Numa época em que o gênero survivor horror parecia ter sido esquecido, já que representantes do gênero como Resident Evil e Sillent Hill focavam mais na ação ou perdiam a qualidade, a Visceral Games nos presenteou com Dead Space. Distribuído em 2008 pela Eletronic Arts para PC, Xbox 360 e PS3, o game surpreendeu com uma atmosfera opressora, fazendo com que o jogador ficasse sempre em estado de alerta a espera de algum susto. Dead Space também se destacou por usar um tema religioso, a cientologia, e mais ainda por ter se baseado em várias obras de ficção científica.
Graças às inspirações cientificas, uma das coisas que mais chamou a atenção foi a utilização de projeções holográficas, sendo usadas desde o inventário de itens, passando pelos diálogos entre personagens até a indicação de munição nas armas. Com isso a interface do game ficou muito mais limpa, sem aquele monte de indicadores que podem estragar a sua imersão no game (uma das razões pelas quais eu não curto muito MMORPG, e sua interface inundada de itens). Mas será que com a tecnologia que temos hoje, já é possível reproduzir hologramas como esse? Portanto, prenda a respiração e vamos juntos caminhar pelo vácuo até o próximo posto de oxigênio. Hoje nosso tema será: Dead Space e seus hologramas.
Em Dead Space, controlamos Isaac Clarke (referencia aos escritores de ficção cientifica Isaac Asimov e Arthur C. Clarke), um engenheiro que faz parte da tripulação USG Kellion, nave que recebe um chamado de emergência da USG Ishimura, uma super nave especializada na exploração de recursos de outros planetas. Se passando em 2507, a história nos apresenta uma humanidade que aposta em viagens espaciais para garantir a sobrevivência, já que o planeta Terra foi devastado pela exploração humana, o que fez com que o planeta se tornasse cada vez mais inabitável.
A atmosfera tensa do game tem forte inspiração em filmes de terror como Alien e O Enigma de Outro Mundo. A própria nave USG Ishimura é uma referência a nave Horizon do filme O Enigma do Horizonte, já que a mesma acaba ganhando “status” de protagonista na trama. É na USG Ishimura que o protagonista Isaac encara pela primeira vez os inimigos Nercromorphs, corpos humanos reanimados por organismos alienígenas.
Para reforçar a função de engenheiro de Isaac, em Dead Space a maioria das armas é improvisada de ferramentas de mineração, como uma serra rotativa, um cortador de plasma e um canhão de força que emite ondas de choque. As peculiaridades de cada arma foram pensadas com foco no combate, que prioriza desmembramentos ao invés de headshots, dada a natureza dos inimigos. Tudo isso realizado com excelentes gráficos e uma interface diferente do HUD tradicional.
Quase todas as informações passadas ao jogador são através de projeções holográficas. Através de um pequeno dispositivo acoplado na armadura do personagem, hologramas são projetados na frente de Isaac, com isso o jogador pode gerenciar itens no inventário e checar objetivos em um mapa 3D. Hologramas também são usados na ponte de comando das naves onde diversos deles fazem a vez de monitores, nas “lojas” e menus, além da comunicação por rádio entre os personagens. No game, não é explicado o funcionamento dessas projeções holográficas, porém essa tecnologia já existe, ainda que de forma precária. Com isso vamos responder como funciona um holograma e porque ele está sendo usado para dar vida a artistas mortos e outros que nem existiram.
Tudo bem, a segunda pergunta é muito difícil de responder, então vamos entender como funciona um holograma que é mais fácil mesmo.
Hologramas ou holografia foram concebidos teoricamente em 1948 pelo húngaro Dennis Gabor, que mais tarde ganharia o prêmio Nobel de Física em 1971. Porém a holografia só foi executada nos anos 60, com a invenção do laser. Além de ser usada como forma de registro de imagens, ela também é usada na Física em técnicas de análise de matérias e armazenamento de dados.
Apesar de muitas projeções serem chamadas de holográficas, nem toda projeção que resulta em imagens que “aparentemente” estão no ar, são de origem holográfica.
Vindo do grego holos (todo/inteiro) e grafos (sinal/escrita), a holografia é o processo de reconstrução e da integralidade da imagem e não só uma impressão fantasmagórica. Com isso, uma característica única dos hologramas é que cada parte dele possui a informação do todo. Um pequeno pedaço do mesmo holograma possui todas as informações do mesmo holograma completo. A imagem pode ser vista na integra, mas só de um ângulo restrito.
