Aconteceu do dia 2 de dezembro até o dia 13 de dezembro de 2019 em Madrid, capital da Espanha, o evento chamado COP 25 e eu vim aqui pra te atualizar e explicar um pouco do que era esperado e o que de fato aconteceu.
Antes de tudo, vamos a um breve histórico.
A COP (Conference of Parties), em português Conferência entre as Partes, é um evento organizado todos os anos desde 1995 pela Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima. Essa convenção reúne os países que em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a ECO 92 ou Rio 92, no Rio de Janeiro, assinaram um tratado em que concordaram em discutir problemas a respeito das mudanças climáticas, buscando discutir saídas em conjunto e de comum acordo com todos os países. A primeira delas, após assinatura do Tratado, a COP 1 ocorreu em 1995 em Berlin na Alemanha e, desde então, acontece todos os anos. A desse ano, foi a 25º Convenção.
Algumas dessas convenções ficaram tão conhecidas que acabaram estourando a bolha do pessoal das relações internacionais e os ambientalistas. Aposto que você já ouviu falar do Protocolo de Kyoto, certo? O Protocolo de Kyoto foi o documento que foi aprovado após intensas negociações em que, pela primeira vez na história, os países industrializados concordaram em reduzir seus níveis de emissão de gases do efeito estufa, os GEE. Então, esse acordo foi costurado durante a COP 3 realizada em Kyoto no Japão em 1997.
Outra COP que ficou famosa por sua importância e acabou ficando conhecida não apenas pelo número da Convenção, foi a COP 21 que aconteceu em 2015 em Paris na França. O famoso Acordo de Paris, que você também já deve conhecer, saiu da COP 21.
Eu vou voltar a falar mais da COP 21 neste texto.
É importante que você saiba, antes de explicar o que rolou na COP 25, que era para essa convenção ser no Brasil. Você não sabe como eu fiquei triste quando soube da notícia de que não seria mais. Foi-se minha esperança de pelo menos tentar participar de alguma forma, mas fica pra próxima.
O Brasil era sede oficial da COP 25 e, após as eleições do ano passado, sempre elas né, a equipe de transição do governo, ainda no governo Michel Temer, decidiu que sediar o evento traria muitos gastos para o Brasil e que aquele não era o momento para pensar em gastos.
Ainda no ano passado, o nosso vizinho Chile aceitou sediar o evento. Só que como essa COP 25 tava zicada de verdade, o Chile organizou o evento, mas, por conta de todos os protestos que estavam ocorrendo recentemente, o país decidiu por razões de segurança não sediar mais o evento. Até que finalmente em 01/11/2019 a Espanha anunciou que mesa diretora da COP aceitou a cidade de Madrid como sede. O evento acabou ficando nomeado como COP 25 Chile/Madrid 2019, porque foi organizado pelo Chile e sediado em Madrid.
Então chega de enrolação, que agora sim vamos para os pontos importantes do que foi discutido na COP 25 e tudo o mais que você precisa saber para ser um leitor super informado.
Antes de começar eu já te adianto que houve uma quebra de expectativa. Ainda antes do evento acabar, já estava bastante claro para algumas lideranças de países e ONGs ambientalistas que a COP 25 não ia ser um evento marcante.
Lembra que eu falei da COP 21, de onde saiu o Acordo de Paris?
Esperava-se que o tema principal da COP 25 este ano fosse a discussão dos pontos que foram combinados no Acordo de Paris.
Para você, esquecidinho, que não lembra o que foi o Acordo de Paris ou nem sabe o que aconteceu por lá, eu tô aqui pra isso.
O Acordo de Paris foi um acordo entre os países a respeito das metas de emissão de gases do efeito estufa. A lição da COP 21, bem resumidamente, foi: já que percebemos que a mudança climática está acontecendo por intervenção humana, que nossas temperaturas já subiram e que, se atingirmos o patamar de 2ºC a mais até 2100, vamos ter ainda mais tragédias ambientais do que as que já temos visto, o que a gente pode efetivamente fazer para barrar esse crescimento das temperaturas?
A partir disso, algumas metas foram estabelecidas lá em 2015 e foi decidido que elas começariam a valer em 2020. Os países decidiram que fariam esforços para manter as temperaturas entre 1,5ºC e 2ºC e que iriam rever suas metas de redução dos GEE a cada 5 anos para que os valores pudessem ser ajustados. O Acordo de Paris foi considerado um sucesso pois os 195 países mais a União Europeia assinaram o acordo.
Tava tudo lindo, todo mundo muito feliz, mas os países que assinaram o acordo esqueceram de um detalhe bem pequeno, sabe: como fazer?
É importante aqui fazer um parêntese. Existe uma complicação nestes acordos comuns firmados entre os países, na verdade são duas complicações:
- Reduzir os níveis de emissão de gases do efeito estufa significa para estes países reduzir seus níveis de produção industrial e de energia e quem sabe impactar sua economia ou ainda ter que investir muita grana para o desenvolvimento de novas tecnologias que substituam as antigas. Envolve dinheiro das duas formas e você sabe que as coisas ficam bem complicadas quando a gente fala de dinheiro, né?
- A outra parte, é que os países que firmam acordos, firmam voluntariamente e acaba que a ONU e nenhum outro órgão internacional tem como cobrá-los. Então, se um país se compromete com o acordo, nada nos garante que esse ele irá seguir com as diretrizes propostas.
