
Desde a nossa participação na Campus Party de 2024, pintou em mim uma vontade muito grande de visitar diversos eventos na cidade e trazer para vocês um pouco da nossa visão Deviante para esses eventos.
Então, se curtir coberturas de imprensa, com uma análise crítica, te chamo para entrar nessa comigo.
Mas Qual é o Objetivo Disso?
Como alguns daqui que leem meus textos sabem, em 2023 eu recebi o diagnóstico de neurodivergência meu e da minha filha. E, como muitas vezes a gente precisa nomear as coisas para vê-las de forma mais clara, esse assunto se tornou importante para mim.
Acompanhando o crescimento da minha pequena, vi o quanto ela tinha dificuldade no ato de brincar. Coisas simples, como destreza manual em coordenação motora fina, ou compreensão de emoções, por exemplo, eram e ainda são, em parte, um desafio diário.
Assim, pensei: que tal se eu puder cobrir esses eventos sob essa lente, e ver como o mercado de jogos e brinquedos tem se movido para fazer itens adaptados? E, claro, divertidos!
Não só. Como é do nosso espírito a Divulgação Científica, é claro que eu queria saber qual era a movimentação da indústria em brinquedos científicos. E, apesar de poucas, tive algumas surpresas que gostaria de compartilhar com vocês.
Um Apanhado Geral e Algumas Críticas
Antes de trazer as análises específicas, no entanto, é legal trazer algumas visões gerais sobre as tendências e padrões notáveis praticados pelas empresas.
Um exemplo recorrente, entre várias marcas, é o incentivo na promoção de itens colecionáveis.
Não importa o tema. Não importa se há uma ligação com o universo infantil. O que importa é vender miniaturas ou qualquer outro item colecionável. E, muitas vezes, os itens não servem, sequer, para brincar por si só, sendo necessário se adquirir muitos desses para criar um conjunto mínimo para alguma brincadeira.

Produtos licenciados pela marca Candide, Mini Brands, são colecionáveis surpresa, com miniaturas de itens como diversos tipos de bolsas, vestuário, itens domésticos, dentre outros, alguns vinculados a marcas como Disney e Master Chef
O uso de marcas famosas também é abusado. Tudo buscando criar os mais variados (e às vezes muito peculiares) itens colecionáveis. Muitos são os variáveis de bonecos ao estilo Funko POP!, cada um num formato e apresentação diferente. Desde filmes e desenhos famosos, passando por figuras de celebridades ou, até mesmo, itens similares com simples padrão de pintura diferenciado. Vale tudo na criação do hábito de colecionar.

Produtos licenciados pela marca Lider Brinquedos, com bolas colecionáveis fazendo alusão à bola da empresa de animações Pixar, com padrões de cores que fazem alusão a filmes variados
E os itens não são baratos. O valor pode variar bastante a depender da popularidade da marca, tanto da fabricante e distribuidora como do produto em si, em caso de itens licenciados, podendo alcançar centenas de reais num único item.
Outras empresas, no entanto, preferiram uma abordagem mais direta no que toca à inserção de marcas em seus produtos. Um exemplo notável é da empresa Usual Brinquedos, que em seu espaço expunha, com orgulho, a logomarca de seus clientes, os quais eram inseridos nos brinquedos que comercializava, tal como réplicas de caminhões do Mercado Livre, Lojas Havan e CIMED.
No que toca aos brinquedos mais comuns, nenhuma grande novidade. O padrão de produtos ainda segue o mesmo ritmo desde os anos 80. Brinquedos são separados por gênero das crianças, meninos e meninas.
Meninos tem uma abordagem por brinquedos mais voltados à valorização da masculinidade, com bonecos músculos, e da violência, com o retorno de armas e outros itens similares.

Produtos anunciados pela marca Anjo Brinquedos, que trazem versões genéricas de heróis musculosos, ao estilo de heróis da Marvel e da DC
Já as meninas tem mantém uma valorização de sua posição feminina, treinando para ser mãe com bonecas e valorizando sua beleza física, com opções como maquiagem e bijuterias para fazer você mesmo.

