Em ciência, opiniões vazias não valem nada. Você deve ter evidências de que algo é assim ou assado e estas evidências devem ser fortes. E não, contar que a prima da vizinha de um amigo se curou de câncer tomando umas gotinhas de água com boa memória, não conta como evidência de nada. Ok, talvez isto seja um indício de que em um universo infinito, qualquer coisa pode existir. Não mais do que isso. Esta introdução toda só para dizer que certos mitos populares não se sustentam após uma análise numérica rigorosa, como o mito de que homens dirigem melhor do que mulheres. Na verdade, pensando friamente, nenhuma das diferenças biológicas existentes entre os sexos teria potencial para dar alguma vantagem maior ou menor em um trabalho meramente mecânico como dirigir (ainda mais em lugares do mundo onde os carros são quase todos automáticos e softwares fazem uma porção de coisas sem a menor interferência do motorista). Todavia, quando se avaliam os números de acidentes, é gritante a diferença existente: elas dirigem melhor.
Mulheres se envolvem em menos acidentes e estes, quando acontecem, são menos graves. E isto é algo que se sente inclusive no bolso: as seguradoras cobram menos quando o condutor principal é uma mulher. E quando há dinheiro em jogo, as evidências para se tomar algo como fato ou lenda devem ser muito fortes. Uma das poucas coisas que me lembro do meu Ensino Médio é uma frase que meu professor de História dizia sempre: se querem entender o mundo, saibam economia. Como todo adolescente bobão, eu ri. Mas, hoje, cheio de contas para pagar todo mês, vejo que era verdade. Portanto, se o valor do seguro é menor para mulheres, é porque elas são melhores motoristas. Se assim não o fosse, as seguradoras estariam perdendo dinheiro a rodo (e bem sabemos que isso não é verdade).
Se eu disse antes que as diferenças biológicas não explicam uma possível superioridade atrás de um volante entre homens e mulheres, permitam um adendo: uma delas pode explicar. Chama-se testosterona. A maior concentração deste hormônio em homens os deixa mais agressivos, impulsivos e propensos a tomarem decisões arriscadas. Isso talvez explique a taxa de acidentes maior em homens. E com certeza explica um número maior de crashes no mercado financeiro.
Um estudo da Universidade de Leicester concluiu que se o número de operadores (minha tradução para “trader”) no mercado financeiro fosse mais equilibrado entre homens e mulheres, a probabilidade de quebras como a de 2008 seria menor. Através de simulações simples, os pesquisadores conseguiram estabelecer o link entre “masculinidade” (leia-se testosterona) e maior propensão a tomada de riscos, especialmente o chamado “reckless risk” (risco por imprudência). Não só aqueles “traders” com mais testosterona (homens) eram mais agressivos nos seus negócios como haveria um feedback positivo entre sucesso e fracasso e concentração de testosterona: quanto maior o número de sucessos no investimento, maior a concentração de testosterona e maior a disposição para o risco, levando a um círculo vicioso. O sucesso em uma ação daria àqueles indivíduos sensíveis a testosterona uma sensação de invencibilidade. Só que da mesma forma que acontece com quem pilota um carro selvagemente (too soon?), um dia a casa cai. Não dá para se ter sucesso sempre e quanto maior o retorno potencial, maior o risco. Agora, imagine você milhares de traders operando de forma negligente e imprudente com volumes cada vez maiores de dinheiro como aconteceu no episódio dos sub-primes. Uma hora ia dar ruim (e deu).
Mulheres, por sua vez, produzem infinitamente menos testosterona e possuem cérebros não tão influenciados por este hormônio, de modo que elas são mais cuidadosas ao tomarem decisões e avaliarem riscos. Esta modulação hormonal no comportamento faz com que não só elas se envolvam menos em acidentes graves de trânsito como também tenham mais cuidado ao fecharem um negócio. Assim, se quisermos uma realidade onde haja menos eventos extremos nos mercados financeiros, devemos buscar um melhor equilíbrio entre homens e mulheres no ofício de trader. A única desvantagem que vejo é que talvez se produzam menos filmes sensacionais como “A Grande Aposta”.