Fazendo uma analogia, é como se cobríssemos uma janela, mas deixando um pequeno buraco na cobertura. Uma pessoa ainda poderia ver a paisagem do outro lado da janela, porém só de um ângulo restrito. Esse conceito de que cada parte possui informações do todo, também é utilizado na Neurologia e na Neuropsicologia, explicando como nosso cérebro armazena informações e memórias.
Hoje, o método de Dennis Gabor é o mais usado para a geração de hologramas. Basicamente esse método se utiliza de um laser que será divido em 2 feixes por meio de um espelho que reflete parcialmente a luz. O primeiro feixe ilumina o objeto que será representado no holograma, e faz sua imagem chegar no filme holográfico, já o outro feixe é direcionado por um segundo espelho e reflete diretamente no espelho. Nesse esquema, as ondas de luz interferem umas nas outras. Onde as ondas se encontram forma-se uma luz mais intensa, onde elas não se “colidem” formasse uma região escura. O resultado é a codificação da luz em uma imagem tridimensional que reproduz o objeto inicialmente “iluminado”.
Esse método é o mesmo utilizado nos famosos shows de artistas já mortos, como Michael Jackson, Cazuza, Tupac ou da diva virtual dos otakus, Hatsune Miku. Aqui normalmente se usa uma tela transparente ou invés do filme holográfico como “suporte” para o holograma.
É importante ressaltar que, até hoje, não existe uma forma de projeções de imagens no ar sem algum tipo de “suporte” como telas transparentes, películas de água, fumaça ou óleo, independente se são projeções holográficas ou não. Isso vai na contramão do que é mostrado em Dead Space, já que aparentemente, as imagens são projetadas diretamente no ar sem nenhum suporte. Um saída para isso seria se, no momento da projeção da imagem, o próprio traje de Isaac dispersasse algum tipo de gás que formaria uma “tela” para a projeção. É uma saída possível, mas temos que lembrar que o traje precisaria ser recarregado regularmente com esse gás.
Essa tecnologia já existe, mas não é uma holografia, é só um tipo de projeção. Um equipamento gera uma cortina de vapor que é usada como superfície para as imagens exibidas por um projetor. Isso causa uma aparência de flutuação nas imagens. Sensores também são usados permitindo uma interação com a projeção, criando um efeito à lá Minory Report.
No mesmo caminho está a holografia tátil, que funciona com o método de Dennis Gabor, mas turbinado com sensores e jatos de ar que criam uma sensação tátil na pele. Com algumas melhorias, nos próximos anos poderíamos ver uma mesa de projetos como a de Tony Stark no filme Homem de Ferro.
A holografia é uma promessa para um futuro próximo, empresas de publicidade como a HoloAD (confira aqui alguns vídeos no canal da empresa) já apostam nessa tecnologia. Inicialmente os planos são projetar imagens tridimensionais em diversos aparelhos como celulares e TVs, expandindo até outdoors. Se você já assistiu a adaptação do anime Ghost in the Shell, já teve uma ideia do que pode estar por vir.
Por falar em celulares, já pensou se o GPS do seu smartphone projetasse uma seta diretamente no ar mostrando em que direção está o seu destino? Pesquisas já estão avançando nesse sentido. No game, Isaac já usa esse recurso muito útil que salvou muitos jogadores perdidos pelos corredores da USG Ishimura.
Aplicações também são previstas em eletrodomésticos. Já pensou em saber o que tem na geladeira sem precisar abrir a porta? Seria algo parecido com o uso do inventário no game.
Chegando agora ao final de mais um texto espero que tenham gostado, já que hologramas são comumente usados na cultura Pop, criando cenas memoráveis como a mensagem da Princesa Leia transmitida por R2-D2 em Star Wars: Uma Nova Esperança e o outdoor de Tubarão 19 em De Volta Para o Futuro 2.
https://www.youtube.com/watch?v=_66J__ikkOA
Quanto a franquia Dead Space, ela recebeu mais duas sequências que acabaram deixando de lado um pouco o terror e focando mais na ação desenfreada, resultando em uma queda nas vendas, o que de certo modo fez com que a EA Games colocasse ela na geladeira por tempo indeterminado.
Até a próxima e como sempre, critica e sugestões são bem vindas. E você já jogou Dead Space? Ainda espera um sequência? Abraços.
Fontes: Ciência Vida, Dead Space Wiki, Umcomo, Mundo Estranho e TecMundo