Produtos anunciados pela marca Divertoys, que mostra um grande número de bonecas para estimular a brincadeira de maternidade, com maioria de etnia branca/caucasiana, com a curiosa presença de apenas dois bonecos que representa uma criança ou bebê do sexo masculino, o que foi exceção no evento
Um ponto notável é a baixíssima representatividade de etnias além da branca/caucasiana nas bonecas. Era muito comum estandes inteiros estarem cheios de bonecas brancas, com uma ou pouquíssimas bonecas que representasse apenas crianças pretas. E, mesmo assim, normalmente era uma representação estereotipada, com roupas que representam uma cultura africana, faltando uma representação mais tipicamente brasileira.

Produto anunciado pela marca Adijomar, que anuncia uma boneca negra com vestes e uma embalagem que remete ao continente africano
Ah, e cabe ressaltar, essa era a única eventual representatividade étnica. Brinquedos que apresentem outras culturas e etnias eram basicamente inexistentes. E, embora outros grupos étnicos sejam minoria no Brasil, não são um grupo negligenciável de comunidades étnicas específicas, com grandes comunidades de povos do leste da Ásia e do Oriente Médio pelo país.
Aliás, cabe notar que eu não observei qualquer boneca ou boneco que retratasse crianças com algum tipo de deficiência, física ou de neurodivergência. Portanto, há um vácuo no mercado para esse tipo de representatividade.
Representações brasileiras eram bastante incomuns. Os brinquedos seguiam um padrão de cultura claramente inspirado pelo mercado dos Estados Unidos da América (o que, inclusive, era notável pelo padrão de representação de etnias, que falamos antes), com o uso e abuso de expressões e nomes em inglês, bonecos de animais típicos da América do Norte e com estilo de roupas que seguem a cultura estadunidense. Até por isso, empresas que tinham uma abordagem mais específica à realidade brasileira se destacavam.

Produto anunciado pela marca Toyster, que anuncia quebra-cabeça do mapa do Brasil com representação de animais típicos da fauna brasileira
Uma tendência repetida em várias lojas era a presença de brinquedos personalizáveis. O mais comum eram brinquedos brancos, ou com roupas brancas, que poderiam ser pintados pela própria criança, alguns que poderiam ser lavados para refazer a brincadeira.

Produtos anunciados pela marca SuperToys, que mostra uma grande variedade de brinquedos personalizáveis com pintura, alguns que podem ser lavados e pintados novamente
Outra tendência era no uso claro de ferramentas de Inteligência Artificial para a criação de embalagens ou, por vezes, dos próprios produtos. O padrão de imagem, com alto contraste, personagens com olhos grandes e rostos sorridentes em estilos que remetem a imitação genérica de personagens de animação em filmes de estúdios como Pixar e Dreamworks criavam uma estranha sensação de Vale da Estranheza.

Produtos anunciados pela marca Pais&Filhos, que mostra uma variedade de quebra-cabeças feitos com imagens claramente criadas com auxílio de algum tipo de ferramenta de Inteligência Artificial
Em contrapartida, fugindo dessa tendência, algumas marcas apresentavam brinquedos de altíssima qualidade, com detalhes muito bem trabalhados e funcionalidade notável.

Produto anunciado pela marca Bruder, que oferece brinquedos totalmente analógicos e funcionais, focado em veículos e maquinários, tais como guinchos, escavadeiras, caminhões de lixo e de bombeiros, que tem funções reais por meio de alavancas e engrenagens manuais
Partindo de materiais de boa qualidade, o mais interessante são os brinquedos efetivamente funcionais. Além de brinquedos bonitos e interessantes, algumas marcas focam na funcionalidade e na aproximação dos brinquedos com itens reais do dia-a-dia, incluindo instrumentos musicais reais, contrariando a média de mercado que apresenta produtos sem afinação e que não dão base musical às crianças.

Produtos anunciados pela marca Janod, que oferece brinquedos em madeira, além de instrumentos musicais afinados e funcionais
E, apesar de ainda estar dentro do ramo de colecionáveis, alguns brinquedos tinham qualidade excepcional e apresentação mais completa, passível de serem brincáveis por si só. A empresa Epoch apresentou um grande número de itens licenciados, incluindo marcas famosas e personagens de jogos, desenhos e filmes, com uma abordagem respeitosa, mas cujo preço, por ser mais alto, não é para todos os públicos.

Produto licenciado pela empresa Epoch, da marca Sylvanian Families, apresenta uma grande quantidade de bonecos e acessórios de alta qualidade, podendo gerar brincadeiras de imaginar diversos cenários diferentes
Dá-se destaque a brinquedos criativos, como o Aquabeads. São bolinhas de gel que, quando úmidas, ficam num estado gelatinoso e ao secar grudam umas nas outras, sendo possível realizar criações diversas em 2D e 3D, desde chaveiros até bonecos, bastando um pouco de paciência e criatividade.

Produto licenciado pela empresa Epoch, o Aquabeads pode ser usado para criar quadros e artes com diferenças de camadas
Na mesma linha, era recorrente encontrar brinquedos que pudessem ser montados pela própria criança, em feltro ou massinha de EVA, o que estimula a criatividade e a habilidade manual.

Produto anunciado pela empresa Toyster, com bonecos de feltro que poderiam ser montados pela própria criança
Feito isso, passemos à análise dos casos específicos.
Representatividade e Brinquedos Adaptados
Como disse no começo, o meu foco era procurar por brinquedos e jogos que tivessem como público-alvo neurodivergentes e deficientes físicos, observando questões como acessibilidade e treinamento de determinadas competências.
De fato, eu encontrei bastante coisa pensada para neurodivergentes, mas nem sempre pensando, de fato, nas limitações do público, e sim numa inserção dessa fatia de mercado que parecia algo mais cru, sem a devida pesquisa sobre como abordar e elaborar os produtos.

Produtos anunciados pela marca Xalingo, que mostra uma variedade de painéis sensoriais elaborados pela empresa
Um dos produtos-chefe no seguimento são os painéis sensoriais para regulação de pessoas neurodivergentes.
Para quem não sabe, uma das coisas que mais pode afetar uma pessoa neurodivergente é a dificuldade de lidar com estímulos sensoriais. Barulhos intensos e repentinos, luzes fortes e em flashes alterados ou até mesmo excesso de estímulo no tato, por exemplo, podem gerar uma desregulação comportamental. Aí é que entram os painéis sensoriais, que auxiliam a focar determinados estímulos e acalmar.

Produtos anunciados pela marca Brincriarte, que mostra uma variedade de painéis sensoriais elaborados pela empresa
Porém, o produto deve ser pensado corretamente. Deve-se considerar o nível de dificuldade para o manuseio do produto, e se esse atende os estímulos sensoriais que são representados pela aparência do produto.
Questões que podem parecer banais num primeiro momento não o são. A maioria das empresas trabalhava com compensados de madeira (MDF ou similar). Porém, algumas usavam adesivos que imitavam a granulação da madeira, o que pode gerar uma grande dissonância sensorial, prejudicar e causar uma desregulação nos neurodivergentes.

Produto anunciado pela marca Nig, que mostra um painel para criar padrões e desenhos usando pequenas bolas de tecido colorido, manuseando uma pinça
Outro assunto importante é o grau de dificuldade, o estímulo e a qualidade do material utilizado. Eram comuns brinquedos de se passar um fio por aros, para treino de amarrar cadarços. Porém, alguns desses brinquedos tinham fios muito curtos e aros muito estreitos, o que pode gerar uma enorme frustração pelo alto grau de dificuldade para quem ainda precisa desenvolver um grau primário de coordenação motora fina. Itens muito frágeis e com barulhos muito agudos eram também notáveis.

Produto anunciado pela marca BrinqMutti, que mostra uma caixa com espaço oculto para passar as mãos, com diversos itens de formatos diferentes, para treino de percepção espacial independente da visão
Em geral, o que se nota é que o mercado tem produtos promissores, mas que ainda precisam de muita atenção para uma melhor experiência.
Tenho suspeitas de que, em boa parte, as equipes de desenvolvimento podem ter pensado em todos os itens que comentei acima, mas que devem ter sido deixados de lado pelos setores de produção na etapa de fabricação, para reduzir custos.
E, no que toca a custos, convém mencionar que existe uma disparidade enorme entre preços e qualidades. E isso não estava necessariamente atrelado um ao outro. Por vezes, produtos claramente de menor qualidade poderiam ter custos muito maiores, com ampla variação de preços a produtos similares entre concorrentes, com uma média de 80 a 400 reais por peça.

Produtos anunciados pela marca HG Toys, que mostram uma diversidade de itens sensoriais e de estímulo espacial e motor
Convém deixar aqui um especial agradecimento a Samira Detoni, Gerente de Inovação da Xalingo, que me recebeu pessoalmente para ouvir críticas e sugestões sobre os produtos anunciados, ainda em protótipo, os quais deverão passar por melhorias para as próximas versões até o lançamento.
Mas uma coisa em especial me chamou a atenção nisso tudo, que foi a resistência das empresas em se identificarem como fabricantes e fornecedores de brinquedos adaptados a neurodivergentes, ou de citar em suas embalagens quais competências funcionais eram trabalhadas nos produtos específicos.

Produto anunciado pela marca Pais&Filhos, jogo de exercício de memória e concentração, que tem em sua embalagem descrição clara nesse sentido, e pensado para crianças e idoso
As marcas notáveis que ultrapassaram essa barreira foram a Pais&Filhos e a Babebi (essa segunda que trazia informações na lateral da embalagem), que descreviam de forma, ainda que um pouco geral, quais habilidades eram trabalhadas, o que ajuda muito pais e responsáveis a escolherem os produtos que melhor se adaptem para sua necessidade.

Produtos anunciados pela marca Babebi, cartões de imagem em alto contraste para auxiliar no estímulo visual e desenvolvimento de bebês
Aliás, com destaque a isso, a marca Babebi apresentava uma variedade bastante notável de brinquedos adaptados à realidade do dia-a-dia de famílias com pessoas neurodivergentes. Desde itens que incentivam a compreensão de alimentação saudável, auxílio na compreensão de formas e montagem de rotinas diárias, esses itens servem para uma criação de um ambiente mais regulado para as crianças neurodivergentes.
E, tratando de questões como seletividade alimentar, é interessante mencionar um produto curioso, ainda em fase de protótipo, anunciado pela marca Toyster. Ela trouxe mordedores com representação visual e textura que simulam legumes, o que pode auxiliar, e muito, uma melhor aceitação de crianças a esse tipo de alimento.
No que toca a produtos pensados para outras deficiências, no entanto, isso é basicamente inexistente, com algumas poucas exceções realmente pensadas para esse público.
A única empresa que notei que desenvolveu e anunciava produtos para esse público específico foi a Xalingo, com brinquedos que auxiliavam no ensino de braile e libras. Os produtos eram simples, mas eram de fácil compreensão para uso por adultos e educadores, levando em consideração, inclusive, o grau de deficiência, com itens facilmente legíveis em contraste, já que nem todas as pessoas que possuem limites de visão são totalmente cegas, por exemplo.

