Faz algum tempo que o termo BigData tornou-se um hit nas conversas sobre negócios ou tecnologia.  Transbordou para as notícias, sites na internet e redes sociais. Se você está conectado, já se deparou com ele, principalmente quando as discussões envolvem o uso das informações que estão no mundo digital e o avanço da inteligência artificial. Mas o que é BigData afinal?

Em uma tradução livre, quer dizer grandes dados. Aí começam as confusões sobre o real significado do conceito. BigData não se trata de grandes volumes de informações, mas sim da profundidade das análises permitidas pela tecnologia. Complicou? Então vamos lá.

Pegarei, como exemplo, o conjunto de dados pessoais de 100 mil habitantes. Se capturarmos nome, sobrenome, CPF, endereço, sexo, idade, estado civil, profissão e quantidade e idade dos filhos dessas pessoas, teremos muitas informações reunidas em um só local. Mas ainda não temos BigData. E se eu ampliar a amostra para 500 mil habitantes ou para um milhão? Apesar de multiplicar o número de informações agrupadas, ainda não estamos lidando com BigData. Bancos de dados comuns já fazem esse trabalho de busca e armazenamento. Não há nada novo nisso.

O BigData é a tecnologia que nos permite:

  • Ampliar o escopo da análise;
  • Reunir e consolidar informações que estão depositadas em diferentes locais e formatos;
  • Associar, por exemplo, reclamações feitas nas redes sociais sobre um produto, com possíveis problemas de fabricação de um determinado lote da mercadoria, permitindo ação rápida do fabricante.

No nosso exemplo, vamos adicionar – aos dados capturados na amostra de um milhão de pessoas – variáveis como hábitos de compra de cada um deles no supermercado (data de cada compra, os produtos comprados, o valor gasto e preços dos itens). Podemos ainda mapear o comportamento de uso de internet (tempo de navegação no computador e/ou no smartphone, sites mais visitados, termos mais pesquisados, aplicativos mais usados e tempo gasto nas redes sociais). Se acharmos interessante, ampliamos a captura para informações de saúde como altura, peso, tipo sanguíneo, pressão arterial, nível de glicose no sangue e colesterol.

Usando uma ferramenta de análise de dados, podemos facilmente levantar quantos homens, na faixa de 35 a 40 anos, têm filhos e compram fraldas e cerveja toda vez que vão ao supermercado. Essa análise de comportamento de grupos de consumo é valiosa para departamentos de marketing e já é utilizada há algum tempo, ainda que dependa de bancos de dados estruturados e, em geral, é feita com amostras menores.

Com o BigData, a coisa vai mais longe. Dá para avaliar, por exemplo, quais são os indivíduos deste grupo com propensão a desenvolver diabetes. Para isso, basta reunir, à análise de comportamento de compra, o nível de glicose no sangue e, ainda, cruzar as informações sobre os itens que cada um coloca no carrinho. Uma informação como essa é relevante para secretarias de saúde que podem identificar tendências de doenças crônicas, em grupos populacionais, e elaborar programas e políticas públicas para prevenção e promoção da saúde.

Outra possibilidade é identificar que, cada vez que uma pessoa compra um eletrônico, ela faz uma pesquisa de preços em dez lojas, em média, e leva em torno de cinco dias para efetivar a compra. Quanto mais variáveis capturamos, mais possibilidades temos de aprofundar as análises e gerar uma grande quantidade de insights.

Ainda é possível aplicar recursos de inteligência artificial (esse assunto merece outro post) para realizar análises preditivas e gerar uma campanha individualizada de marketing. Essa campanha, por exemplo, pode promover um determinado tipo de cerveja toda vez que a previsão do tempo indicar que vai fazer sol e a média de temperatura ficará em 30°C.

Resumindo, o big não se relaciona ao volume de dados, mas sim às análises complexas e aprofundadas. A partir delas, é possível transformar um conjunto de dados em informações relevantes para os negócios e, no caso dos governos, para a elaboração de políticas públicas mais eficientes. BigData traz poder de análise, decisão e ação. Sem a tecnologia, um grande conjunto de dados é apenas um espaço virtual cheio de informações sem sentido.


Marcel Vitorino. Profissional de tecnologia, vendas, marketing e empreendedor. Careca por falta de opção, pai, estudante, esportista, curioso, músico, pensador, nerd e diz que faz algumas coisas gostosas quando se aventura na cozinha.