Apesar de mais próximo que o planeta Marte, Vênus foi bem menos explorado e chama bem menos atenção da imaginação humana. Podemos ver a superfície marciana através de sua rarefeita atmosfera (salvo quando há tempestades de areia). Por outro lado, a atmosfera venusiana é extremamente densa e nublada. Esta atmosfera não nos deixa ver nadinha da sua superfície a partir da Terra. Por muitos anos a verdadeira natureza venusiana foi um mistério envolto em névoa.

O Amor e o Inferno…

Por sua grande beleza, ao entardecer e ao amanhecer, o astro mais brilhante do céu depois da Lua já confundiu os antigos. Pensava-se que eram dois astros VésperLúcifer, portadores da luz. Foram os gregos que descobriram que era um só astro e o batizaram com o nome da sua deusa do amor, a bela Afrodite. Muitos chamavam este astro de Estrela D´Alva. O nome Vênus devemos aos romanos.

Afrodite

Quadro de Botticelli que mostra o nascimento de Vênus (Afrodite)

Durante o Iluminismo a ideia de que os planetas teriam se originado gradualmente do Sol era muito forte. Sob a influência de pensadores como Immanuel Kant (1724-1804) e sua hipótese nebular, se imaginava que Marte era mais velho que a Terra e Vênus mais novo. Logo se imaginou o planeta vermelho como um planeta moribundo e o “astro da Alva” era uma selva primitiva cheia de dinossauros. Imaginado como uma densa floresta tropical, o Vênus da literatura “pré-corrida espacial” lembra mais o planeta Dagobah, onde um certo personagem de Star Wars (para mim o melhor deles) foi se esconder.

Vênus é menos “pop” que Marte, mas nem tanto…

Na década de 30 do século passado, o escritor H.P. Lovecraft (1890-1937) escreveu uma história de ficção científica ambientada em Vênus. Em Paredes de Erix, Lovecraft descreve a luta de um astronauta contra uma armadilha invisível em um pantanoso planeta na busca de minérios preciosos.

Vênus também aparece de forma marcante na série de space opera alemã Perry Rhodan, criada em 1961. Novamente temos um ambiente selvagem com lagartos monstruosos e vermes gigantes.

Vênus de Perry Rhodan

Várias capas sobre Vênus da série de ficção científica Perry Rhodan

O famoso escritor Ray Bradbury desenvolveu um conto interessantíssimo em 1962 chamado A Longa Chuva. Na história, que já foi episódio da série O Teatro de Ray Bradbury, Vênus é descrito como uma versão exagerada de uma floresta tropical onde chove o tempo todo:

“— Há quantos milhões de anos não chovia em Vênus?

— Está doido? — exclamou um dos outros. — A chuva nunca para em Vênus. Chove continuamente. Já passei aqui dez anos e não houve um minuto, nem sequer um segundo, que não chovesse torrencialmente.”

Trecho do conto A Longa Chuva de Ray Bradbury

As nuvens e a chuva ácida…

As primeiras sondas espaciais a realmente nos revelar os segredos venusianos vieram a partir da década de 60. No ano de 1962 a sonda norte-americana Mariner 2 sobrevoou o planeta nublado. Em 1967, a sonda Venera 4 conseguiu entrar na atmosfera, mas parou de funcionar antes de atingir o solo.  A sonda Venera 9 foi responsável pela primeira imagem em preto e branco da superfície venusiana em 1975.  O programa soviético Venera encerrou sua exploração do planeta em 1983 após 16 sondas.

Superfície venusiana

Fotos da Venera 13 direto da superfície de Vênus

Sabemos, hoje, que Vênus é quase tão seco quanto Marte. A atmosfera deste planeta é essencialmente dióxido de carbono (96,5%). O efeito estufa da atmosfera venusiana é tão intenso que faz alcançar temperaturas mais altas que Mercúrio, algo em torno de 460 graus centígrados. É bem mais quente que qualquer floresta tropical.  Há nuvens de ácido sulfúrico que podem precipitar em chuva que não consegue atingir o solo, evapora a quilômetros de altura.

Como não há como ver através da densa camada de nuvens venusianas, a sonda Magellan, lançada em 1989, usou um método não visual. Esta fez um apurado mapa por radar mostrando o relevo do planeta. Há grandes indícios de que talvez ainda haja atividade vulcânica em Vênus.

Mapa de Vênus

Este mapa foi feito a partir de imagens de radar altimétrico da sonda Magellan.

A sonda europeia Venus Express entrou em órbita em 2006 e até 2015 tem enviado dados do planeta. Atualmente Vênus é estudado pela sonda japonesa Akatsuki, em órbita desde 2010.