Produto anunciado pela marca Xalingo, cartões de formação de palavras e treino de alfabeto em braile
Algumas empresas, inclusive, criavam jogos que poderiam ser divertidos e compartilhados entre pessoas com e sem deficiência, de igual modo. Um exemplo interessante é um jogo da marca Toyster, projetado para ser jogado obrigatoriamente vendado, sendo um tipo de quebra-cabeças que pode ser montado, ou jogado como um dominó, apenas usando a compreensão espacial sem a visão.

Produto anunciado pela marca Toyster, jogo tátil para compreensão de formatos que deve ser jogado vendado
Outro exemplo é de jogos que usavam caixas fechadas com peças que poderiam ser manipuladas usando uma caneta magnética. Esses brinquedos tinham a facilidade de não espalhar e perder peças, o que poderia gerar frustração no manuseio.

Produto distribuído pela marca Zoop Toys, para criação de padrões de desenho usando fichas coloridas
Assim, apesar de estarmos em um bom começo, a indústria claramente ainda está em seus passos iniciais para atender uma boa parte da população com deficiência, o que deixa evidente o prejuízo oculto sofrido por pais e responsáveis no acompanhamento e desenvolvimento das crianças.
Tratamento Psicológico como Brincadeira
Um ponto fora da curva que convém mencionar é o trabalho da Dra. Cynthia Borges de Moura, doutora em Psicologia Clínica pela USP, com quem, junto de sua equipe, tive o prazer de conversar.
Cynthia realizava atendimentos clínicos de seus pacientes, mas percebia uma barreira na tradução de certos pensamentos e sentimentos quando lidava com crianças e adolescentes, incluindo sua interação com pais, responsáveis e educadores.
Com esse problema em mãos, a Dra. Cynthia desenvolveu jogos de cartas e de tabuleiro que auxiliem no atendimento clínico e no estímulo de conversas entre pessoas dos mais variados temas.

Produtos anunciados pela marca Terapia Criativa, livros, pelúcias, jogos de cartas e de tabuleiro, usados como ferramentas terapêuticas
Assuntos como problemas de ansiedade, ensinar crianças a dormirem sozinhas em seus quartos, falar sobre dificuldades de estudos e manutenção de atenção, separação de casais, bullying, sexo e sexualidade, entre muitos outros.
Trazer o brincar para dentro dos consultórios e terapias parece ser uma opção viável e interessante, na medida em que tira o peso e a carga emocional do assunto tratado.
Estou conversando com a equipe da Dra. Cynthia para, quem sabe, trazermos algum texto ou podcast especial sobre o assunto. Então, aguardem…
Ciência e Brinquedos Educativos
E, claro, como nosso lema é de que a Ciência tem que ser divertida, eu fui procurar brinquedos que tratem de Ciência e eduquem, mas sem perder a diversão.
Não eram muitos os brinquedos que atendiam esse requisito, mas aqueles que atendiam tinham abordagens interessantes.
Um brinquedo que chamou a atenção foi o Dissect It, certificados pela empresa estrangeira STEM.org, que apresenta modelos anatômicos de alguns animais para serem dissecados e estudados. A marca, aliás, é especialista na certificação e autenticação de brinquedos educativos bastante criativos.

Produto licenciado pela marca Candide, a ser introduzido em breve no mercado nacional, apresenta uma réplica de uma serpente para ser dissecada, com um exterior de gelatina e esqueleto completo e órgãos de plástico, para uma brincadeira de estudo de anatomia animal
A empresa Tecnodidattica é especialista em globos de diversos tipos, e trouxe ao evento diversas versões, adaptadas ao gosto dos clientes. Em sua maioria, os globos possuíam lâmpada interna, e poderiam ser usado como luminária, com representações das constelações visíveis da Terra ou de outros corpos celestes, como a Lua e Marte, esses últimos com marcações das principais missões e pousos realizados.

Produto licenciado pela empresa Tecnodidattica, globo terrestre com relevo representativo dos principais pontos do planeta
Outro tipo de produto que se mostrou interessante eram desafios dinâmicos, onde, com um mesmo produto, era possível se criar diversas soluções, valorizando o uso do produto e sua função.

