de malária e de casos graves foi de 51% e 45%, respectivamente. A vacina também reduziu significativamente os casos de anemia, necessidade de transfusão sanguínea e hospitalização.

Segundo a OMS, a aplicação deve acontecer a partir do 5° mês de vida, em três doses, com intervalo de um mês entre elas. E uma dose adicional após 18 meses do esquema completo.

Outras medidas de prevenção também são fundamentais no controle da Malária

Entre outras medidas adotadas para o controle da Malária estão:

  • Uso de repelentes (entretanto, nem todos os repelentes são igualmente eficazes);
  • Uso de telas mosqueteiras nas janelas e nas camas;
  • Uso de roupas claras e mangas longas;
  • Evitar exposição nos horários de maior ação do mosquito (ao amanhecer e ao entardecer);
  • Quimioprofilaxia – utilização de medicamentos para prevenir a doença em viajantes ou gestantes em locais de alta incidência;
  • Diagnóstico rápido.

O uso da vacina, como falado anteriormente, está restrito a países com transmissão moderada a alta da doença e tem como público-alvo as crianças, maiores vítimas nessas localidades. Em caso de viagens, deve-se procurar a orientação de um serviço de Medicina do Viajante ou um Infectologista que fará a orientação com relação a medidas de proteção.

Apesar de boas notícias, ainda há muito a ser feito

Relatório da OMS de dezembro de 2021 reportou a discrepância em reduzir a incidência de HIV, tuberculose e malária nos diferentes grupos sociais. Os mais pobres, com menor escolaridade e moradores de áreas rurais são os mais afetados. E tudo isso foi ampliado durante a pandemia.

Há muita relação entre condições sócioeconômicas e parasitismo, como discutimos no episódio do SciCast. Em geral, pessoas em situação de vulnerabilidade são as mais afetadas por terem menor acesso à saúde ou menor entendimento de medidas preventivas. Há também o impacto da desnutrição, além das consequências geradas pelas doenças, como atraso no desenvolvimento, perda de renda e morte.

Por isso, a vacina vem como grande aliada no combate não só à malária, mas a diversas outras doenças imunopreveníveis. Contudo, é preciso investimento nas outras áreas que complementam a prevenção: saneamento básico, habitação e, principalmente, educação.