Início de semestre letivo está aí e sempre me faz voltar alguns (muitos) anos atrás durante minha graduação em Sistemas de Informação. A cada primeira aula numa nova disciplina, eu ficava aguardando o professor apresentar o conteúdo que discutiríamos ao longo do semestre, a dinâmica da disciplina e como seríamos avaliados (uma maldita prova ou um interminável trabalho) #souDoTempoQueNerdEraChamadoDeCDF

Dependendo do professor, da área de concentração da disciplina (matemática, computação, direito, administração etc.) e do local onde teríamos aula (laboratório ou sala de aula), já dava para ter uma ideia do que estava por vir: aquela aula tradicional “cuspe e giz” (e, em alguns casos, com retroprojetor e transparência rs) ou algo um pouco mais dinâmico (mas, muitas vezes, ainda com professor falando e aluno ouvindo).

Cenas de uma disciplina em graduação desconhecida

Só que agora estou do outro lado, e cada início de semestre é o momento de me desdobrar para planejar uma dinâmica que seja (ou pelo menos eu acho que será rs) atrativa para meus alunos. Sem contar que, diferentemente da minha graduação, agora os professores precisam “competir” com os smartphones e outros eletrônicos em sala. E, nos cursos de Computação, os alunos ainda argumentam que smartphones, tablets e notebooks são instrumentos de trabalho! Discussões sobre a adoção ou não desses equipamentos nas aulas ficará para outro texto 😉

Quem ganha essa batalha?

Bem, considerando que nunca fui adepta de provas e que estou numa área que visa oferecer soluções computacionais para as pessoas realizarem seus trabalhos e atividades, tento organizar minhas disciplinas de forma que os alunos sugiram problemas ou cenários do seu cotidiano para aplicarem o conteúdo coberto na disciplina. E eis minha surpresa quando descobri que minha estratégia de ensino é um “protótipo” para o que chamam de Project-Based Learning (PBL) ou Aprendizagem baseada em projetos. Protótipo porque depois que comecei a ler sobre o assunto, tenho consciência de que ainda não estou aplicando plenamente PBL nas minhas turmas, mas é um caminho que quero perseguir.

Yes!

Diferentemente do que entendemos como a sala de aula “tradicional”, em que seguimos um processo “professor ensina o conteúdo -> aluno aplica o conteúdo aprendido -> professor aplica uma avaliação somativa”, na PBL os alunos trabalham por um longo período para investigar e responder a uma questão, um problema ou um desafio envolvente, complexo, que não tenha resposta fácil e que estimule a imaginação, desenvolvendo assim um projeto ou um produto. Essa metodologia de aprendizagem integra diferentes conhecimentos e estimula o desenvolvimento de uma série de competências, como trabalho em equipe, protagonismo e pensamento crítico, fazendo com que o aluno tenha um papel mais ativo para o seu aprendizado. Pode-se dizer que a PBL foi uma consequência das propostas de John Dewey, que promoveu a ideia de “learning by doing” (“aprender fazendo”), estimulando o direcionamento das teorias da aprendizagem para modelos mais ativos, relevantes e práticos.

Palavras-chave da PBL

E alguns elementos essenciais podem ser identificados no processo de PBL. Usando habilidades do século XXI (colaboração, comunicação, tecnologias, pensamento crítico etc.) e abordando conteúdo de relevância acadêmica significativa, os alunos são introduzidos ao tópico através de narrativas, vídeos etc. Uma questão orientadora é formulada, mas não é estabelecido qualquer caminho pré-concebido para sua conclusão. Esta questão guiará os alunos ao conteúdo que precisarem saber, estimulando assim o aprendizado autônomo e centrado no aluno, que passa a ter escolha e autoridade para decidir sobre como conduzir sua investigação. O professor assume o papel de um facilitador, apoiando a aprendizagem e geração do produto conforme os conceitos definidos, sendo a sua atuação definida de acordo com o perfil dos alunos, escopo do projeto e resultados de aprendizagem esperados. Os alunos também devem recebem feedback sobre o trabalho desenvolvido, tanto do professor quanto dos demais colegas de classe, o que permite os alunos repensarem seu entendimento sobre os resultados alcançados e revisarem o produto de acordo com os comentários recebidos. A apresentação do produto também permite que os alunos mostrem suas descobertas para solução de problemas do mundo real e celebrem sua jornada de aprendizado.

Dessa forma, a PBL permite migrar de disciplinas em que alunos fazem projetos, com professores detentores do conhecimento e responsáveis por direcionar os alunos, e alunos que aprendem somente os conteúdos oferecidos e são avaliados no final do semestre; para disciplinas em que alunos aprendem com projetos, com professores apresentando uma questão do mundo real que orienta o aprendizado e alunos que buscam conhecimento para responder essa questão, revisam os caminhos para chegar à resposta e adquirem habilidades para responder outras questões. Isso oferece uma série de vantagens, como: deixar a escola mais atraente para os alunos, melhorar a aprendizagem, construir habilidades para a vida, ajudar a alcançar metas do currículo, oferecer oportunidade para os alunos usarem tecnologias, tornar o ensino mais agradável e conectar os alunos à comunidade e ao mundo. Se você ficou curioso e quer saber mais sobre como aplicar PBL na sua turma, esse infográfico bem legal explica o passo a passo de como fazer isso 😊

Migrando de alunos que fazem projetos para alunos que aprendem com projetos

Mas voltando para os cursos de Computação, o apelo da PBL é bem claro. Muitas disciplinas, como programação ou engenharia de software, são destinadas a ensinar os alunos a solucionarem problemas e entenderem como podem ser aprendizes independentes. Assim, é importante buscar e valorizar metodologias que resultem em alunos capazes de aprenderem sobre novas tecnologias e integrá-las em seu arsenal de ferramentas para solução de problemas. Porém, apesar de todo esse potencial, é importante ter em mente os desafios que podem ser enfrentados, com autores conduzindo estudos para analisar diferentes aplicações de PBL na Computação e entender os fatores que podem limitar seu sucesso.

Para finalizar, minha experiência em trabalhar o conteúdo das disciplinas através de problemas e cenários sugeridos pelos alunos está sendo bem positiva. Apesar de muitas vezes precisar lidar com alunos que ficam envergonhados por serem “o centro das atenções” ao apresentarem os avanços obtidos com seus projetos, percebo que eles aproveitam essa “tarefa” (e consequente forma de avaliação da disciplina) que tem um início-meio-fim e compreendem o conteúdo da disciplina de forma mais integrada e não com aplicação apenas pontual.

Agora me conte: o que você acha dessa dinâmica? Já teve alguma experiência com PBL? Acha que conseguiria aplicar na sua área?