Mogli, o menino lobo. Rômulo e Remo, fundadores de Roma, amamentados por uma loba. Tarzan, criado por macacos. Nossos contos estão salpicados de crianças que cresceram isoladas, na companhia de animais, com pouco ou nenhum contato com outros humanos. São as chamadas “crianças selvagens”.
Por que essa ideia nos fascina a ponto de estar em tantas histórias?
Talvez nos intriguemos pela empatia que pode existir em outros animais, que consideramos ferozes e hostis, mas por vezes capazes de acolher uma cria humana como se fosse sua.
Ou então, o interesse em desvendar a questão: o que nos faz humanos? É parte inerente de cada um de nós, ou é construído pela sociedade? Podemos estender a discussão do homem bom e homem mau para um “homem selvagem e o homem civilizado”? Todo humano seria “selvagem” se criado sem contato com outras pessoas, sem regras além da própria sobrevivência? Seríamos imitadores exímios: criados por feras nos tornamos feras?
Casos reais de crianças selvagens já foram registrados diversas vezes.
Estudiosos investigam casos assim para entender como a convivência influencia na formação da linguagem e capacidade de comunicação. Essas pesquisas já levaram a novos métodos de ensinar crianças com dificuldades de aprendizado ou fala e interpretação, e até, indiretamente, à criação de linguagens alternativas, como o braile e linguagem de sinais.
Ainda que boa parte do nosso sistema sensorial e cognitivo seja bem robusto, alguns aspectos, como linguagem e comunicação, tem seu desenvolvimento muito dependente das experiências e ambiente em que crescemos. E há uma janela nos primeiros anos de vida em que somos muito mais responsivos a esses estímulos. Assim, dependendo da idade em que a criança foi isolada e reintroduzida, pode ser que ela nunca seja capaz de se comunicar “normalmente”.
Há dois cenários principais. Um é quando a criança vive em casa, mas tão negligenciada e mal-tratada que acaba preferindo a companhia dos animais. Em outros casos, porém, as crianças foram perdidas ou abandonadas em locais desolados, inóspitos, selvagens, e acabaram sendo acolhidas por verdadeiras feras.
Confira alguns casos reais de crianças selvagens:
Um dos primeiros registros escritos de uma “criança selvagem” é de 1644, e descreve o caso de John de Liège, que supostamente teria sobrevivido por anos nas florestas da Bélgica. Segundo o relato, aos 5 anos, John teria se escondido na floresta com a família, fugindo de soldados inimigos durante uma guerra religiosa. Mas quando sua família retornou à vila, ele estava muito aterrorizado para sair do esconderijo, e acabou ficando para trás, passando os próximos 16 anos sobrevivendo de raízes e frutas. John finalmente retornou à sociedade aos 21 anos, quando foi pego tentando roubar comida de uma fazenda. Ele foi descrito nu, com barba e cabelos longos, e praticamente sem qualquer lembrança da linguagem. Tinha um senso de olfato apurado, capaz de detectar comida a longas distâncias. John eventualmente voltou a falar, e seus sentidos apurados foram se perdendo.Comumente conhecido como “O Menino Lobo” – e possivelmente a inspiração para o personagem “Mowgli”, no livro de Rudyard Kipling’s – Dina Sanichar foi descoberto em 1867, quando caçadores espiaram o que eles inicialmente pensaram se tratar de um animal dormindo na beira de uma caverna, no distrito de Bulandshahr, na Índia. Quando os homens espantaram a criatura, se surpreenderam ao ver que era um menino, por volta dos 6 anos de idade. Ele corria apoiado nos quatro membros, e teria sobrevivido com uma matilha de lobos. Os caçadores o levaram para um orfanato em Agra, onde ele recebeu o nome de Dina Sanichar. Missionários passaram vários anos tentando reabilitar o “menino lobo”, mas os anos na selva tiveram seu preço. Sanichar nunca aprendeu a falar, e preferia roer ossos e comer carne crua a alimentos cozidos. Ele faleceu em 1895, por volta dos 34 anos de idade.