Produto licenciado pela empresa SteamToy, trata-se de um desafio dinâmico, onde, com um só brinquedo, é possível se criar até 84 desafios com soluções diferentes
O apelo de jogos que usam raciocínio estratégico chamou a atenção, permitindo uma brincadeira divertida, mas que exige maior atenção e desenvolvimento das crianças.

Produto anunciado pela empresa Galápagos, trata-se de um tipo diferente de Jogo da Velha, onde os jogadores possuem peças de tamanhos diferentes que podem sobrepor umas às outras, como uma matrioska (boneca russa)
Sobre a representação de dinossauros, apesar de já ser de conhecimento geral a existência de dinossauros avianos, com penas, é interessante mencionar que eu encontrei apenas um boneco nesse sentido, sendo que a maioria dos brinquedos apresentava dinossauros indistinguíveis de animais fantásticos, como dragões.

Produtos anunciados pela empresa Silmar Brinquedos, apresentam uma linha indistinta de dinossauros e dragões, exibindo o único dinossauro aviano encontrado na feira inteira
E, falando em desafios, a marca Puzi apresentava quebra-cabeças e desafios lógicos bastante curiosos, impressos ou apenas em madeira, que podem ser pintados pelas crianças. Os itens impressos carregam estampas variadas e bastante bonitas. O grau de dificuldade pode variar, mas posso dizer que me impressionei como foi divertidamente difícil montar as peças sem cores ou referências.

Produtos anunciados pela empresa Puzi, apresentam diversos tipos de quebra-cabeças, com cortes de peças regulares e irregulares, desafios de lógica itens que podem ser pintados
Apesar de ainda tímida, a presença de brinquedos que devem ser montados pelas próprias crianças se fez presente, assim como itens para exploração da realidade. Chamou atenção o microscópio da linha Polilab, que eu testei. Bastante bom para o preço baixo (no valor sugerido pelo fornecedor de R$ 179,99).

Produtos anunciados pela empresa Polibrinq, linha de produtos do estilo “faça você mesmo”, com peças móveis usando sistemas hidráulicos e componentes elétricos a serem montados pela própria criança
Quando o assunto era o estudo do corpo humano, esse normalmente era feito de uma forma mais casta, com uma representação parcial, normalmente omitindo o dimorfismo corporal das pessoas. Um item que resolveu o problema e não se omitiu da presença de genitais foi o da empresa Toyster que, com respeito à inteligência e compreensão das crianças, ilustrou ambos os genitais humanos, o que demonstra um claro interesse de informar e educar, sem sexualização.

Produtos anunciados pela empresa Toyster, com especial atenção ao jogo de estudo de anatomia humana, que não omitiu a presença de genitais
Indo na contramão do mercado geral, que apresentava uma evidente repulsa ao uso de telas e equipamentos eletrônicos, a empresa ABP Import trouxe um jogo de realidade aumentada que permitia o uso de peças em um tapete com imãs capaz de ser usado para diversas finalidades, incluindo jogos de construção, matemática, entre outros.

