Você já sabe o quanto a COVID vem modificando nosso dia a dia. Mas hoje, eu queria falar um pouco sobre o impacto dela nos eventos científicos.
Imagino que nem todos já tiveram a oportunidade de participar de algum evento científico, como conferências, simpósios, workshops etc. Então, antes de chegar no foco desse artigo, acho importante explicar um pouco sobre o funcionamento desses eventos.
Pode-se dizer que o principal objetivo para realização de eventos científicos é a divulgação de resultados e avanços obtidos por diferentes grupos de pesquisas à comunidade (estudantes, pesquisadores, profissionais da indústria etc.) que possui algum interesse no assunto-foco do evento. Além disso, é um espaço em que essa comunidade pode interagir, trocando experiências, identificando oportunidades de pesquisa e, muitas vezes, prospectando parcerias para desenvolvimento de futuras pesquisas.
Porém, a COVID impôs uma série de restrições para que os eventos ocorressem da forma como vinham acontecendo, como impossibilidade de locomoção de pessoas, fechamento de espaços, limitação da quantidade de pessoas em um mesmo local ao mesmo tempo etc. Para que os eventos não fossem cancelados, muitos deles optaram pela migração do modelo tradicional (i.e., presencial) para um formato totalmente on-line.
E como não gostar disso? A divulgação da sua pesquisa continuaria acontecendo, a interação com outros pesquisadores também! Além disso, os custos para participação diminuiriam bastante – não existe mais a necessidade de gastos com passagem e estadia, além de observarmos uma redução dos valores para inscrição nos eventos (alguns inclusive gratuitos). Também não podemos esquecer da facilidade em participar de eventos que antes seriam inviáveis, devido a impossibilidade de viagem e custos para inscrição. E, o principal, isso tudo no conforto do nosso lar… 😊
Os eventos online continuam com o mesmo objetivo, mas a dinâmica precisou ser adaptada. A divulgação de pesquisas continua acontecendo, mas agora através de lives públicas no Youtube, ou em reuniões fechadas no Zoom, Google Meet, Discord e apps focados em conferências virtuais (Hopin e GoToMeeting).
Muitos eventos também investiram no desenvolvimento ou adaptação de apps para que a comunidade pudesse interagir. Nesses apps, como o cvent-CrowdCompass, os participantes podem se registrar, acompanhar a programação do evento, descobrir outros participantes, trocar mensagens, marcar reuniões e, até mesmo, competir por pontos e prêmios do evento.
Porém, os eventos on-line não são perfeitos. Os benefícios são muitos, mas também várias críticas podem ser feitas ao formato on-line:
- Dificuldades técnicas: A transição para o formato on-line aumenta as chances de ocorrerem problemas técnicos. Falta de conectividade dos participantes, atrasos na transmissão que prejudicam a assimilação da pesquisa, dificuldades na projeção de slides que levam a atrasos nas sessões etc. Esses problemas também podem ocorrer em uma interação presencial, mas sua resolução acaba sendo mais facilitada.
- Tempo de interação com palestrantes: Os eventos online precisam otimizar o tempo de apresentação, devido tanto às dificuldades técnicas quanto ao número de artigos a serem apresentados (muito eventos estão recebendo um maior número de artigos dada a possibilidade de participação remota). Então, muitas vezes, acabam priorizando as interações assíncronas, i.e., aquelas que podem ocorrer a qualquer momento e que não requerem da presença de todos os participantes ao mesmo tempo. Com isso, o tempo para perguntas da plateia e resposta dos palestrantes tem sido bem reduzido. Além disso, muitas apresentações estão sendo gravadas previamente para que sirvam de backup caso os palestrantes enfrentem problemas. Isso também impossibilita e/ou diminui as oportunidades de interação com os palestrantes.
- Engajamento: Participar de eventos on-line na nossa casa é bom, mas também um desafio. Em muitos momentos, é difícil assimilar que estamos participando de um evento científico e que devemos nos engajar em toda sua programação. Nossa atenção acaba se dividindo entre participar das sessões e prosseguir com as atividades dos nossos trabalhos (e some a isso finalizar as atividades domésticas). Novamente, isso também acontece durante eventos presenciais, quando precisamos solucionar alguma pendência do trabalho ou casa. Porém, o distanciamento desses espaços físicos, ajuda a nos engajarmos mais no evento.
- Socialização (e a famosa “hora do cafezinho”): Um aspecto importante dos eventos é a interação com outros participantes. Isso ocorre em diferentes espaços, seja pedindo uma caneta/papel durante as apresentações, nos corredores ao mudarmos de salas ou no momento de descontração do coffee break. Os eventos online impõem grande dificuldade para interação com os demais participantes, justamente pelo distanciamento físico e pela falta de suporte tecnológico adequado. As ferramentas até existem, mas requerem um esforço maior dos participantes: eles agora precisam descobrir a pessoa com quem desejam interagir, entrar em contato para agendar um horário/ferramenta a ser usada, e só então começar a interação de fato. Com tanta “burocracia”, toda a naturalidade da socialização se perde. Tentativas para facilitar essa socialização são encontradas, mas nenhuma ainda conseguiu emular a interação presencial.
E preciso deixar claro que essa lista surgiu com base na minha participação em eventos online desde março e também em conversas sobre o tema com outros alunos, professores e pesquisadores. Adições e contrapontos são sempre bem vindos 😊
Então, aproveite os comentários para compartilhar conosco! Você já participou de um evento científico? Antes e/ou depois da COVID? Qual a sua percepção sobre o formato presencial vs. o formato online? Tem outras experiências (positivas/negativas) para relatar? O que poderia ser feito para melhorar a experiência em eventos online de modo que a ciência continue sendo divulgada nesses espaços?