Práticas dietéticas são comuns para todas as culturas humanas. Atribuímos a elas benefícios como ganho ou perda de peso, melhoria de qualidade de vida e performance esportiva. Na cultura ocidental, elas estão fortemente associadas ao estilo de vida fitness e alimentação “saudável”, baseado em algum paradigma.
Para o correto benefício dessas atividades, é necessário estar em consulta com especialistas, nutricionistas ou algum outro profissional de fisiologia humana. Apesar de eu escrever sobre alimentação, eu prefiro me resguardar sobre dietas e seus benefícios. Até mesmo porque nunca se sabe se o leitor compreenderá a extensão dos riscos associado às mudanças alimentares.
No texto de hoje, porém, eu gostaria de desenvolver nosso entendimento sobre uma dieta da moda. Iremos ler sobre a tal da “dieta planetária” e seus estigmas. Afinal, há benefícios com essa prática? A quem ela se destina? Descubra sobre isso e muito mais!
Apesar de serem práticas individuais, as dietas repercutem na saúde pública como um todo. Você pode entender mais sobre isso lendo este texto aqui. Este fenômeno ocorre diretamente pelos impactos nutricionais e indiretamente por afetar o meio ambiente ao nosso entorno [1]. As práticas alimentares, baseada em determinantes sociais (classe, gênero, etnia, etc.), definem a manifestação psicossocial e cultural da coletividade.
O aspecto cultural da alimentação brasileira é muito influenciado pelos padrões das disponibilidades de alimentos em torno de nossa abrangência territorial [2]. Esse é o princípio da gastronomia típica e popular de cada região. Contudo, esse padrão está sofrendo com certas interferências e incógnitas totalmente novas em nosso século.
Com base no Inquérito Nacional de Alimentação (INA), o Brasil apresenta baixa adesão à alimentação saudável e sustentável [1]. Levando em conta o indicador Planetary Health Dietary Index (PHDI, ou índice de dieta da saúde planetária) — que avalia adesão à saudabilidade com base em escore de 16 indicadores e 150 pontos — o país possui pontuação média de 45,9 pontos, cerca de 30% da pontuação. Mulheres de alta renda e faixa etária média podem se sair melhor, mas o índice ainda é baixo em comparação com outros países.
Esse estigma pode ocorrer por diversas problemáticas, particularmente a insegurança alimentar, fome, desastres climáticos, reduflação, promoção de alimentos ultraprocessados, greenwashing, formação de sistemas alimentares mais desertificados e novos atores no cenário agroalimentar, tais como serviços delivery por aplicativo, gastrodiplomacias ou alimentos manufaturados.
A dieta da saúde planetária é um conceito emergente que visa lidar com os fatores citados acima. É um paradigma que observa a alimentação do ser humano com base em suas variedades regionais, saudáveis e sustentáveis. De acordo com com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a dieta planetária envolve
padrões alimentares que promovem todas as dimensões da saúde e bem-estar dos indivíduos; têm baixa pressão e impacto ambiental; são acessíveis, baratos, seguros e equitativos; e são culturalmente aceitáveis.
Este conceito foi criado pela Comissão EAT-Lancet de alimentação à saúde do planeta. A mesma é copresidida pelo professor Walter Wilett MD (Harvard) e Jordan Rockström (Instituto Potsdam), dois difusores da ideia de um sistema alimentar justo e saudável para pessoas e para o planeta — não deixando ninguém para trás [7]. A comissão faz parte da ONG EAT que, entre outros objetivos, visa transformar a alimentação através de critérios científicos.
De maneira geral, essa dieta é descrita como à base de vegetais; sendo alimentos frescos, minimamente processados, nozes, sementes, gorduras vegetais de baixo impacto de carbono, fração pequena de proteína animal minimamente processada, água potável como bebida primária e reaproveitamento máximo de todos os subprodutos.
O paradigma tende a lidar com a necessidade de mudanças substanciais na dieta e na sustentabilidade do nosso sistema produtivo, que é bastante poluidor e ineficiente. Isso ainda botando em questão a regionalidade dos alimentos e pratos típicos de cada localidade [5]. A dieta planetária está sendo usada como diretriz pela ONU justamente para lidar com esses diversos problemas.
Para determinar a adesão de uma determinada região à dieta, foi criado o indicador PHDI, também conhecido como índice de dieta planetária. Sua construção teve por base o modelo EAT-Lancet [6]. Ela tem por eixo 16 critérios, subdivididos em quatro grandes componentes.
O primeiro componente é de adequação, relacionado com consumo de nozes, amendoim, leguminosas, frutas e grãos integrais [6]. O segundo é o componente de consumo ótimo (ovos, laticínios, frutos do mar, batata, outros tubérculos e óleos vegetais). O terceiro são os componentes de moderação (carne vermelha, frango e substituto, gordura animal e açúcar adicionado), dos quais devemos ter um consumo mais restrito. E existem também os componentes de razão, que incluem vegetais escuros, verde-escuros, alaranjados e vermelhos à dieta.
A pontuação de cada item é baseada na contribuição calórica dos alimentos de acordo com seu tipo (razão, adequação, consumo ótimo ou moderação). Praticamente, faz-se o seguinte cálculo:
Alimentos classificados nos componentes / Total de alimentos incluídos no PHDI *100
Cada alimento tem sua pontuação registrada dependendo do quanto está próximo do máximo e mínimo de pontos para aquele componente. A seção de adequação, consumo ótimo e moderação, por exemplo, podem graduar em até 10 pontos. Componentes de razão graduam em 5 pontos. Dessa forma, temos um índice capaz de chegar, ao todo, em até 150 pontos. Para uma boa pontuação, tudo depende finalmente dos alimentos ingeridos diariamente pela coletividade.
Lembrando que todos esses componentes precisam ser integrados nos aspectos culturais de cada região, estando unidos com os habitus para a completa efetividade dos inquéritos alimentares levantados. Afinal, não adianta criarmos uma solução que não leve em conta as apreensões e valores de cada cultura alimentar.
O mais interessante da dieta é levar em consideração que cada localidade é capaz de prover sua própria adequação, uma vez que cada item do PHDI pode ser representado pelas culturas agrícolas únicas de cada espaço simbólico. Isso abre possibilidade para o desenvolvimento de economias criativas totalmente populares e desenvolvimento de tecnodiversidades que sejam propriamente novas e únicas.
Ou seja, é bem improvável que os produtos dessa dieta possam sofrer com a influência de grandes conglomerados alimentares ou empresas multinacionais. Assim, resguarda-se maior poder de decisão para os cidadãos comuns e populações locais. O consumo da dieta planetária, por isso, é um sistema baseado nas coletividades e em seu potencial singular.
Com base nesse consumo, somos capazes de indicar o quanto nossa alimentação consegue ser tão saudável ao ser humano, aos animais e ao meio ambiente. Essa abordagem de dieta, então, busca nos integrar ao conceito de One Health (uma saúde), que trata da saúde do planeta e dos seres viventes nela como um todo. Entender e aplicar a dieta planetária tem virado uma necessidade emergencial à sobrevivência de nossos ecossistemas e cultivos, bem como da nossa própria saúde e governança.
O que acharam desse texto? Já sabiam sobre essa dieta e suas perspectivas? Para saber mais sobre o assunto, leia o e-book da Academia Brasileira de Ciências (ABC) sobre segurança alimentar e nutricional aqui. Não deixe de comentar suas críticas e considerações sobre o assunto. Até a próxima!