A maioria das pessoas tem uma preferência clara por uma das mãos, e na maioria dos casos a direita: apenas cerca de 8% das pessoas no mundo são canhotas. E essa taxa se mantem em diferentes populações, línguas e culturas, até mesmo em comunidades isoladas, que não utilizam linguagem escrita, ou até as que escrevem da direita para a esquerda.

Fica evidente que deve existir algum fator genético para isso. Mas, por que desenvolvemos uma preferência maior por um dos lados, e, afinal, por que os destros predominam?

Evidências da era paleolítica (30.000 - 10.000 A.C), em pinturas rupestres na Europa sugerem que a proporção de canhotos na sociedade era similar aos dias de hoje.

Evidências da era paleolítica (30.000 – 10.000 A.C), em pinturas rupestres na Europa sugerem que a proporção de canhotos na sociedade era similar aos dias de hoje.

Alguns indícios sugerem que a linguagem e preferência por uma das mãos evoluíram lado a lado. A fala é mais ativada no lado esquerdo do cérebro em 95% dos destros mas em apenas 75% dos canhotos. Claramente há uma relação, mas não é tudo, já que apenas 25% dos canhotos parecem usar mais o lado direito do cérebro para a fala.

Outra hipótese é que os canhotos tenham sofrido uma desvantagem na convivência em grupo. Quando nossos ancestrais passaram a viver em conjunto, seria mais fácil a cooperação entre membros que tivessem a mesma preferência lateral. Com o tempo, acabaríamos sendo selecionados para um lado ou outro, e por acaso acabou sendo o direito.

Por serem minoria, muitos projetos de produtos não levam os canhotos em consideração.

Por serem minoria, muitos projetos de produtos não levam os canhotos em consideração.

No entanto, outros primatas que vivem em conjunto não demonstram a mesma preferência parcial que os humanos. Alguns estudos observaram que, enquanto apoiados nos quatro membros, não há uma preferência lateral, mas quando ficam de pé, com as mãos livres para realizar outras tarefas, eles também passam a demonstrar preferência por uma das mãos, porém não há uma observação maior de destros ou canhotos.

Mas se os humanos destros foram selecionados, por que os canhotos continuam aí? Em algumas situações, ser canhoto pode ter sido vantajoso, como o elemento surpresa em um embate físico. Além do que, podem haver outras características que andem junto com a lateralidade e sejam selecionadas, apenas trazendo a lateralidade como “efeito colateral”.

Inicialmente pensava-se que devia existir um único gene que controlasse essa preferência lateral. No entanto já foram descobertos mais de 40 genes que contribuiem com esse traço. E estudos de hereditariedade demonstram que, apesar de existirem esses genes, a genética não é o principal influenciador da preferência lateral. Mesmo filhos com pai e mãe canhotos tem apenas 26% de chance de serem canhotos. Ou seja, mesmo que ambos os pais sejam canhotos, a maior parte dos filhos ainda é destro. E a criação também pode ter uma influência comportamental nos filhos, assim, pode ser que algumas crianças não tenham uma lateralidade geneticamente definida e acabem sendo canhotas, ou destras, por influência dos pais, amigos, educadores, etc.

Pesquisas observaram que quem tem um irmão tem mais chance de ser canhoto. Isso pode ser explicado pelo fato de que, quando em um grupo, tendemos a preencher o papel que está “vago”. No caso de irmãos, se um é certinho, o outro vira o encrenqueiro, e vice versa. O mesmo pode ser verdade para a lateralidade.

Irmãos tendem a preencher o papel que está vago, e acabam tendo personalidades bem diferentes. O que poderia se aplicar à preferência lateral.

Irmãos tendem a preencher o papel que está vago, e acabam tendo personalidades bem diferentes. O que poderia se aplicar à preferência lateral.

Além disso, o desenvolvimento do cérebro ainda dentro do útero parece ter uma contribuição significativa. Estatísticas indicam que mães mais velhas, assim como fumantes, ou que passaram  muito stress durante a gravidez, têm uma chance maior de que o filho seja canhoto.

Resumindo, a grande maioria dos humanos em qualquer comunidade que conhecemos é destro, e ainda não sabemos exatamente como, ou por que, evoluímos assim, embora estudos sugiram relações com o desenvolvimento da linguagem e cooperação em grupo. E individualmente, ser destro ou canhoto é determinado por um conjunto de fatores envolvendo vários genes, desenvolvimento embrionário e convívio social. Quanto se deve a cada parte ainda é uma questão que exigirá muitos estudos para ser respondida.

Fontes: KQED