Clorofila é o pigmento que permite que as plantas e algas façam fotossíntese. Para quem olha de fora é, normalmente, verde.

“Todo mundo sabe disso”.

Mas você sabe como que oceanógrafos estudam a clorofila dos fitoplânctons?

Nós, pesquisadores, começamos coletando água em diferentes profundidades (você pode ver aqui como fazer isto). Então pegamos a água da garrafa de coleta e cuidadosamente abrimos a garrafa de amostragem para encher um galão, usando funil e cano.

Para não misturar propriedades de água umas com as outras, é sempre importante usar um pouquinho da água para limpar o galão antes de derrubar a amostra toda dentro. E assim, a garrafa de coleta está pronta para ser armada para uma nova coleta, enquanto que temos muitos e muitos galões grandes e, estranhamente, vermelhos para não perder tempo.

Os galões são organizados e etiquetados para não confundir água de profundidade X com profundidade Y,  e ficam ali na fila aguardando sua vez. Num navio de pesquisa oceanográfica é sempre importante aproveitar o tempo para fazer tudo o que é possível de se fazer num cruzeiro só. Então é comum os galões aguardarem enquanto se garante a qualidade dos dados de temperatura e salinidade, por exemplo.

Quando vamos usar a água dos galões balançamos a garrafa, devagar, algumas vezes para homogeneizar a mistura (sim, é só água, mas juro que tem “coisas” nela). Depois derrubamos entre 1 e 2 litros, no total, de água do galão dentro de provetas (que são tipo beckers longos).

 

O objetivo agora é filtrar essa água!

Em um laboratório terrestre você pega a água, numa medida conhecida, e pode passar no filtro, usando um suporte para café, tranquilamente, em cima de sua bancada.

Mas na oceanografia temos o barco balançando e a mira das pessoas importa muito para acertar o funil.

O funil é preso com um clasp grande em cima de um frasco Kitassato (que é tipo um Erlenmeyer com uma saída lateral). Entre eles você prende o filtro, que é circular, feito de fibra de vidro de 24mm. Na saída lateral do frasco Kitassato é presa uma bomba de vácuo.

Com toda essa estrutura no lugar, o pesquisador liga a bomba de vácuo e vai aos poucos se equilibrando para despejar o conteúdo da proveta dentro do funil, com o filtro de papel retendo a clorofila. Ele fica verde e é possível ver se a pessoa é mais ou menos cuidadosa com o processo se a mancha de clorofila é mais ou menos centralizada no filtro.

Lembre seus amigos de fazer duplicatas e triplicatas do mesmo galão de água.

Depois, o pesquisador dobra o filtro em 4 dentro de um papel laminado, coloca numa embalagem devidamente demarcada com a data da expedição, local de amostragem, profundidade de coleta, etc, e congela.

Assim, acaba a parte “em campo” e vamos às análises laboratoriais.

Começando com a extração da clorofila do filtro, usando acetona 90% por 24 horas ao abrigo de luz. Com isso teremos o conteúdo celular, de tudo o que foi filtrado, num frasco.

Por fim, numa cubeta de 1cm de lado (que é tipo um tubo de ensaio quadrado para análise em alguns equipamentos) é colocada a amostra que vamos analisar com um famoso fluorímetro.

 

Fluoque?

Fluorímetro. Ou fluorômetro. O princípio da fluorimetria é analisar a fluorescência do pigmento do fitoplâncton usando luz. A explicação simples é que irão irradiar luz numa amostra e um sensor vai ver a diferença da luz enviada com a luz que o sensor recebe. Essa diferença indica a fluorescência da amostra. E existe uma correlação diretamente linear entre fluorescência e quantidade de clorofila. Mas o fluorímetro é uma máquina de análises químicas que você conecta a um computador, aperta um botão e vê uns gráficos. Quase todas as máquinas de análises químicas são assim.

O primeiro passo é usar uma amostra modelo no equipamento, fabricada em laboratório, só para garantir que está tudo funcionando normalmente. Percebe a trabalheira que tivemos até esse momento? Tudo ir por ralo abaixo porque a máquina está desregulada seria uma tristeza.

Daí então, se sabemos a quantidade de clorofila naquele tubinho de 1 cm e sabemos quanto de água filtramos usando a proveta, sabemos também quanta clorofila tinha naquela profundidade do oceano, naquele dia, naquele local. E até quais tipos de clorofila, pois fitoplânctons podem ter mais de um pigmento.

 

“Para que serve saber isso?”

Bem, a clorofila é o pigmento da fotossíntese. É com esse pigmento que a base da cadeia alimentar pega água, gás carbônico e nutrientes e transforma em oxigênio. Sabendo quanta clorofila tem em cada pedacinho dos oceanos podemos ver o quanto de oxigênio estão produzindo. Nesses tempos de aquecimento global e mudanças climáticas, clorofila é uma informação muito importante de se ter. A oceanografia é um dos ramos da ciência que estuda o passado e o presente para tentar prever o futuro.

 

Fontes:  Holm-Hansen, Osmund; Lorenzen, Carl J.; Holmes, Robert W.; Strickland, John D. H. (1965). “Fluorometric Determination of Chlorophyll”. ICES Journal of Marine Science. 30

 

Descrição da imagem de capa, da esquerda para a direita: equipamento de filtragem de clorofila, seguido de uma foto da clorofila presa no filtro e os gráficos de fluorímetro.

Fontes das imagens: