Durante os anos 90, era comum empresas de games terem mascotes de representassem a marca, senso nos seus games ou em propagandas. Mario e Sonic são o exemplo máximo disso, representando a guerra entre consoles travada pela Nintendo e pela Sega na mesma época. Mas outras empresas também queriam ter seus mascotes e com isso surgiram outros nem tão famosos ou adorados, como Aero the Acro-Bat ou Bubsy. Já Crash Bandicoot foi um grande querido dos fãs da Sony, apesar de não ser oficialmente o mascote da marca.
No início dos anos 2000, os mascotes foram perdendo o apelo ao público e personagens mais “adultos” como Kratos e Master Chief começaram a ganhar mais espaço. Mesmo assim, tivemos alguns representantes, e o nosso personagem tema desse texto foi um deles, Sly Copper. Então prepare-se, pois ao cair da noite sairemos para roubar alguns artefatos e mexer em latas de lixo, já que hoje falaremos sobre Sly Copper e guaxinins. Por que ficaram conhecidos como ladrões? O quão inteligente eles são? Em que fatos os produtores se basearam para criar o personagem? Tudo isso e muito mais, na sequência. “Sigam-me os bons!”
Sly Cooper é uma serie composta por 4 games (além de uma coleção remaster), em que os 3 primeiros foram desenvolvidos pela Sucker Punch (hoje famosa por Infamous e Ghost of Tsushima) e o quarto pela Sanzaru Games. Todos exclusivos das plataformas da Sony. A história se passa em uma versão do mundo real povoada por animais antropomórficos, onde acompanhamos as aventuras de Sly Cooper, um guaxinim ladrão que tem como amigos a tartaruga Bentley e o hipopótamo Murray. Juntos eles realizam grandes roubos, porém roubando apenas de outros ladrões ou malfeitores.
Os jogos são principalmente de plataforma em terceira pessoa, com elementos de furtividade. Controlando Sly ou um de seus companheiros, o objetivo é realizar grandes assaltos que são divididos em submissões as quais culminam no final em uma batalha contra um chefe.
Toda a estrutura e história do game são baseados em Sly ser um ladrão e ele é um ladrão porque ele é um guaxinim, na verdade toda sua família é formada por ladrões e, portanto, guaxinins. Mas de onde vem essa associação? Primeiro, vamos conhecer um pouco mais sobre guaxinins de verdade.
Esses animais possuem hábitos noturnos, são onívoros e comem quase de tudo. São ótimos escaladores (fato que influenciou diretamente algumas mecânicas nos games) e possuem um olfato apurado. Existem 20 subespécies (2 já foram extintas) de guaxinins, todos pertencentes à família dos Procionídeos. O mais conhecido é o Procyon lotor que habita a América do Norte. No Brasil temos o Procyon cancrivorus, conhecido como Mão Pelada, e o Quati que também fazem parte dessa família e são considerados “primos” do guaxinim.
Vale lembrar que o Tanuki, animal típico da Ásia, apesar de parecido não faz parte da família do guaxinim, sendo mais um canídeo. Inclusive, a tradução para Tanuki seria algo como cão-guaxinim.
Agora, se eu pedir para você pensar na imagem de um ladrão, como seria essa figura? Provavelmente algo bem próximo disso:
Aqui uma rápida curiosidade. A imagem típica de um ladrão, se formou com base nas roupas utilizadas pelos presidiários durante o início do sistema penitenciário nos Estados Unidos durante o final do século 18. As listras pretas e brancas atrapalhariam as fugas, tornando difícil para o prisioneiro se misturar em meio às multidões ou se camuflar tanto em paisagens claras como escuras. Depois, ao logo do tempo, com os movimentos de humanização das prisões, o uniforme foi deixando de ser usado, apesar de ainda existir em alguns países. Voltando ao tema…
Se compararmos a imagem de um guaxinim com a imagem de um ladrão fica fácil perceber o porquê da associação dos dois:
Para entender melhor essa associação, vamos falar primeiro sobre a aparência desses animais. As listras em sua cauda, as patas dianteiras todas pretas e sem pelos (quase como uma luva) e a “mascara” preta nos seus olhos, rapidamente nos remetem à imagem clássica de um ladrão (como na figura anterior). Mas guaxinins não tem esse visual porque querem se parecer com ladrões, existe uma justificativa para cada ponto desses. Vamos lá.
