Oxygen not included é o jogo mais recente da produtora independente Klei, a mesma do (maravilhoso) Don’t Starve (não morra de fome).
Como pode-se perceber pelos nomes, onde não há oxigênio – ou não há comida, é preciso se virar para sobreviver.
Em “oxigênio não incluso”, o jogador tem a incubência de construir e nutrir uma colônia espacial, começando apenas com 3 trabalhadores e um asteróide com muitos tipos de material para cavar.
O que parece simples inicialmente: apenas conseguir comida e se livrar do xixi (na verdade o primeiro item que o jogo recomenda construir é o banheiro, se não, logo vai ter xixi espalhado por todo lado e seus trabalhadores estarão com os pés molhados e germes em tudo), se torna uma complexa simulação, onde é preciso projetar sistemas elétrico, hidráulico, plantações, compostagem, descarte de lixo, e fabricação dos mais diversos materiais – até plástico (uma vez que você consiga escavar até o óleo).
Ah, e claro, entre outras coisas, é preciso fabricar oxigênio (afinal, não está incluso, né?). E o sistema de gases é uma beleza à parte. O jogo inclui mais de 10 gases diferentes, cada um com sua densidade e capacidade térmica determinadas (!). E assim, é preciso prestar muita atenção no projeto da sua base, para garantir que as coisas fluam na direção desejada.
As condições de temperatura (e pressão) também são outro aspecto importante na construção da colônia. Máquinas usam eletricidade e geram calor. Se não tomar providências para dissipar esse calor (com planejamento do layout e materiais condutores/isolantes), logo sua base estará quente como um bolinho assado. E as primeiras coisas a morrer serão suas plantações, e então seus trabalhadores morrerão de fome. Ou, caso esteja muito quente mesmo, terão ataques cardíacos antes disso.
(Já escutaram o Scicast sobre termodinâmica? ;)
Esse jogo é incrível por ter tantos detalhes, sem prejudicar a curva de aprendizado. A rede elétrica também merece atenção. Inicialmente você constrói de qualquer jeito, e depois de um tempo, quando começa a ter mais máquinas, vê que seus fios estão quebrando, pois não aguentam a voltagem. Aí você descobre que pode construir transformadores, e compartimentalizar seus consumidores de eletricidade em redes de 1000V.
No ambiente também existem algumas espécies de animaizinhos, que podem ser domesticados e criados para consumo e produção, de lã, por exemplo (ou carvão; alguns defecam carvão, que pode ser usado num gerador de energia, que por sua vez gera gás carbônico, que é pesado e se acumula na base, sufocando tudo; mas você pode se livrar do gás carbônico com fazendas de algas, que absorvem CO2 e liberam O2 – que ótimo, não? – mas usam água e algas, recursos escassos; ou você pode se livrar do gás carbônico com uma máquina especial que usa energia e água limpa, produzindo água suja, e então você pode filtrar a água suja para consumo… e aí … estão vendo como esse jogo é lindo? Ou sou só eu? hahaha.)
Mas a parte mais impactante desse jogo, para mim, foi sentir ‘na pele’ como a negligência com a sustentabilidade significa o caminho certo para a perdição (desgraça, ruína e morte). O jogo não te diz nada disso, mas conforme você trabalha, vai vendo que ‘coisas ruins’ estão se acumulando, e recursos estão acabando, e você está preso em um asteroide finito e, se não resolver isso logo, vai ficar enterrado em uma pilha de lixo e doença, e sem água, comida, ou oxigênio. E é muito assustador observar que, se não começar a pensar em sustentabilidade logo de início, e deixar acumular.. chega em um ponto ‘sem retorno’, então é melhor desistir dessa base e recomeçar.
Pessoalmente, eu gosto de recomeçar a cada vez que fica claro que aprendi uma lição chave no jogo, que me dará melhores condições se eu aplicá-la desde o início.
Outro aspecto à parte no jogo são os trabalhadores. No início o jogador recebe 3 duplicantes, ou “dupes” como são carinhosamente apelidados. Os dupes são pessoinhas que estão lá para trabalhar conforme forem comandados; melhor pensar neles como formiguinhas. A cada 3 dias é possível receber mais um dupe, caso deseje.
E assim como num formigueiro, quando temos muitas tarefas e alguns trabalhadores, já é vantajoso começar a especializar cada trabalhador em uma tarefa específica. O jogo permite gerenciar prioridades e tarefas preferenciais de cada um. Conforme realizam uma tarefa, eles se tornam melhores nela. (O jogador não indica o que cada dupe tem que fazer, como se fosse um “the sims”, mas apenas quais tarefas tem de ser feitas, por exemplo: “construir uma porta aqui”, “limpar esse banheiro”, e os dupes seguem suas prioridades definidas para realizar as tarefas. O trabalho deles é praticamente automatizado, e pode ser otimizado, deixando o jogador se preocupar apenas com melhorias e ‘crises’ na base). Aliás você pode até pesquisar tecnologia de automação, e construir portas lógicas para que as máquinas liguem e desliguem seguindo certas condições, sem precisar de um trabalhador para ativá-las.
Os dupes tem um conjunto de habilidades básicas: cavar, construir, cozinhar, operar, atletismo, força, aprendizado.. que afetam a rapidez com que realizam tarefas. Por exemplo, “aprendizado +3”: além de pesquisar novas tecnologias mais rápido (sim, toda base precisa de um pesquisador :D), também consegue melhorar mais rápido qualquer habilidade.
Outros atributos interessantes, que podem ser bons ou ruins são: “bexiga pequena” – precisa de 50% mais tempo de banheiro; “pulmão de mergulhador” – consome menos oxigênio, “flatulento” – solta 500g de oxigênio poluído por dia, entre outros.
Além disso cada dupe também tem uma reação de estresse. Quando seu estresse chega a 100%, ele pode começar a “chorar feio”, “comer compulsivamente”, ou “destruir” tudo o que você construiu. O estresse é afetado por condições ambientais (falta de oxigênio, calor, frio, pés molhados, etc) e também pelo nível de moral. Algumas coisas afetam a moral, por ex: decoração (fios aparecendo e máquinas no meio da sala? que lugar horrível para se viver), uma boa cama, salas especiais (uma sala com apenas mesas e decoração recebe o status de “refeitório”, e os dupes que comem lá ficam com a moral melhor), comida de qualidade (afinal ninguém fica feliz comendo “barras de mingau” – cujos ingredientes são água e poeira ._.).
É interessante também que quanto mais alto o ‘cargo’ do trabalhador, mais moral ele precisa para não ficar estressado. Por exemplo, um dupe que é engenheiro especialista precisa de 21 pontos de moral, enquanto um operador precisa só de 8. Você sempre pode designar outro cargo – ou nenhum cargo – para seus dupes. Porém, os cargos altos, além de realizarem a tarefa mais rápido, são necessários para algumas tarefas. Por exemplo, certos tipos de materiais só podem ser cavados por um minerador especialista.
Ou seja, além de todo o detalhamento físico e químico dos materiais e processos, o jogo também simula o fator humano :).
Deu para ver que esse jogo é um simulador bastante detalhado, com muitas camadas, e ainda assim muito fofo e divertido, né?
Oxygen not included ainda está em versão beta e recebe constantes atualizações. Apesar disso, não encontrei nenhum bug impeditivo e já tem funcionalidades suficientes para ser um jogo completo.
O jogo ainda não tem versão em português, mas é uma ótima oportunidade para expandir seu vocabulário em inglês, além de praticar o gerenciamento de recursos e resolução de problemas :D