Produtos licenciados pela empresa ABP Import, apresentando produtos educativos que fazem uso de realidade aumentada
A empresa Polibrinq, também, investiu em uma linha de produtos específicos para aprendizagem, a linha EDUCAPlay, com os mais variados níveis de dificuldade e para diversas idades, além de uma qualidade bastante notável nas peças.
Conclusão e Considerações Finais
Pessoal, essa é minha primeira experiência fazendo cobertura de um evento, e devo dizer que foi muito cansativo, desgastante, mas também muito interessante.
Embora não cite nominalmente aqui, o mercado ainda tem uma maioria de itens importados, de menor qualidade, ao estilo que podemos encontrar em barracas e galerias pelas cidades. E isso me impressionou bastante, considerando o padrão do evento em si.
No que toca à rotulagem dos produtos, verifiquei que não existe um respeito da indústria numa padronização. Os brinquedos, em sua maioria, mesmo aqueles voltados para a linha educativa, muitas vezes não tinham uma melhor descrição das competências trabalhadas, o que atrapalha os pais e responsáveis para escolher o melhor produto para seus filhos.
Ainda, os itens disponíveis, em sua maioria, reforçam velhos paradigmas e preconceitos, com divisão marcante entre gêneros, além de pouca representação étnica além do branco/caucasiano. E nem se diga que isso é uma pressão de interesse dos consumidores, já que marcas maiores, como a Mattel, já tem atuado nesse sentido com a linha de bonecas Barbie.
A presença de brinquedos com marcas licenciadas, retratando personagens de filmes, desenhos e jogos de videogame foi também bastante notável, mesmo que em imitações. E, por vezes, alguns brinquedos sequer possuíam versões não associadas a referidas marcas, o que só retroalimenta o estímulo ao consumo dessas marcas.
No que toca a acessibilidade e brinquedos educativos, o mercado parece ter se desenvolvido bastante, o que é excelente. Apesar de ainda menor em relação ao geral, os itens são interessantes, precisando ainda de maturação no tocante à adaptação.
O que se nota, no entanto, é uma ausência de previsão de brinquedos acessíveis para deficientes físicos, especialmente crianças com problemas de mobilidade e manuseio. Seria bastante interessante que as empresas tivessem a possibilidade de brinquedos com acessórios de assistência. Um exemplo que notei eram brinquedos de pescaria, que poderiam utilizar-se de uma base auxiliar, que não majoraria muito o custo e faria toda a diferença para as crianças.
Não vou dizer que acredite que a indústria teria como interesse primário senão o lucro, mas há meios para que isso seja alcançado sem perder de vista o desenvolvimento e a inclusão.
Existiu, durante todo o evento, um antagonismo ao uso de telas e a jogos eletrônicos. Porém, acredito que esse tipo de pensamento vá na contramão da realidade. Devemos lembrar que o sucesso dos jogos se deve ao fato, em parte, de que eles são divertidos, e os jogos que mais fazem sucesso são aqueles que respeitam o interesse a vontade das crianças de criar e explorar a sua imaginação, tal como Minecraft.
Entender isso e aproximar o interesse das crianças no processo criativo parece ser um excelente caminho, lembrando que não é o uso de telas em si que é prejudicial, e sim o conteúdo que é fornecido aos pequenos.
Outro ponto importante é desconsiderar que o uso de telas e meios tecnológicos pode ser algo benéfico a uma parcela do público. Crianças com deficiência podem ter dificuldade de manuseio de certos itens, ou problemas de locomoção que as impeça de brincar por outros meios. E pessoas neurodivergentes, por vezes, podem ter problemas de comunicação ou mesmo incapacidade de comunicação verbal, de forma que o uso da interface eletrônica pode permitir esse contato.
Vilanizar o meio eletrônico, em si, me parece um caminho simplista e uma visão um tanto estreita da realidade, o que acredito seja um ponto importante de reflexão do mercado para impedir um eventual afastamento do público.
A mim, o prejuízo está exatamente no estímulo desenfreado ao consumo vazio, na comercialização de colecionáveis e associação a marcas, sem conscientização ou objetivo, que é exatamente o que mais se critica de vídeos direcionados ao público infantil em redes sociais.
Pois bem! Foi uma experiência incrível, e espero que tenham gostado da minha análise. Novas virão no decorrer do ano.
Gostaria de deixar um agradecimento especial ao pessoal da Babebi, que me recebeu de braços abertos para longas conversas sobre a importância dos jogos adaptados e educativos. Eles disseram que têm contato com alguns psicólogos e psicopedagogos e que têm interesse em tratar do tema, então saibam que estão convidados para trazer algum conteúdo aqui para nós, no Portal Deviante e no SciCast.
Valeu pessoal, até o próximo evento!