A Teoria da Evolução, apesar de ser um dos consensos científicos mais bem estabelecidos e ricos em evidências, permanece sendo motivo de confusão e polêmica pela maioria das pessoas. É comum que até biólogos tenham algumas interpretações errôneas e incompletas dessa famosa teoria. Hoje eu vou abordar alguns desses tópicos e tentar esclarecer alguns ‘mitos’ sobre a Teoria da Evolução.
- Evolução é apenas uma teoria.
Esse mito é provavelmente o mais famoso, e o mais usado por negacionistas pra tentar gerar confusão nas pessoas e desacreditar o trabalho de centenas de milhares de cientistas desde o século XIX.
Acontece que, para a Ciência, ‘teoria’ significa muito mais que o termo usado no cotidiano. Uma teoria científica é um conjunto de regras usado pra explicar fenômenos naturais com base nas evidências que temos. Evolução é uma teoria porque ela é capaz de explicar diversos fenômenos observáveis (como a famosa seleção natural) e fazer predições.
Outras teorias científicas são a Teoria da Gravidade (que diz que objetos com massa se atraem), a Teoria Celular (que diz que todo ser vivo é composto por células), a Teoria Heliocêntrica (que diz que os planetas giram em torno do sol) e a Teoria da Relatividade (que é complicada demais pra mim, então deixo pro Pena).
As ‘teorias’ que temos no dia-a-dia são chamadas de “hipóteses” na Ciência. Essas sim são palpites sobre alguma coisa que ainda não foram testados.
- Evolução é o mesmo que melhora ou progresso.
Novamente um mal entendido causado pelo uso de palavras no meio científico e no cotidiano. Evolução, para a maioria das pessoas, significa ‘melhora’; mas para a Ciência, quer dizer apenas “mudança”. Muitas das imagens que vemos sobre evolução contribuem para essa interpretação, como a clássica “Evolução do Homem”, que mostra uma única linha ligando organismos vivos mais primitivos até os mais derivados, dando a entender que existe um propósito, um progresso, uma ‘melhora’ na evolução; o que não é o caso.
Inclusive, “primitivo” aqui significa ter muitas características semelhantes ao ancestral comum, não ser ‘pior’ de alguma forma. Quando chamamos sociedades de caçadores-coletores de primitivas, não significa que eles sejam piores, mais burros, inferiores ou atrasados; apenas que vivem de uma forma mais semelhante aos primeiros humanos do que nossa sociedade atual, mais derivada dessa condição primitiva. Cogito tem um vídeo bem interessante sobre esse assunto. Infelizmente está em inglês, mas deve dar pra traduzir as legendas.
- Evolução é sempre algo positivo para as espécies.
Este mito se relaciona um pouco com o anterior, dando a ideia de que as espécies progridem de alguma forma graças à evolução. A verdade, no entanto, é que a evolução não tem um projeto nem um propósito; ela apenas age de acordo com as condições daquele momento.
Os dinossauros não-avianos prosperaram e dominaram o mundo por centenas de milhões de anos, até que um dia a evolução deu um pé na bunda deles com uma mudança ambiental drástica demais pra eles se adaptarem, causando sua extinção.
Muitas espécies se entrincheiram em nichos extremamente particulares apenas para serem obliteradas quando as condições ambientais mudam. E é muito comum que características complexas que antes eram úteis e vantajosas se tornem peso desnecessário, como olhos em espécies que vivem em cavernas. Várias espécies de peixes cavernícolas perderam ou reduziram drasticamente seus olhos num ambiente em que eles não servem pra nada. Elas não regrediram por isso, apenas “se adaptaram” às novas condições.
- O significado de ‘adaptação’.
Essa última frase me fez lembrar de outra confusão frequente: a ideia de que as espécies buscam ativamente se adaptar ao ambiente, e por isso evoluem. Essa ideia é bem intuitiva, tanto que Lamarck a usou para explicar seu conceito de evolução.
Mas como Darwin descobriu, essa adaptação não é ativa ou voluntária. O que acontece é que o ambiente seleciona os indivíduos mais adaptados. Parece a mesma coisa, mas existe uma diferença sutil e importante: enquanto o lamarckismo previa que o esforço das criaturas as levaria a evoluir, o darwinismo prevê que os indivíduos que já nasceram mais adaptados serão mais bem sucedidos.
No caso dos peixes cavernícolas, não é o escuro que os faz perder os olhos. A falta de necessidade de olhos faz com que aqueles indivíduos que por alguma mutação nasceram com olhos menos desenvolvidos possam competir tão bem quanto, ou melhor que, aqueles com olhos normais (talvez por realocarem os recursos normalmente investidos nos olhos e na visão para outros sentidos?).
- Evolução é sobre a sobrevivência do mais forte.
Talvez por estarmos acostumados com documentários sobre animais lutando por fêmeas e territórios, tenhamos essa ideia de que apenas os mais fortes sobrevivem. Mas como eu também já mencionei anteriormente, a evolução é sobre adaptação, não força.
Os imensos e imponentes tiranossauros foram extintos no fim do Cretáceo, enquanto os pequenos mamíferos sobreviveram e prosperaram. Não foram os mais fortes que sobreviveram, e sim aqueles que tinham condições de sobreviver no novo e inóspito planeta pós-impacto de um asteroide gigantesco.
Essa ideia é particularmente perigosa porque pode ser usada como “argumento” por eugenistas e supremacistas, que acreditam que algumas pessoas sejam superiores ou mereçam mais por serem mais fortes (seja fisicamente ou politicamente).
- Humanos vieram dos macacos.
Nós não viemos dos macacos, nós SOMOS macacos! #somostodosmacacos. Lembra da “Evolução do Homem” que eu citei anteriormente? Então, quem tá acostumado com aquela imagem pode achar que nós viemos de macacos parecidos com chimpanzés e que, portanto, os chimpanzés nem deveriam existir hoje em dia. Mas como expliquei ali, a evolução é mais uma árvore que uma linha. Quando se observa a evolução das espécies dessa forma, fica mais fácil entender porque diabos ainda existem outras espécies de primatas além de nós.
Esses são alguns dos mitos mais comuns sobre a Teoria da Evolução, e eu espero ter ajudado a clarificar alguns mal-entendidos que são, infelizmente, tão frequentes.