As listras em suas caudas servem para camuflar o animal na natureza (apesar de isso não funcionar tão bem nos centros urbanos, para onde muito migraram), já suas “mãos” não possuem pelos porque os mesmos poderiam atrapalhar seu tato. Os guaxinins possuem algumas das mãos mais hábeis da natureza (mesmo não tendo polegares opositores). Inclusive, suas mãos possuem 4 vezes mais sensores receptivos do que suas patas traseiras, algo próximo da proporção de mãos e pés humanos. Devido a isso, muitos desses animais tem o costume de molhar as patas, fazendo com que suas terminações nervosas fiquem mais sensíveis. O que as vezes dá a impressão de que eles estão lavando a comida, quando na verdade estão melhorando o tato.
Por último temos a questão da máscara. As manchas pretas entorno de seus olhos, durante a noite, servem para membros de uma mesma “família” se reconhecerem, algo como um reconhecimento facial. Mas elas também os ajudam a enxergar com mais clareza. A luz absorvida por essas machas, reduz o brilho, que de outra forma refletiria em seus olhos e obstruiria sua visão. É a mesma razão pela qual os egípcios pintavam de preto em volta dos olhos e os jogadores de futebol pintas listras pretas debaixo dos olhos.
Porém não é só por causa da aparência dos guaxinins que os associamos a ladrões. Seus hábitos também contribuíram para isso.
Como já dissemos, guaxinins possuem hábitos noturnos e comem de tudo, isso aliado à sua inteligência e curiosidade, os transformou em perfeitos invasores de casas. Principalmente em países da América do Norte (onde sua população cresceu vertiginosamente), não é raro policias atenderem chamados de invasões a residências e quando chegam ao local é algum guaxinim se esgueirando por um sótão ou tentando abrir uma tranca. Por falar em tranca, esses animais são extremamente hábeis em abrir recipientes e até mesmo resolver pequenos puzzles, claro, desde que isso envolva comida. Aqui mais um ponto bem explorado nos games, várias missões envolvem Sly abrir algum cofre, para isso precisamos girar os analógicos do controle até sentir uma pequena vibração, indicando que o cofre foi aberto.
Quanto à inteligência dos guaxinins, o interessante é que estudos comprovaram que os animais que habitam os centros urbanos são mais inteligentes do que seus parentes que vivem em florestas ou áreas afastadas. Isso acontece porque os guaxinins urbanos são forçados a superar obstáculos feitos regularmente pelo homem, coisa que na natureza não acontece com frequência.
Por fim, mais uma coisa para ajudar com a fama de ladrões de nossos amiguinhos listrados: Guaxinins roubam comida de outros animais.
Mas sejamos honestos, na verdade, qualquer animal pode roubar comida, inclusive macacos e gaivotas são mestres nessa arte. O que pesou para os guaxinins foi que, por começarem a viver em centros urbanos, a frequência com que vimos isso acontecer (um guaxinim roubar comida) aumentou muito, isso somados à sua aparência e hábitos noturno, ajudou a consolidar a imagem do animal ser um ladrão por natureza.
E chegamos ao fim de mais um texto. Guaxinins são animais simpáticos que aos poucos foram conquistando a cultura pop/nerd, Rocket Raccoon dos Guardiões da Galáxia e Rigby de Apenas um Show, são só alguns exemplos. Sly e sua turma só chegaram para comprovar esse sucesso. Quanto aos games, se você curte um plataforma 3D recomendo que jogue qualquer um da série e se não gosta, deviria dar uma chance, Sly tem um carisma que pode te conquistar.
Antes de dar tchau, não poderia deixar de lembra-los que aqui no Deviante também temos nosso guaxinim, nosso grande parceiro Marcelo Guaxinim, que nos diverte com suas participações no Scicast e no seu RPGuaxa (se ainda não ouviram, recomendo). Guaxa, um abraço. Até mais, pessoal.
Fontes: Wikipédia, Parque Estadual Serra do Mar, G1, Portal dos Animais, The Dog Cat Place, Mental Floss e Super Interessante