Por um bom tempo, jogos baseados em super heróis não foram o que indústria de games tinha de melhor. Não que não existiam games bons, os dois Spiderman do PS1 comprovam isso, mas, se por um lado tínhamos esses games, por outro tínhamos coisas como o infame Superman para N64 e o Aquaman para Game Cube. Porém o cenário mudou em 2009 quando a Rocksteady, uma empresa nova que tinha apenas um game em seu currrículo (Urban Chaos: Riot Response, um FPS que eu recomendo jogarem), nos presenteou com Batman: Arkham Asylum. Arkham Asylum. O game inovou com seu sistema de combate fluido e tático que nos passava a sensação de estar na pele do Morcegão, além de uma ótima história levemente baseada em um quadrinho de mesmo nome.
Outro ponto bem explorado foi o lado detetive do herói, o que foi ótimo já que muitas vezes muitos roteiristas e diretores se esquecem de que, dentro do universo DC, o Batman é o maior detetive do mundo. Tanto no combate como na resolução de enigmas, podemos usar vários equipamentos que podem receber melhorias durante a jogatina. Em Arkham Asylum, os principais equipamentos são o bat-gancho, o sequenciador criptográfico, um dispositivo que gera um explosivo em gel e a Visão de Detetive. Deixando de lado a parte em que analisamos se seria possível existir um Batman na vida real (tema esse que já foi explorado à exaustão), vamos focar nos equipamentos vistos no game. Então, será que poderíamos construir equipamentos como esses? Será que já existem? Como funcionam? Então se prepare, porque ao som de Chama o Batman do Latino, iremos juntos descobrir a tecnologia por trás de Arkham Asylum.
O enredo do game começa com Batman facilmente prendendo o Coringa e o levando ao Asilo Arkham, porém, chegando lá, o herói descobre que isso fazia parte de um plano do Palhaço, que ele causa uma rebelião dentro do Arkham e solta todos os vilões lá internados. Assim, Batman fica preso no Arkham com os seus maiores inimigos. Para sair vivo dessa situação e descobrir qual é o verdadeiro plano do Coringa, além dos equipamentos já citados, contamos também com a ajuda do comissário Gordon e da Oráculo.
Agora que já fomos contextualizados, vamos falar sobre os equipamentos do Morcego, começando pelo bat-gancho.
O herói usa esse gancho para escalar prédios e se locomover pelo cenário. Basicamente é um tipo de pistola que dispara um gancho com um cabo de aço que depois puxa o herói até o local onde o gancho se prendeu. No nosso mundo ainda não temos um equipamento como esse, mas já temos coisas parecidas. A empresa americana Atlas inventou um dispositivo chamado Atlas Ascender, que pode ser acoplado a cordas e permite que o usuário suba qualquer superfície na vertical em questão de segundos. O dispositivo já está sendo usado pelo exército americano e bombeiros em operações de resgate. Ele suporta até 115 quilos e tem uma velocidade de 3 metros por segundo, porém ainda não dispara cabos como nos quadrinhos.
Para isso temos uma solução criada por estudantes da universidade BYU dos Estados Unidos. Os estudantes desenvolveram um dispositivo em forma de ancora que pode ser atirado como uma arma de fogo, içando uma pessoa até uma altura de 27 metros.
Claro que o tamanho do protótipo, como visto no vídeo acima, é algo que não ajudaria muito nosso herói na hora da ação, porém o conceito é o mesmo, e, junto com o dispositivo que já citamos anteriormente, um gancho como o do game não estaria muito longe da realidade.
Passando para outro dispositivo, temos o sequenciador criptográfico. No game usamos esse aparelho para descobrir senhas de portas e termos acesso a locais restritos. Basicamente o aparelho quebra a criptografia do sistema alvo. Isso é um conceito bem pé no chão. Em menor escala, é o que fazem os apps usados para descobrir senhas de redes Wi-Fi (isso quando eles funcionam). Existem diversos níveis de criptografia e eles podem ser de diversos tipos. Devido ao número gigantesco de possibilidades de criptografia, um aparelho que pudesse se comunicar com todos esses tipos de criptografia dificilmente poderia existir. Já no game, podemos supor que o Batman já conhecia o tipo de sistema utilizado no Asilo Arkham e assim poderia “calibrar” seu aparelho para descobrir as senhas usadas nesse sistema em especifico. Isso sim já estaria em pé de igualdade com a nossa realidade.
Batman também possui um dispositivo que gera explosivo em gel, bastante útil para surpreender inimigo. O herói pode usá-lo para explodir paredes próximas a bandidos, ou quebrar o chão e já cair no meio da galera para começar a porradaria.
