Depois de mais um pequeno recesso forçado, estamos de volta. Dessa vez para tratar sobre a alquimia nos games, mais precisamente em The Witcher 3. Obra prima lançada em 2015 e desenvolvida pela CD Projekt Red com versões para PC, Xbox One e PS4. A alquimia é um tema recorrente em games de RPG, muito usada em The Elder Scrolls, Dragon Age e em vários outros JRPGs, sendo até o mote principal da série Atelier, muita famosa no Japão, mas pouco conhecida aqui no ocidente. Porém aqui vamos focar em The Witcher 3, que apresenta um ótimo uso para a alquimia. Por isso, dê aquela lambuzada de óleo na sua espada e vamos caçar alguns monstros usando o poder da química, digo, da alquimia.
Antes de tudo, sei que a alquimia não é uma ciência, pelo menos não atualmente, mas como muito da química atual se originou dela, achei interessante abordamos esse assunto aqui.
Baseado na obra literária do polonês Andrzej Sapkowski, em The Witcher controlamos o bruxo treinado na escola do lobo, Geralt de Rívia em um gigantesco mundo medieval, assumindo contratos e missões, caçando monstros ou ajudando pessoas. Um bruxo nesse universo é alguém que passou por extenso treinamento, tanto físico quanto mental, além de rituais que resultam em mutações genéticas, fazendo com o que o indivíduo ganhe sentidos aguçados, maior resistência física, além de imunidade a venenos e toxinas, tudo isso para se tornarem viajantes matadores de aluguel. Nosso protagonista é um exímio espadachim com conhecimento de magia e como veremos, um mestre na alquimia.
Usando receitas, fórmulas e alguns ingredientes, Geralt pode criar poções com efeitos que variam entre aumento da vitalidade até enxergar no escuro. Óleos também podem ser feitos e usados nas armas, garantido efeitos especiais contra monstros, além de criar bombas. A maioria dos ingredientes para a alquimia no game são vindos de plantas, mas também podem ser originários de partes de animais ou monstros.
Fora dos games, a alquimia como conhecemos, tem sua origem no século III a.C em Alexandria, o centro de convergência da época e da recriação das tradições de outros povos. Porém já haviam relatos de seu uso no Egito antigo e na Pérsia, além dos antigos Xamas das eras tribais. Possuindo um caráter místico vindo das ciências ocultas, os alquimistas usavam fórmulas e recitações mágicas para invocar demônios e deuses favoráveis às operações químicas. Devido a isso, na Idade Média, muitos alquimistas foram acusados pela Inquisição da Igreja Católica e condenados por, supostamente, terem pacto com o demônio. Até hoje o enxofre é associado ao demônio, já que essa era uma substância comumente usada nas fórmulas alquímicas.
Sempre em busca do elixir da vida eterna e da pedra filosofal, a qual tinha o poder de transformar qualquer metal em ouro, acabaram por descobrir diversos elementos e compostos muito usados hoje, tanto pela química quanto pela medicina moderna. Paracelso, por exemplo, no século XVI revolucionou o tratamento de doenças, buscando a cura a partir da administração de substâncias químicas para que o corpo atingisse o equilíbrio dos elementos que o formam.
Na busca pelo elixir da vida eterna, diversos outros foram feitos, além de poções que prometiam efeitos milagrosos. Em The Witcher e outros RPGs, vemos a clara referência a essas poções e elixires. No game é comum o uso de poções que restauram a vitalidade de Geralt, além de elixires que aumentam a resistência a danos, aumentam o tempo de permanência debaixo d’agua, maior agilidade e outros. Mesmo o bruxo tendo alta resistência contra os efeitos tóxicos desses itens, precisamos tomar cuidado, já que o uso excessivo aumenta a barra de toxidade do protagonista, resultando na morte do personagem se ela chegar a 100%.
Em paralelo, na alquimia real, diversas foram as mortes de pessoas que faziam uso de elixires a base de mercúrio, enxofre e arsênico, substâncias altamente letais para o ser humano mas que muitas vezes eram vendidas como tônicos milagrosos.
Qualquer nova substância descoberta pelos alquimistas era vista e usada como algo capaz de curar enfermidades ou fornecer habilidades mágicas. Esse tipo de pensamento pode parecer estar ligado a eras antigas e de pouco conhecimento, mas na verdade é algo inerente ao homem. Basta lembramos da descoberta do elemento rádio e sua radioatividade em 1889 pelo casal Curie, que logo foi usado pela indústria em cosméticos que prometiam rejuvenescimento ou a criação de super-heróis na década de 60, que ganharam seus poderes através da radioatividade. Hoje sabemos que a radioatividade não dá superpoderes nem rejuvenesce ninguém, só dá câncer mesmo.
Para finalizar, vamos voltar ao game, onde bombas também fazem parte do arsenal de Geralt, podendo ser usadas como explosivos causando danos direto ou com efeitos de atordoamento nos inimigos e até cancelando efeitos de criaturas mágicas. Novamente aqui, encontramos a busca de nossa alquimia pelo elixir da longa vida, foi assim que alquimistas chineses descobriram a pólvora no século I a.C, substância que queima com rapidez, usada como propelente em armas de fogo e na realização do fogo de artifício. Composta por carvão vegetal, enxofre e salitre, logo foi empregada em guerras devido ao seu alto poder destrutivo. Nessa época o salitre necessário na obtenção da pólvora era conseguido a partir do “cozimento” de fezes de animais, mostrando que, como nos games, alguns ingredientes da alquímica tinham origem animal.
Então pessoal, chegamos ao fim de mais um texto. Espero que tenham gostado, quis trazer esse tema já para fazer uma ponte com a química, área em que atuo, servindo como prévia para outros que virão mais focados nessa ciência. Além de poder falar de The Witcher, um dos melhores games dessa geração. Sugestões de temas são bem vindas, assim como críticas e reclamações. Deixo como recomendações os Scicasts sobre Marie Curie e Elementos Químicos. Até mais e abraços.
Fontes: Techtudo, Game Detonado, Gamereactor, InfoEscola e SóQ.