Numa noite fria, na madrugada do dia 26 para 27 de setembro de 1942, um pequeno grupo de soldados russos, liderados pelo seu fiel sargento Yakov Pavlov, adentram a sombria e destruída cidade de Stalingrado. Eles buscam abrigo para passar a noite e, talvez, matar alguns alemães no caminho. O grupo de Pavlov chega à um acolhedor prédio de apartamentos, de quatro andares, quase intacto (o que era raro naqueles dias). O sargento vê a oportunidade de não só abrigar seu pelotão, mas também de segurar a frente de batalha contra as “hordas fascistas”. Assim começa a lenda da Casa de Pavlov.
Dramatizações de lado, realmente os eventos que envolvem a Casa de Pavlov estão encobertos de lendas urbanas, mas também não é para menos, por conta dos grandes feitos de guerra que o pequeno grupo do sargento Yakov conseguiu fazer, naqueles fatídicos meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro de 1942, quando toda a cidade de Stalingrado estava sob ataque. Realmente, a Casa Pavlov é um dos grandes símbolos da sangrenta Batalha de Stalingrado.
Apesar de ter “Casa” no nome, a Casa Pavlov era realmente um prédio de apartamentos no estilo da Europa Oriental da época, com quatro andares, que foi fortificado pelo pelotão do Sargento Pavlov, resistindo 60 dias seguidos de ataques dos alemães. O cerco ao apartamento durou de 27 de Setembro até 25 de Novembro de 1942, e eventualmente forças russas conseguiram quebrar o cerco e ajudar a tropa de Pavlov.
A construção retangular fica no centro de Stalingrado, construída perpendicularmente ao bancos do Rio Volga e de frente à praça “9 de Janeiro”, nomeada assim por conta do “Domingo Sangrento” (9 de janeiro de 1905). Em Setembro de 1942, o prédio foi atacado por tropas alemãs, e o pelotão do Sargento Yakov Pavlov, da 13ª Divisão de Fuzileiros da Guarda, recebeu ordens de retomar o prédio e defendê-lo a todo custo.
O prédio era crucial para a defesa daquele setor do Rio Volga, no centro da cidade, além de ter boa visibilidade para chamar ataques de artilharia pesada, que se encontravam do outro lado do rio. Outra característica estratégica da construção era que ela se encontrava em um cruzamento de avenidas da cidade, o que forçava que qualquer avanço pesado dos alemães naquele setor deveria passar por ali, além de dar aos defensores 1 km de visibilidade para norte, sul e oeste.
Depois de vários dias segurando suas posições, e perdendo camaradas, finalmente suprimentos e reforços chegaram à Pavlov, mas os números não eram favoráveis. A força do seu pelotão era de 25 homens, equipados com metralhadoras pesadas, fuzis de alto calibre anti-blindagem, e morteiros para artilharia de curto alcance, sem contar um punhado de civis soviéticos que ainda estavam morando no prédio.
Acima, vemos um dos fuzis PTRD-41 anti-blindados, usado pelos soldados de Pavlov contra blindados alemães. Já nas primeiras semanas de outubro, o sargento descobriu que esses fuzis, colocados no telhado, estavam fazendo um bom estrago nos blindados leves alemães que se aproximavam, geralmente fazendo emboscada em qualquer blindado inimigo descuidado o suficiente para passar perto do perímetro.
Na época, mesmo com tão poucos soldados, Pavlov teve de segurar a posição até segunda ordem, de acordo com a “Ordem de Stalin N° 227: Nenhum passo para trás”. Ou seja, não haveria recuo para os 25 soldados russos defendendo os apartamentos, apenas resistir até a morte.
Aproveitando tudo que podia, Pavlov ordenou que seus homens construíssem um campo minado ao redor do prédio, adicionando arame farpado e armadilhas contra a infantaria alemã; além de colocar todas as metralhadores pesadas que tinha em qualquer janela do prédio voltada para a praça “9 de Janeiro”. Além disso, paredes dentro do prédio foram derrubadas e trincheiras cavadas, levando para as posições defensivas fora da construção, o que facilitou muito o movimento rápido dos soldados russos.
Os suprimentos eram trazidos pelas trincheiras ou por barcos que chegavam, ocasionalmente, do outro lado do Volga, desafiando os ataques aéreos alemães contra qualquer embarcação no rio. Mesmo assim, os soldados sofriam com falta de comida e e principalmente água, sem contar que sofriam com os tiros inimigos, que não paravam nem à noite.
Onda após onda de soldados e blindados alemães tentaram invadir a praça e o prédio, obrigando Pavlov e seus homens à atirar freneticamente, com o que tivessem à mão, de quaisquer posições estivessem (do porão ao sótão).
Eventualmente os defensores e os civis soviéticos que continuavam no prédio (abrigados nos porões) seguraram vários ataques até o dia 25 de Novembro, quando finalmente foram reforçados por um grande contra-ataque russo, que queria tomar o centro da cidade.
A Batalha de Stalingrado estava longe de terminar (ainda aconteceria até fevereiro de 1943), mas graças à resistência de Pavlov e seus homens o espírito e a moral militar voltaram ao Exército Vermelho, que lutou e sangrou bravamento nessa que é a batalha mais sangrenta de toda a Segunda Guerra Mundial.
Fontes:
Matheus “Prof.º Barbado” Silveira é Professor de História formado pela PUCPR, Especialista em História Contemporânea e Relações Internacionais, formado pela PUCPR e Podcaster residente do SciCast.