A crise de 2008 foi um evento histórico que afetou a economia global e desencadeou uma recessão em todo o mundo.
Em primeiro lugar, vamos ao contexto econômico da época. Do final da década de 90 ao início dos anos 2000, os Estados Unidos vivenciaram um boom imobiliário impulsionado por uma expansão da oferta de crédito, os bancos concediam empréstimos a praticamente qualquer um.
A demanda por imóveis aumentou, o mercado se aqueceu, existia ali uma grande oportunidade de lucro. A hipoteca (crédito com imóvel como garantia), prática bastante comum nos EUA, começa a ser muito utilizada visando emprestar dinheiro para investir em mais imóveis.
Em seguida infla-se uma bolha imobiliária, na qual o preço dos imóveis é muito alto e a renda média dos compradores não acompanha este aumento.
Esses empréstimos hipotecários de alto risco, concedidos pelos bancos e autorizados pelas agências de classificação de risco, conhecidos como subprime, eram empacotados em produtos financeiros complexos chamados de “títulos lastreados em hipotecas” (MBS) e vendidos a investidores ao redor do mundo.
Quando os mutuários começaram a enfrentar dificuldades financeiras e não conseguiram mais pagar suas hipotecas, as taxas de inadimplência subiram e à desvalorização dos títulos lastreados em hipotecas teve início, isso afetou o valor dos ativos financeiros detidos pelos bancos.
Filme “A Grande Aposta” (The Big Short)
É exatamente neste momento, retratado no filme, que grupos de investidores percebem fragilidades e as bolhas imobiliárias nos Estados Unidos. Eles estudam os MBS e derivativos financeiros relacionados e concluem que o sistema está prestes a colapsar.
Esses investidores decidem, então, apostar contra o mercado, vendendo títulos lastreados em hipotecas e comprando swaps de crédito (CDS) para se protegerem das perdas.
Fundado em 1847, no dia 15 de setembro de 2008 o banco Lehman Brothers entra com pedido de recuperação judicial, com uma dívida de US$ 613 bilhões.
A economia dos Estados Unidos sofre uma recessão profunda, o desemprego sobe a mais de 10%, maior índice desde 1983 e milhões de pessoas perdem suas casas, houve uma grande queda nos investimentos e diminuição da produção. Além disso, a crise teve um impacto global, uma vez que as economias interligadas sentiram os efeitos negativos do colapso financeiro.
De um ponto de vista keynesiano, foi a falta de regulamentação e transparência nas operações do setor financeiro, ou seja, controle estatal. Porém, este não foi o único motivo, foi também resultado de uma série de fatores inter-relacionados, incluindo a expansão excessiva do setor imobiliário, o aumento da alavancagem financeira. E assim como em 1929 a solução para a crise foi o Estado intervir fortemente com objetivo de “estabilizar a economia”.
No caso da crise de 2008, o governo dos Estados Unidos adotou várias medidas para combater a recessão. Entre elas o resgate dos principais bancos e instituições financeiras em dificuldades. O governo implementou programas de salvamento financeiro, como o Troubled Asset Relief Program (TARP), no valor de 700 bilhões de dólares com objetivo de recapitalizar(salvar) os bancos e restaurar a confiança no sistema financeiro. Essas ações visavam evitar uma crise bancária generalizada e impedir uma queda ainda maior na atividade econômica.
Conclusão de Mark Baum no filme “A Grande Aposta”
– Vai haver um socorro financeiro (aos bancos)
– Eles sabiam, sabiam que os contribuintes iam ajudar.
– Não foram burros, só não se importaram
– Sei lá, sei lá
– Sinto que em poucos anos farão o que sempre fazem quando a economia vai pro buraco:
– Culparão os imigrantes e os pobres.
Ele estava certo, um único banqueiro foi preso, Kareem Serageldin, do Credit Suisse.
Eu acredito muito na livre iniciativa, por isso o meu instinto natural é se opor a intervenção do governo. Eu acredito que as empresas que tomam más decisões devem sair do mercado. Em circunstâncias normais, eu teria seguido esse curso. Mas estas não são circunstâncias normais. O mercado não está funcionando corretamente. Houve uma perda generalizada de confiança, e grandes setores do sistema financeiro da América estão em risco. (George W. Bush, 2008)
Disse Bush, ao anunciar o plano TARP.
No entanto, apesar das intervenções, a crise de 2008 teve consequências duradouras.
Filme “Nomadland”
Por outro lado, houveram consequências severas para os menos abastados, o filme retrata a vida dessas pessoas, que perderam suas casas devido à crise e passaram a viver como “nômades modernos”, pessoas que vivem em veículos ou em acampamentos temporários.
A personagem principal, Fern, interpretada por Frances McDormand, é uma mulher que perdeu sua casa e seu emprego após o colapso da indústria em uma pequena cidade. Ela se torna uma nômade, viajando pelo país em sua van e trabalhando em empregos temporários. Ao longo do filme, Fern encontra outras pessoas na mesma situação, compartilhando histórias de perda, resiliência e solidariedade.
Essas pessoas se veem desprovidas de uma moradia estável, enfrentando dificuldades para encontrar emprego e lutando para se sustentar. O filme mostra a luta diária desses indivíduos e seus pequenos momentos de felicidade nas relações humanas.
Também são abordadas questões mais amplas relacionadas à desigualdade social e à precarização do trabalho. Vemos como trabalhos temporários e mal remunerados se tornam a única opção para muitas pessoas. O filme também enfatiza a falta de segurança social e a ausência de uma rede de apoio adequada para aqueles que perderam tudo.
Em contraste com o socorro do Estado aos bancos, essas pessoas não receberam a ajuda necessária para seguir suas vidas com dignidade.
Como As Meninas nos ensinaram:
Analisando essa cadeia hereditária
Quero me livrar dessa situação precária
Onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre
E o motivo todo mundo já conhece,
E que o de cima sobe e o de baixo desce.
Xibom Bombom