Um bom exemplo dessas complicações aí que eu citei são os Estados Unidos, que assinaram o acordo lá em 2015 se comprometendo a colaborar, mas agora em 2019, o país acabou decidindo sair do Acordo de Paris.
Aí levando em conta tudo isso, o que acontece é que, desde da COP 21 lá em 2015, em todas as COPs que ocorreram, os países tentaram negociar formas mais efetivas dos países cumprirem o que foi decidido e formas de redução da emissão dos gases do efeito estufa.
É importante lembrar que, desde 2015 até agora, os sinais da mudança climática ficaram mais perceptíveis com os anos de 2016, 2017 e 2018 atingindo temperaturas acima da média. 2016 foi o ano mais quente que se tem registro na história, desde que começaram a documentar esses dados. Além disso esses anos também tiveram furacões, tufões e tempestades tropicais de proporções homéricas no oceano pacífico e índico, lembram do Furação Matthew, Irma, Dorian? A situação tá ficando cada vez mais difícil e os países já perceberam que o tempo que a gente tem para tentar reverter os 2ºC a mais de temperatura média da Terra até o final do século está cada vez mais curto.
Por esse motivo o slogan da COP 25 era Hora da Ação (Time for action) porque já é consenso entre os países que, se não houver união e metas concretas, e vai ser muito difícil não passarmos os limites de temperatura estabelecidos até 2100.
Antes do evento começar, o tom do discurso era mais sério. O secretário geral da ONU, Antônio Gutierres, declarou que precisamos “parar nossa guerra contra a natureza”. Aí, que todo mundo foi lá e botou todas as fichas na COP 25 e, com toda essa consciência dos problemas que temos que enfrentar, se quisermos parar a mudança climática, tava tudo mundo esperando que colocar os planos em prática fosse a tônica daqui pra frente.
E para isso, a COP 25 tinha algumas metas.
Metas da COP 25
- Manter o nível acordado de aumento médio de temperatura global entre 1,5ºC a 2ºC até 2100, conforme o que foi decidido na COP 21;
- Estabelecer que os níveis de emissão dos GEE diminuam 7% a cada ano entre 2020 e 2030 para que o nível de temperatura não ultrapasse os 2ºC. Já existem previsões de que se os níveis de emissão se mantiverem nesse período, podemos chegar até 3,2ºC até o fim do século;
- Na COP 21, 70 países se comprometeram a neutralizar suas emissões dos GEE até 2050, entre eles Alemanha, França, Espanha, Moçambique, Coréia do Sul, Itália e Portugal. Só que esses países não são os maiores emissores dos GEE. A COP 25 esperava tentar fazer com que os países com maiores volumes emitidos se comprometam a reduzir suas emissões em valores significativos. Os Estados Unidos, um dos maiores emissores, já saíram do Acordo de Paris e a China havia se comprometido, mas investiu em construções de usinas termoelétricas, o que não demonstra comprometimento com os acordos. Fazer os maiores emissores a se comprometerem era uma das metas da COP 25.
- Estabelecer como vai funcionar o mercado de créditos de carbono. 1 crédito de carbono equivale a 1 tonelada de CO2 que deixa de ser lançada na atmosfera. Os créditos de carbono são uma forma de fazer com que países que possuem capacidade de geração desses estoques de carbono, possam comercializá-los, oferecendo uma alternativa a países que não conseguem gerar os estoques fazendo com que eles ainda sejam capazes de contribuir com a redução das emissões. Era discutido até então que essa forma de comercialização fosse uma espécie de fonte de renda para países que se comprometam a gerar esses estoques. O que esperava-se ser feito, na COP 25 é que o dinheiro arrecadado com essa comercialização alimente um fundo de reservas financeiras de 100 bilhões de dólares, previsto no Acordo de Paris. Esse fundo foi previsto como uma forma de financiar novas formas de redução da emissão dos GEE. Envolve grana, envolve países tendo que fazer esforços e ainda tendo que abrir mão de ganhos financeiros, não parece fácil, né?
As metas todas eram ambiciosas e a expectativa tava lá em cima de que pudesse sair da COP 25 um acordo em que a partir do ano que vem as emissões pudessem ser reduzidas de verdade conforme o que foi combinado no Acordo de Paris.
No fim das contas, o saldo do evento é que ninguém se comprometeu muito. Os países resolveram não arriscar e preferiam deixar as metas para serem discutidas na COP 26 que será realizada em Glasgow na Escócia. Além disso, os países desenvolvidos, ainda antes da COP 25 acabar, acusaram alguns dos países que possuem maiores níveis de emissão dos GEE, incluindo o Brasil, de estarem atrapalhando as negociações voltando atrás em suas metas firmadas na COP 21, e ainda cobrando financiamento pelos países desenvolvidos das medidas que precisam ser tomadas para que suas metas assumidas pudessem ser cumpridas. Talvez a melhor notícia é que União Europeia (exceto a Polônia) se comprometeu a neutralizar as emissões de CO2 até 2050. Bem menos ambicioso que o esperado e que o necessário.
Enfim, foi frustrante.
Por enquanto, é isso.
Até a próxima.
Izabella Simião. Bacharel em Ciência e Tecnologia e Engenheira Ambiental e Urbana, apaixonada por ciência. Ainda tenho dúvidas se sou de exatas, humanas ou biológicas então se você me explicar qual sua pesquisa eu vou querer estudar também.