O PC por muito tempo foi a casa de certos gêneros de games, como os RTS (estratégia em tempo real), os Point-and-Click e os simuladores de gerenciamento como Roller Coaster Tycoon e SimCity, esse último um dos grandes sucessos de Will Wright e sua empresa Maxis que foi lançado em 1989. Porém Will Wright não parou só em seu “simulador de cidades”, logo foi lançado seu “simulador de vida” The Sims, game que foi não foi só mais um sucesso, como deixou sua marca na indústria. Contudo foi só em 2008 que ele (Will) nos entregou aquilo que foi o ápice da sua ambição, Spore. No game acompanhamos toda a evolução de uma única célula até seres inteligentes que podem fazer viagens espaciais. Então, se você quer saber mais sobre as teorias da evolução e como o game explora isso, não fique parado e evolua com mais conhecimento, porque hoje o tema é: Spore o “simulador de evolução da vida”.
Spore possuiu cinco estágios, cada um contando com características e jogabilidades diferentes. Os cincos estágios são: estágio de célula, estágio de criatura, estágio tribal, estagio de civilização e estágio espacial. Como falaremos sobre evolução, vamos focar mais nos três primeiros estágios que é onde podemos perceber a maior ação do processo evolutivo.
Logo quando iniciamos o game vemos um meteoro se chocar com um planeta e então um organismo unicelular sai dos destroços. Aqui já nos é apresentada a teoria da Panspermia, teoria que defende que a vida não surgiu na Terra e sim foi trazida para cá através de meteoros. Seres unicelulares que sobreviveram ao frio do espaço e chegaram aqui, começando assim o processo evolutivo. A Panspermia tem como base a biogênese, que diz que a vida só pode surgir de outros seres vivos preexistentes.
O game baseia seu começo na Panspermia, porém no meio cientifico cogita-se que a vida também pode ter sido formada através da reação de proteínas e gases que faziam parte da atmosfera primitiva da Terra, reações que poderiam ser iniciadas com uma centelha elétrica vinda de raios, isso geraria a “sopa primordial”. Essa sopa primordial teria elementos necessários para a criação de aminoácidos que formariam um DNA, depois disso seria um passo para o aparecimento de uma célula, um organismo unicelular. Essa teoria tem muitos defensores e partes dessas reações já foram replicadas em laboratórios, mas ninguém ainda conseguiu formar um “ser vivo”.
Voltando ao Spore, controlando um ser unicelular e com olhinhos (aqui uma pequena licença poética em função da diversão, já que só um olho já seria formado por milhões de células), devemos decidir se o ser será carnívoro, herbívoro ou onívoro, essa decisão se dá pelo tipo de “boca” que escolhemos colocar no “bichinho”. Aqui o gameplay se resume a comer alimentos e fugir de seres maiores que você para não ser devorado. Assim você vai crescendo dentro dessa microscópica cadeia alimentar até ganhar pontos suficientes para evoluir até o próximo estágio, o de criatura.
Ganhando pernas, sua criatura finalmente pode sair da água e pisar em terra firme, tendo um planeta inteiro para explorar. Com isso o game reforça a teoria de que a vida na Terra começou na água e só depois foi para a terra, porém, diferentemente do game, a vida não evoluiu só na terra firme, ela continuou na água também e hoje possuiu uma diversidade de espécies aquáticas tão grande quanto as terrestres. Vale lembrar que só possuímos acesso a criaturas vertebradas (com coluna vertebral), então insetos, moluscos e outros animais invertebrados não terão espaço no game.
Aqui sua criatura já pode socializar com outros de sua espécie, isso abre espaço para a reprodução sexuada. Nesse ponto o jogador tem acesso ao Criador de Criaturas, um editor onde novas partes como patas, garras, caudas, mãos e outras coisas podem ser trocadas por pontos de DNA e colocadas na sua criatura. As novas adições só aparecem na próxima geração da linhagem da criatura, ou seja, nos filhotes. Interessante que todas essas adições são simétricas, coloque um braço e automaticamente outro será colocado do lado oposto, salvo quando for coloca exatamente no meio da criatura. Interessante porque no mundo real, a vida segue essa tendência de ser simétrica, você não tem dois braços, duas pernas, duas orelhas e dois olhos pelo mero acaso.