Marina Chapman tem uma história difícil de acreditar. Por volta dos 5 anos de idade, em 1954, foi sequestrada e abandonada em uma floresta, na Colômbia. Lá, ela encontrou um grupo de pequenos macacos, com quem conseguiu a sobreviver. Ela catava bananas que eles derrubavam, dormia em buracos e andava de quatro como eles. Após certo tempo passou a ter sua confiança e catava piolhos com o grupo. Apesar de se sentir bem com os macacos, Marina sentia falta de contato humano. Um dia decidiu se aproximar de caçadores, que a levaram e venderam para um bordel. Depois de escapar, ela foi escrava da máfia da cidade, de onde foi salva por uma vizinha. Marina conseguiu ir para a Inglaterra como babá de sua família adotiva. Hoje, casada e com filhos, ela se comunica normalmente, apesar de ter tido certas dificuldades para se adaptar e deixar de lado os hábitos selvagens. Quando tentou publicar sua história em um livro, muitos editores a recusaram, alegando que a história era inventada. Por meio de raio-x, verificaram que ela poderia ter passado por subnutrição, o que apoiaria sua história.
Não apenas escritores são inspirados por histórias como essas. A fotógrafa Julia Fullerton-Batten realizou um projeto artístico para trazê-las à vida em imagens. Esta retrata Oxana Malaya, encontrada vivendo com cachorros num canil, em 1991. Aos oito anos de idade, ela teria passado os últimos seis vivendo com os cães. Seus pais eram alcóolatras e certa noite a deixaram do lado de fora. Sentindo frio, a menina engatinhou para o canil da fazenda e se aconchegou com os animais – um ato que provavelmente salvou sua vida. Ela corria de quatro, exalava com a língua para fora, mostrava os dentes e latia. Por conta da falta de contato humano, só sabia as palavras “sim” e “não”. Atualmente Oxana vive em uma clínica em Odessa, trabalhando com os animais de fazenda que o hospital recebe.Sujit Kumar não foi perdido, mas trancafiado com os animais. Ele passou 22 anos amarrado em um galinheiro, o que o levou a se comportar como as aves. Kumar passou muito mais tempo com as aves do que com os humanos, que vinham apenas para dar alimento e limpar (com uma mangueira de água). Quando era pequeno, sua mãe se suicidou, e seu pai foi assassinado. O garoto já tinha algum nível de distúrbio mental, e seus avós o deixaram com as galinhas por não conseguirem lidar com dele. Em 2003, Elizabeth Clayton, uma executiva australiana, estava em Fiji e encontrou Kumar, então já adulto, simpatizou-se com seu caso e resolveu acolhê-lo. Aos 30 anos, ele ainda se comunicava por cacarejos, e atacava com bicadas.
Estes são só alguns dos casos de que se tem registro.
No dia 14 de Abril, 2016, estréia nos cinemas brasileiros mais uma adaptação das aventuras do menino lobo.
Dirigido por Jon Favreau (Homem de Ferro), baseado nas eternas histórias de Rudyard Kipling e inspirado no clássico longa de animação da Disney, Mogli – O Menino Lobo (The Jungle Book) chega com uma aventura épica inédita sobre Mogli (novato Neel Sethi), um menino criado por uma família de lobos. Mas Mogli sente que não é mais bem-vindo na floresta quando o temido tigre Shere Khan (voz de Idris Elba), que carrega cicatrizes causadas por caçadores, promete eliminar o que ele considera uma ameaça. Forçado a abandonar o único lar que conhece, Mogli embarca em uma cativante jornada de autoconhecimento, guiado pela pantera e mentora Bagheera (voz de Ben Kingsley) e pelo alegre urso Baloo (voz de Bill Murray). Pelo caminho, Mogli encontra criaturas da selva que não são exatamente bondosas, incluindo Kaa (voz de Scarlett Johannsson), uma cobra cuja voz sedutora e olhar penetrante hipnotizam o menino-lobo, e Rei Loiue (voz de Christopher Walken), o nobre de fala mansa que tenta convencer Mogli a contar o segredo da ilusória flor vermelha mortal: o fogo. O elenco estelar na versão original em inglês também inclui Lupita Nyong’o como a voz da mãe lobo ferozmente protetora Raksha, e Giancarlo Esposito como a voz do macho alfa da alcateia, Akela. Mogli – O Menino Logo (The Jungle Book) mescla com perfeição ação de atores com animais e ambientes fotorrealistas em CGI, usando tecnologias avançadas e técnicas narrativas para envolver a plateia em um mundo exuberante e encantador. Para mais informações curta no Facebook, siga no Twitter.