Em agosto de 2018, publiquei um artigo sobre uma palestra minha no primeiro encontro de Astrobiologia da UFRRJ. Fiquei um bom tempo “abduzido”, mas estou de volta. Neste artigo vamos conversar sobre os Aliens Malvados e destacar (sempre que possível) visões mais particulares e isentas dos nossos visitantes imaginários do espaço.
“Nós pensamos que éramos mais inteligentes que os insetos.” Personagem Carmen em Tropas Estelares, 1997.
Confesso que, ao assistir Tropas Estelares, por muita vezes torci mais para os insetos do que para aquele milicos facistinhas.
Abordagens tendenciosas dos “visitantes das estrelas”
É muito interessante quando podemos comparar algumas obras com temas semelhantes, mas com abordagens tão distintas. Temos pensamentos conflitantes sobre os seres de outro planeta (que a gente só imagina, por enquanto). A mídia oscila entre o clichê de malvados versus bonzinhos ou vai muito além, desafiando nossos limites de compreensão das enormes possibilidades. As telas, muitas vezes, refletem ou amplificam nossos temores de que seres mais avançados tratem nossa espécie da mesma forma que os conquistadores europeus fizeram com a África, Ásia e Américas. Invasões alienígenas com armas avançadas ou seres malvados que simplesmente querem matar a gente, tudo isso tem lugar cativo nos longas e nas séries.
Lembro do vilão de Flash Gordon: um oriental, provavelmente chinês. Era um tirano dominador contra um americano idealizado: jogador de rúgbi, loiro e valente.
Perguntas que fazem a gente mudar o ponto de vista.
Outra vezes os invasores querem algo nosso: água, órgãos, minérios, escravos. Analisemos o absurdo: uma civilização tão avançada, capaz de viajar através do cosmos e nos ameaçar com sua tecnologia gigantescamente maior que a nossa não teria como obter recursos de uma forma muito mais simples do que invasão militar? A água é bem mais abundante na nossa Galáxia do que se pensava (Independence Day). Roubar nossos corpos (Invasores de Corpos e a série UFO) pra quê se existe a possibilidade de engenharia genética? Minérios preciosos estão espalhados em asteroides sem conta e podem ser sintetizados. Escravizar a gente para quê? Robôs não seriam serviçais mais úteis?
Antropomorfismo
Por outro lado, o medo não se racionaliza tão fácil assim. Se tratamos animais irracionais como nossa propriedade e humanos de outra cultura como animais, por que os caras “lá de cima” não vão fazer com a gente da mesma maneira?
A mídia cria monstros e vilões previsíveis por interpretar, em termos humanos, possíveis inteligências extraterrestres. E se o comportamento de seres realmente alienígenas não correspondesse a nenhuma das nossas experiências terrenas? Cobiça, vingança, curiosidade, xenofobia são coisas que conhecemos bem, mas como entender uma inteligência que fosse movida por outras elaborações mentais? Penso no filme Aniquilação (2018) quando divago por estas ideias. Como interpretar de forma inteligente algo que seja talvez um processo biológico baseado em outras grandezas?
Ufologia e Ufolatria
“Nós queríamos … acreditar. Nós queríamos chamar. Em 20 de agosto e 5 de setembro de 1977, duas espaçonaves foram lançadas do Centro de Voo Espacial Kennedy, na Flórida. Elas foram chamadas de Voyager. Cada uma carrega uma mensagem. … Um disco banhado a ouro que retrata imagens, músicas e sons do nosso planeta, organizado de modo que possa ser entendido se alguma vez interceptado por uma civilização extraterrestre tecnologicamente madura. …Treze anos após o seu lançamento, a Voyager One ultrapassou o plano orbital de Netuno e essencialmente deixou o nosso sistema solar. Nesse período, não houve mais mensagens enviadas. Nem são planejadas.
Nós queríamos ouvir. Em 12 de outubro de 1992, a NASA iniciou o levantamento de microondas de alta resolução. Uma longa década de pesquisa por radiotelescópio, analisando dez milhões de frequências para qualquer transmissão por inteligência extraterrestre. Menos de um ano depois, o senador de Nevada, Richard Bryan, em seu primeiro mandato, defendeu com sucesso uma emenda que encerrou o projeto. Eu queria acreditar, mas as ferramentas foram tiradas. Os Arquivos X foram desligados. Eles fecharam nossos olhos. Nossas vozes foram silenciadas … nossos ouvidos agora surdos para os reinos de possibilidades extremas.”
Prólogo do Fox Mulder no primeiro episódio da segunda temporada de Arquivo X (setembro de 1994).
Ideias preconcebidas alimentadas por todo tipo de paranoia geraram tanto o pânico ufológico, como a ufolatria desvairada. Estes seres não precisam ser anjos ou demônios. Não poderiam ser somente criaturas regidas por motivações menos maniqueístas?
“Nós viemos em paz! Não corra! Nós somos seus amigos!” Impagável fala dos marcianos cabeçudos enquanto atiravam, Marte Ataca (1996)
“Nós temos muitas teorias, poucos fatos.” Dra. Ventress em Aniquilação (2018).
Mudando a forma de ver
Se você acha o xenomorfo que aparece em Alien, o Oitavo Passageiro ( Aliens, o Resgate e etc) como um monstro malvado talvez você pense diferente ao assistir Aliens vs Predador. Se você se identificou mais com o Predador do que a “Mamãe Alien”, acho que você não entendeu bem o filme. Os predadores estão ali caçando por esporte e usaram a raça humana como gado para criar o tais bichos que, a principio, só queriam sobreviver. Tenho certeza que quando você viu o primeiro filme do Predador não sentiu tanta simpatia. Lá o bicho feioso contra quem o Arnold Schwarzenegger lutou estava matando geral. O que mudou? Não me venha com “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Isto é o que eles quiseram vender e venderam muito bem.
Logo chegamos à conclusão que precisamos ver a questão alienígena de forma menos emocional e mais isenta. Podemos concluir que muitas abordagens originais dos seres extraterrenos merecem nossa atenção. Desta forma, temos que repensar os estereótipos de alienígenas diante da possibilidade (ainda que remota) de amanhã desçam e venham com a celebre frase: Viemos em paz, levem-me ao seu líder.