Antes de tudo, uma rápida explicação sobre explosivos. Explosivos podem ser de várias composições químicas, mas todos eles possuem substâncias inflamáveis que, quando incendiadas, liberam altas temperaturas com uma grande pressão. Isso acontece porque essas substâncias possuem moléculas extremamente instáveis que se rompem e se chocam umas com as outras, causando uma reação em cadeia.
No game, podemos supor que o dispositivo use algum tipo de explosivo líquido que é transformado em gel assim que sai do aparelho. Existem diversos explosivos líquidos. O mais conhecido é a nitroglicerina, líquido resultante da mistura da glicerina, ácido sulfúrico e ácido nítrico, porém a nitroglicerina é extremamente instável, podendo explodir com o mínimo de calor, frissão ou contato. Mas se você é um vigilante da noite que salta entre prédios e troca socos e chutes com bandidos, carregar alguma coisa que esteja cheia de nitroglicerina, talvez não seja a melhor da idéias. Nesse caso o nitrometano ou até mesmo gasolina concentrada seja a melhor alternativa.
Já, para transformar esse líquido em gel, um agente espessante, como o utilizado na fabricação do álcool em gel, já seria suficiente. Agente espessante é uma substância que aumenta a viscosidade de um líquido sem alterar suas propriedades químicas. Dessa forma, com um pouco de explosivo líquido e agente espessante seria relativamente fácil fazer um aparelho desse tipo.
E chegamos ao último dispositivo: a Visão de Detetive. Extremamente importante para o elemento “stealth” do game, com ela podemos estudar todo o ambiente, verificando quantos inimigos estão no local e quantos destes estão portando armas de fogo, além de outras informações. A Visão de Detetive de certo modo é um Google Glass junto com uma visão de raios-X. Poderíamos fazer esse dispositivo com uma câmera que capturasse a imagem do ambiente, um computador que interpretasse as imagens captadas e uma tela (no caso lentes) em que essas informações pudessem ser projetadas.
Softwares de reconhecimento facial e outros que analisam se uma pessoa está portando arma ou não já são amplamente usados, sendo aprimorados cada vez mais. Inclusive hoje ainda não estamos usando versões melhoradas de óculos de Realidade Aumentada porque as pessoas descobriram que não é muito legal que alguém pode estar te gravando e depois usar sua imagem sem seu consentimento. Esse foi o maior entrave do Google Glass, não a tecnologia envolvida. Já com a visão de raios-X a coisa complica um pouco.
Os raios-X foram descobertos (acidentalmente) por Wilhelm Roentgen 1985, físico alemão que ganhou o Nobel de Física em 1901 por tal descoberta. Durante um estudo sobre luminescência, Roentgen observou que esses raios têm a propriedade de atravessar, com mais ou menos intensidade, certos materiais, ao invés de serem refletidos como a luz branca. Com isso, se fosse colocado um papel fotográfico do outro lado, veríamos uma impressão com a forma desse material. Um exemplo são nossos ossos que bloqueiam mais os raios-X, diferente de nossa pele que permite que eles a atravessem normalmente.
O grande problema de o Batman usar um dispositivo desse é que seria preciso de um receptor para “interpretar” os raios-X que ele emitisse através de sua máscara, que no caso dos exames de radiografia é um papel “fotográfico” e naqueles aparelhos que vimos em aeroportos são sensores. Porém, se não nos apegarmos aos raios-X, temos outra saída para a Visão de Detetive.
O MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) desenvolveu uma tecnologia baseada em ondas de rádios, estas que não são paradas por muros e tijolos, mas sofrem interferência do corpo humano. Com isso, o sistema pode gerar modelos 3Ds (simples) de pessoas que estejam dentro de uma casa por exemplo. O único porém é que a geração dos modelos 3Ds só é feita com pessoas que estejam em movimento, pessoas que estejam paradas não são registradas pelo dispositivo. Mas nada que, com algumas melhorias, não possamos montar uma Visão De Detetive em um futuro próximo.
Mais uma vez chegamos ao fim de mais um texto. Vale lembrar que foquei mais no primeiro game da série Arkham que conta ainda com mais três jogos e mais apetrechos para nosso herói. Então, se acharem interessante, essa pode ser a Parte 1 de mais textos sobre a série Arkham. Série essa que é facilmente recomendável para quem gosta de games de ação/aventura ou é fã do Morcego. E, como falamos sobre raios-X, deixo recomendado o Scicast #303 sobre Radiologia. Fico no aguardo dos comentários, com críticas, sugestões e outro. Até a próxima.
Fontes: Arkham Wiki, Super Interessante, Techmundo, Nerd Geek Feelings, e Uol