Depois de acumulados pontos suficientes, passamos para o próximo estágio, o tribal. Nesse estágio controlamos uma tribo inteira já com habilidades e conhecimento para construir cabanas, armas e outras ferramentas. A partir daqui entram as mecânicas de RTS, em que devemos administrar recursos e combater outras espécies inteligentes, uma analogia de quando o Homo Sapiens disputava recursos e territórios com outras espécies de Homo, como o Homo Neanderthalensis. Outras espécies selvagens podem ser domesticadas para servirem de alimento e plantações podem ser criadas, também outra analogia com a passagem do Homo Sapiens de caçador/coletor para agricultor, em que deixamos de ser povos nômades e nos estabelecemos em “assentamentos” que mais tarde virariam nossas cidades, que por sinal é o próximo estágio visto no game, o de civilização.
No estágio de civilização a espécie da sua criatura já dominou todo o planeta (aqui ele é mostrado inteiro) e o dividiu em nações que guerreiam e fazem acordos políticos entre si, nos moldes de SimCity e Civilization. O próximo passo é construir um foguete e começar a exploração do espaço coletando recursos e terraformando novos planetas e quem sabe até descobrir o que há no centro da galáxia, chegamos assim ao último estágio, o espacial.
Os dois últimos estágios podem não ser acessados pelo jogador se ele fizer “más” escolhas na evolução da sua criatura. Suas escolhas podem fazer com que a sua criatura não seja a mais apta naquele ambiente do game e acabe ficando para trás na competição com outras espécies, podendo assim ser extinta. Notaram alguma coisa familiar? Sim, estamos falando da teoria de Darwin, a teoria da seleção natural.
Hoje essa é a teoria da evolução mais aceita entre os cientistas, de maneira geral ela diz que: “Os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados, deixando um número maior de descendentes. Os organismos mais bem adaptados são, portanto, selecionados para aquele ambiente”
Mas vale ressaltar que na vida real, diferentemente do game, segundo Darwin, essas “evoluções” e adaptações que aparecem na forma de mutações não são guiadas de forma estratégica (o papel do jogador no game), elas simplesmente acontecem sendo benéficas ou não para a espécie, porém as mutações que tornam uma espécie mais apta ao ambiente é que são passadas a frente.
Antes de terminarmos, vale lembrar que na vida real a evolução de espécies não acontece em minutos como no game, é um processo que leva de milhares a milhões de anos para acontecer. E no game praticamente só é mostrado uma linha evolutiva (vertebrados terrestres). Na natureza existem muitas linhas evolutivas, por isso é tão grande a diversidade de espécies que temos em nosso planeta. Mas de modo algum isso pesa contra o game, já que não podemos esquecer que antes de tudo esse é um produto que preza pela diversão.
O game recebeu algumas expansões e até uma sequência que focava no mutiplayer, porém isso não impediu que a Maxis de Will Wright abrisse falência e fechasse suas portas em 2015, o que tornou Spore o último grande sucesso do estúdio. Hoje a comunidade de modders ainda mantêm o game vivo e faz criações incríveis como essas:
Spore conseguiu misturar games com ciência de uma forma bem divertida, principalmente para as crianças que podem aprender na prática como funciona a evolução. Claro que recomendo também para as crianças já crescidas (me coloco nesse barco também) que queiram brincar de ser uma “presença onipotente” decidindo o destino de pequenas criaturas.
Eu fico por aqui e você fique à vontade para deixar nos comentários reclamações, sugestões ou até um pouco da sua história com os games da Maxis. Até a próxima.
Fontes: Wikipédia, Scientific American Brasil, RNAM, Spore Wiki, Super Interessante, Toda Matéria, Só Biologia, Infoescola,